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Um 'achado' em Cabuçu: petiscos do 'Green Ville' levam moradores da 'cidade grande' para área rural de Itaboraí

Nesta reportagem, a série 'A História de Cada Lugar' visita o restaurante de tira-gostos tradicionais que tem atraído clientes de diversas regiões do Rio

relogio min de leitura | Escrito por Felipe Galeno | 28 de abril de 2023 - 13:00
Mauro Magalhães aposta nos petiscos tradicionais, que agradam a todos os públicos
Mauro Magalhães aposta nos petiscos tradicionais, que agradam a todos os públicos -

O bairro de Cabuçu, em Itaboraí, não é exatamente o ponto mais badalado da região metropolitana. De "metropolitano" a região não tem muito, como não deixam negar o ritmo desapressado do clima rural e a distância entre as simples casas do local. No caminho que leva moradores de São Gonçalo e Niterói até lá, o número de estabelecimentos, por exemplo, vai ficando cada vez mais escasso quanto mais próximo chega-se ao bairro.

Cabuçu não parece ser, portanto, o ponto ideal para abrir um restaurante que tenha qualquer objetivo além de atrair clientela local. Mesmo assim, foi o ponto que o aposentado Mauro Magalhães, de 59 anos, escolheu para montar seu próprio "espaço gourmet" e, apesar da distância, tem sido para esse destino remoto que ele tem atraído clientes de diversas regiões do Rio. O atrativo: petiscos.

“Tem gente que vem do Rio para provar os petiscos, gente que vem do Rio, de Itaipuaçu, de Niterói, de São Gonçalo. E começa a ir 'linkando' outras pessoas, os clientes vão recomendando e no boca a boca deu bom”, conta o proprietário do Green Ville, restaurante especializado em petiscos de porco na região de Vila Verde, espécie de sub-bairro em Cabuçu.

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As ruas pacatas do lugar são muito bem conhecidas por Mauro, que, apesar de ter trabalhado a vida toda em centros comerciais urbanos, nasceu, cresceu e viveu a vida toda no bairro rural. Os 37 anos que passou trabalhando como bancário na “cidade grande” sempre foram marcados pelo sossego de casa entre um dia e outro. Depois que se aposentou, surgiu o desejo de inovar e levar para sua terra um tipo de petiscaria diferente.

“Aqui tem lugares voltados também para porco, com torresmo muito bom, por exemplo, mas o ambiente é diferente. Como tive essa oportunidade de fazer um ambiente diferenciado com o dinheiro da minha aposentadoria, quis criar um ambiente pensado para atrair a família”, ele explica.

A imagem de ambiente é uma das coisas a que o aposentado mais se dedica a manter no Green Ville. “Eu prezo por ser um restaurante familiar. Já teve diversas propostas de colocar aqui, por exemplo, sinuca, e eu: 'não, sinuca pode distorcer o ambiente familiar'”, esclarece Mauro, estrito. Isso se reflete na própria gestão, já que sua esposa e filhos auxiliam na administração da casa.

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“Na verdade, eu fiz mais para os meus filhos, mas acabei me envolvendo”, confessa o pai do Marlon, de 32 anos, e da Raiana, 30. “Meu pai era o tipo de pessoa que pensava no hoje, o amanhã a Deus pertence. Com isso aí, eu tirei uma lição para mim. Não queria isso, queria deixar algo para meus filhos. Quando eu me aposentei, eu podia ter pegado o dinheiro e ido viajar, conhecer o mundo. Só que a primeira coisa em que pensei foi no que eu ia deixar para os meus filhos”.

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O restaurante funciona de quarta a domingo, no mesmo terreno onde fica a residência da família. A proximidade de casa os ajuda não apenas a se dedicarem melhor ao local, como também permite a Mauro encontrar mais espaço para aproveitar a aposentadoria nos dias mais tranquilos.

“Segunda eu descanso e terça eu cuido do meu sítio. Corto o mato, ajeito tudo certinho, até ano passado, antes de Deus levar minha mãezinha, cuidava dela. E hoje em dia cuido das coisas aqui e isso é minha terapia. No domingo, ainda encontro um tempinho para jogar meu futebolzinho”, ele se orgulha. Essa tem sido sua rotina há pouco mais de dois anos.

Desafio em meio à pandemia

O restaurante está aberto desde fevereiro de 2021. Abrir no meio da pandemia, ele explica, foi um desafio. Em certo momento do primeiro ano, inclusive, algumas das “ondas” da Covid-19 no país o obrigaram a fazer pequenas mudanças no funcionamento do estabelecimento. 

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“Eu fechei e aí voltou a autorização para abrir, mas com todo aquele protocolo, higienização, álcool nas mesas. Aqui nem batia fiscalização, mas eu mantinha, claro, pela segurança. Até a clientela pegar o ritmo de novo, foi osso”, narra. Além disso, nos primeiros meses de Green Ville, ele também teve o desafio de iniciar um negócio completamente novo, já que nunca havia trabalhado no ramo.

