Do tráfico ao esporte: Skatista gonçalense será tema de livro

Daniela Scaffo 

A história do jovem Anderson de Oliveira Paixão Pereira, mais conhecido como Anderson Stevie, de 27 anos, morador do bairro Almerinda, em São Gonçalo, que se envolveu com o crime, foi preso duas vezes, mas conseguiu dar 'a volta por cima' graças ao skate, será contada em um livro.

O autor, o jornalista Victor Costa, de 31 anos, intitulou o livro de "Entre o skate e o tráfico". O trabalho começou a ser escrito há dois anos, no início de 2017, após o jornalista ter contato com o skatista gonçalense através de uma reportagem.

"Foi a história mais impressionante que eu encontrei na minha carreira de jornalista. Não poderia parar somente em uma reportagem. Era preciso mergulhar fundo nela e transformar em um livro. Senti como se fosse um chamado, algo maior mesmo. Como se fosse um dever colocar essa história em um livro para que ela pudesse chegar ao maior número possível de pessoas", explicou Victor, que atualmente trabalha como jornalista freelancer e como redator e produtor de conteúdo em uma agência de branding.

Mas, para que a obra seja lançada, é preciso arrecadar dinheiro para cobrir os custos de produção e impressão da primeira edição do livro. Para isso, Anderson e Victor lançaram uma campanha de financiamento coletivo no site Benfeitoria:www.benfeitoria.com/entreskatetrafico.

O objetivo do financiamento coletivo é arrecadar R$25 mil. Cerca de 28% da meta já foi conquistada. É possível fazer doações de R$15, R$35, R$50, R$70, R$220, R$500 e R$1500. Os doadores de cada um desses valores ganharão recompensas, como mensagem de agradecimento, livro digital, livros impressos e até mesmo o nome nos agradecimentos especiais.

"O legal dessa campanha de crowdfunding é que em 90% das recompensas, a pessoa ganha o livro em troca, funcionando como uma pré-venda do livro. O livro digital (ebook) sai a R$35 e o físico a R$50. A maioria dessas campanhas pedem uma contribuição e em troca entregam um cartão postal com agradecimento, algo assim. Na nossa, a pessoa ganha o livro mesmo. Até porque queremos que as pessoas leiam o livro, que chegue ao maior número de pessoas possível", contou o jornalista.

O valor será investido na impressão de mil exemplares na gráfica, capa do livro, diagramação do livro, revisão do manuscrito, contrato com advogado, distribuição das recompensas da Benfeitoria, passagem de Anderson dos EUA para o Brasil para o lançamento e lançamento com sessão de autógrafos.

O lançamento do livro será no meado de novembro. O local e data ainda não foram confirmados, mas a expectativa é que aconteça em um campeonato de skate. 

O livro - O livro é a primeira biografia de um skatista brasileiro. Como a história de Anderson transcende o mundo do skate, houve uma preocupação de Victor em escrever uma história plural, com uma linguagem simples. 

Segundo o autor, o objetivo é fazer com que essa história chegue ao maior número de pessoas possível. Afinal, é uma história que precisa ser contada.

O trabalho começou no início de 2017 logo após a reportagem para O Globo. Em um primeiro momento, Victor trabalhou na parte de investigação até montar a primeira versão do livro. Com ela pronta, os dois (Victor e Anderson) sentaram-se juntos para acertar todos os detalhes. 

Em uma segunda etapa, Victor foi atrás das pessoas que passaram pela vida de Anderson para ter uma outra visão dos fatos. A partir de então a primeira versão do livro foi montada. 

"O livro, enfim, está pronto. Foram dois anos de trabalho. Estou muito feliz com tudo que está acontecendo na minha vida. Só tenho a agradecer a Deus e a todos que já me ajudaram desde o início. Sem dúvidas, esse livro irá inspirar a classe menos favorecida a acreditar nos seus sonhos e correr atrás", diz Anderson Stevie, que agora está em Barcelona andando de skate.

O skatista - Em 2013, Anderson decidiu largar o crime e durante os seis meses que estava na sua segunda passagem pela prisão, treinava em cima de seu skate invisível.

A história de Stevie com o skate, começou quando ele tinha 14 anos e praticava o esporte com amigos da escola e em uma praça da cidade. Aos 18, ele ingressou de cabeça no tráfico de drogas. Foi com essa idade, que ele foi preso pela primeira vez, quando apontava uma arma para a entrada da favela, sendo solto um mês e meio depois para aguardar o julgamento em liberdade. 

Ele foi preso novamente enquanto 'trabalhava' na boca de fumo. Dessa vez, a passagem durou seis meses e foi na cadeira em que Anderson percebeu que a única maneira de sair do crime era através do skate. 

Ele faz parte do coletivo Ademafia, com 174 mil inscritos no Youtube, e seu perfil no Instagram tem mais de 38 mil seguidores.