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"Ele não era um monstro, estava doente e amava a mãe incondicionalmente", diz família de jovem que matou a mãe em SG

Em surto, após matar a mãe com cortes no peito, jovem afirma que a curou de um câncer

Escrito por Redação | 14 de agosto de 2020 - 11:55
Atencioso e amoroso com a família, Paulo matou a mãe e ainda não sabe o que fez
Atencioso e amoroso com a família, Paulo matou a mãe e ainda não sabe o que fez -

"Foram duas semanas de lutas, de ida ao hospital e de tentativas de marcar uma consulta para ele. Meu sobrinho estava em surto psicótico e a falta de atendimento deixou ele chegar onde chegou. Eles se amavam. Era só minha irmã e ele. Um amor incondicional de mãe e filho. Eles faziam tudo um pelo outro. Mas, em surto, ele começou a dizer que ia curar um câncer que estava no peito e na barriga da mãe. Passou a ficar pelado no sol e comer as folhas da bíblia. Foram duas semanas de portão trancado para ele não fugir pelado e nos últimos dias chegamos ao ponto de ter medo dele. Ele começou a falar que era Deus e que ia curar minha irmã. Até que chegou a segunda-feira. E eu vi o corpo da minha irmã no chão do quintal. Minha irmã estava morta e meu sobrinho não sabia o que tinha feito. Quando ele me viu, ele chegou a dizer que tinha conseguido curar a mãe. Ele estava surtado e, ainda assim, foi brutalmente espancado com pedras e paus. Não foi morto porque eu pedi de todas as formas que pude. Ele também é vítima nessa história toda. Sei que ele precisa pagar, mas tem que pagar numa unidade psiquiátrica, não em um presídio comum. Meu sobrinho precisa ser tratado".

A fala cheia de lembranças doloridas é  da vigilante Vanessa Rodrigues de Oliveira, de 40 anos, tia do entregador de lanches Paulo Henrique da Silva Faria, de 23 anos, que, no último dia 27 de julho, matou a própria mãe, durante um surto psicótico. A vítima, Paula Valéria da Silva Faria, de 40 anos, foi assassinada com cortes no peito e na barriga. O filho achava que poderia curar um câncer nela. Porém, a cuidadora de idosos, que realmente teve um câncer de mama, já havia sido operada e estava curada há meses.

Na cena do crime, enquanto Paulo Henrique dizia ter curado a mãe, Vanessa chorava a morte da irmã, até que populares começaram a espancar o jovem. A barbaridade aconteceu diante dos olhos de Vanessa e, em frente ao corpo da mãe do acusado,  que apesar de ter sido morta na cozinha da casa, foi arrastada pelo filho até o quintal, onde vizinhos viram e chamaram pela vigilante, que era vizinha da irmã.

Como a própria Vanessa resumiu no início da entrevista, não foi nesse dia que a luta da família começou. Mas semanas antes do crime, quando Paulo Henrique tentou se matar, se jogando do segundo andar de onde morava com a namorada, em Araruama.

Depois de falhar, ele fugiu do local, abandonou a própria moto e pediu carona na estrada para chegar até o Porto Novo, onde a família morava, na comunidade do Pombal em São Gonçalo.

"Ele chegou e a luta da minha irmã começou. Como estamos vizinhas eu lutava junto com ela. Ele ficava pelado no sol. Dizia coisas absurdas sobre a bíblia. Dizia que era Deus. Comeu folhas da bíblia por vários dias seguidos, foram 14 dias de lutas diárias", recordou Vanessa.

Até que exatamente uma semana antes de matar a mãe, Paulo Henrique ficou pelado no meio da rua. A ambulância foi chamada e ele encaminhado para um hospital psiquiátrico em São Gonçalo. "Como ele ficou pelado no sol por muito tempo, chegou lá super quente e mandaram ele para o Pronto Socorro para fazer exame de Covid-19. Lá ele foi praticamente dopado e depois liberado para vir para casa. Seguimos nossa luta pela semana toda".

No domingo antes do crime ele chegou a assustar a mãe e a tia. "Ele já estava mais violento. A gente já estava ficando com medo dele. Até que na segunda, 8h35 da manhã, um vizinho me chamou no portão.  Ele perguntou se eu tinha tomado meu remédio de pressão e me disse que era para ir ao portão. Pelo muro eu já vi minha irmã caída. Mas eu ainda achei que ela só estivesse desmaiada. Até que cheguei perto e a vi repleta de sangue. E meu sobrinho dizendo que tinha curado a mãe. Ele nao sabia o que tinha feito. Aliás, ele não sabe até hoje. O estado mental dele é grave", afirmou Vanessa.

Agentes da Divisão de Homicídios foram ao local, periciaram o corpo da Paula e levaram o acusado para o Hospital Estadual Azevedo Lima, no Fonseca, em Niterói, onde ele ainda está internado, em estado muito grave.

"Ele apanhou muito. Está de fraldas, em estado vegetativo mesmo. Se ele conseguir sair dessa, a gente só pede que ele vá  para um presídio psiquiátrico.  Ele tem que pagar, eu sei. Mas ele precisa pagar da forma correta, ele está  doente", disse Vanessa.

Antes dos surtos a relação de Paulo Henrique com a mãe era de dedicação é amor. "Ele foi criado só por ela. Eles tinham uma relação linda, de parceria e cumplicidade. Ele jamais, em sã consciência, faria isso com ela. Jamais. Todos que o conhecem sabem disso. Por isso temos tanta gente lutando para provar que ele é  um bom rapaz. Não é  justo ele ganhar essa fama de criminoso que ele não é.  Ele é  doente" finalizou a tia do rapaz.

Falta de empatia

Além de todo sofrimento por perder a irmã e ver seu sobrinho, que até então era considerado um bom menino, carinhoso e atencioso com a família, em estado vegetativo, Vanessa, -que luta contra um câncer e sofre de hipertensão - vem sofrendo com ataques digitais e recebe constantemente mensagens de ódio.

Ela precisou desativar seu perfil numa rede social, mas as mensagens continuam chegando.

"Eu desativei minha página, mas por outros meios eu continuo recebendo mensagens absurdas. Hoje de manhã mesmo, uma menina mandou mensagem questionando se o 'monstro' do meu sobrinho ainda estava vivo. Eles desejam a morte da pessoa sem ao menos saber da história. Por isso eu resolvi falar. Para as pessoas entenderem que ele está  doente e que tudo que aconteceu não foi por crueldade e sim por doença".

Ela ainda acrescentou um pedido. "Eu só queria que as pessoas entendessem que a família já está sofrendo muito. Parem de nós atacar com mensagens de ódio, por favor", clamou a vigilante.

Corrente de oração

No próximo domingo (16), às 14h,  Vanessa fará uma corrente de oração pela vida do sobrinho na Praça Ex-combatente, no Patronato, em São Gonçalo. Qualquer pessoa é  bem vinda e a intenção do encontro é  fazer um clamor a Deus pela vida do jovem, que ainda corre risco de morte.

Leia mais em: Homem mata a mãe e depois é espancado por traficantes em São Gonçalo

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