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“A única experiência que tinha de estabelecimentos assim era de visitas a clientes. Foi um mercado totalmente novo para mim. É claro que trouxe muita coisa do banco pra cá; atender bem, ouvir, se apresentar e ter qualidade nos produtos. O banco é uma escola porque ensina você a tratar bem o cliente. Um cliente satisfeito volta e traz outras pessoas. E é isso que tenho conseguido nesses dois anos de Green Ville”, acrescenta.

Ex-funcionário do ‘finado’ Bamerindus e, depois, do HSBC, a carreira nos bancos é, justamente, um dos maiores orgulhos do empreendedor, que sempre recorre a memórias e aprendizados do antigo trabalho mesmo quando vai falar do novo trabalho: “Para mim, é uma conquista. Viver 37 anos dentro de um banco não é para qualquer um. É muita pressão, muitos obstáculos pelos quais você passa”.

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Entre esses obstáculos, estão, inclusive, uma tentativa de sequestro. Mesmo isso, somado aos cansaços do dia, não foi suficiente para afastar a alegria dele no trabalho. “Tinha dia que eu ficava triste porque chegava a sexta-feira e feliz de chegar segunda para ir trabalhar. E uma coisa que eu adorava era visitar clientes. Tive a oportunidade de ajudar muitos clientes no banco, a levantar clientes. Levei muita volta de cliente também. Faz parte”, avalia Mauro.

Hoje, ele se diz satisfeito com o rumo que a vida tomou na aposentadoria e faz o que gosta. Agora é ele quem recebe visita de outras cidades para sua pequena “roça”, como brinca. É um dos motivos pelos quais os clientes costumam revisitar: a oportunidade de achar um refúgio da correria.

Não se pode negar, é claro, o apelo dos tira-gostos. A quarta da sardinha, quinta da costelinha e sexta do torresmo costumam trazer os mais interessados nos sabores. Os forrós e pagodes nos finais de semana trazem, além desses, os interessados em atrações. O que fica sempre, no meio de tudo, porém, são os petiscos de porco, o carro-chefe e coração do estabelecimento, como Mauro esclarece.

Resenha degustativa
 

Antes de falar sobre os pratos, acho importante destacar que o tal “repórter que vos escreve” não consome bebida alcoólica, e isso pode ser um desafio na hora de falar sobre tira-gostos. Degustadores mais puristas diriam que as opções do cardápio do Green Ville não foram feitas para serem provadas sem o acompanhamento de uns copos de cerveja. O autor desta matéria discorda; o real valor de um petisco só se prova quando ele permanece interessante mesmo despido do apoio de etílicos.

Julgando dessa maneira, a culinária do Green Ville passa no teste com louvor. A panceta e o torresmo, sobretudo, são um deslumbre com qualquer coisa, seja álcool, suco, água ou, quiçá, até a seco. A dupla de petiscos principais da casa é deliciosa e se conversam em termos de sabor. Por mais que não tentem reinventar a roda, os dois pratos de porco têm uma clara assinatura culinária por trás deles, o que ajuda a trazer coesão às porções servidas pela casa.

A panceta, em especial, se destaca na brincadeira das texturas, com a crocância de fora e a maciez da carne por dentro. O torresmo mira mais no crocante e acerta, “pururucado” na medida certa. Fecha o trio de porcos a costelinha, que, mesmo menos marcante que os outros dois, se destaca. É mais rústica que de costume e combina bem com um limão espremido.

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Os petiscos de galinha são um pouco mais divisivos e, de certa maneira, pregam mais aos convertidos. O controverso pé de galinha, por exemplo, não é glamourizado ou adaptado para quem já tem antipatia por ele. Quem o deixa de provar, porém, perde o tempero maravilhoso que cobre o petisco. Ele traz ainda mais suculência e complementa bem a textura mais gelatinosa do pé, que é menos assustadora e mais divertida do que seus detratores fazem parecer.

Já a moela, bastante macia, é mais acessível. O tempero é um pouco similar ao do pé de galinha, o que contribui para o senso de coesão e identidade nos “gostos” da casa, mas flerta um pouco mais com o apimentado. Passa longe de ser intenso demais, mas encontra no sabor mais ardido o diferencial que o prato precisa pra entrar no “repeat”. E funciona; como o torresmo, é daqueles que você vai pegando aos pouquinhos e, quando percebe, já limpou o prato. Os preços das porções variam a partir de R$ 20.

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Serviço

Green Ville

Rua Francisco Magalhães, qd. 4

Vila Verde, Cabuçu, Itaboraí

➢ Este artigo não é um texto publicitário e reflete a opinião do repórter no momento da entrevista. Valores e condições de atendimento podem sofrer alterações algum tempo depois da publicação. 


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