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Estado abandona construções milionárias em Niterói e São Gonçalo

Prédios com obras inacabadas estão totalmente depredados

Escrito por Redação | 16 de setembro de 2019 - 08:15

Por Daniela Scaffo

Na última semana, o governador do Estado, Wilson Witzel declarou - durante evento de inauguração da central de vigilância no Complexo Penitenciário do Gericinó, em Bangu - que irá aterrar o buraco onde funcionaria a estação de metrô da Gavéa, na Linha 4. Segundo estudos do Tribunal de Contas do Estado, só para estabilizar a estrutura que está causando perigo nas construções do entorno, o Estado deveria fazer novos investimentos de R$300 milhões nas obras, que estão paradas desde 2015.

Mas essa não é a única obra abandonada pelo Governo do Estado nos últimos anos, que não tiveram retorno. Mais de R$ 45 milhões já foram retirados dos cofres públicos e gastos apenas nos municípios de São Gonçalo e Niterói, em duas unidades de saúde que não saíram do papel. 

Um dos casos é o Centro de Diagnóstico por Imagem, chamado Rio Imagem II, que foi construído no terreno do antigo Hospital Santa Mônica, no Centro de Niterói. O projeto do Governo do Estado do Rio custava R$ 23 milhões e a obra estava prevista para ser concluída em dezembro de 2014.

Na época, o Hospital Santa Mônica foi implodido e gerou uma gasto de aproximadamente R$ 2 milhões para a liberação do terreno onde seria construído um laboratório para fazer exames de imagem gratuitamente. Posteriormente, foram investidos mais R$ 3 milhões para remoção dos entulhos que restaram no terreno, limpeza do local, terraplanagem, fundação e contenção.

"Há cerca de dois meses, os trabalhadores pararam de vir para essa obra. Eles vinham de 10 em 10 e nada era feito, pois precisa de uma equipe para trabalhar nessa estrutura toda. Moro aqui desde 1982 e estava com esperanças de sair um hospital desse porte na nossa região. Nem precisava ter implodido o Santa Mônica na época, dava para fazer algo agradável para a população usando a mesma estrutura do antigo hospital, e em menos de um ano", disse a copeira hospitalar, Rosângela José dos Santos, de 51 anos.

No lugar do Rio Imagem II, restam apenas alicerces inacabados e mato. O alojamento dos operários foi, inclusive, invadido e virou reduto para criminosos. Com apenas 13% das obras concluídas, os moradores da região precisam se deslocar até a capital fluminense para realizar um exame que poderia ser feito a poucos minutos de casa.

"Eu, assim como todos os moradores daqui, tem medo de passar perto desse terreno abandonado. As vezes, algumas pessoas arrombam os tapumes e e entram aí. Imagina se algum desses homens puxam uma moça para dentro desse terreno? Mata a pessoa e ninguém vê. Tinha que ter, pelo menos, um vigilante com escala 12x36 tomando conta", emendou a copeira.

Os moradores da região ainda denunciaram o roubo das vigas de sustentação que foram deixadas no local. Segundo informações, um grupo chegava de carro ao local, arrombava os cadeados e levava os materiais abandonados. 

Abandono do Iaserj - Enquanto as estruturas dos hospitais não são finalizadas, outros prédios do governo do estado estão sendo abandonados pelo poder público. Um deles é onde funcionava o Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro (Iaserj), situado na Rua Saldanha Marinho, em Niterói.

As rachaduras expostas e falta de pintura simbolizam o abandono da saúde no estado. Na fachada, blocos ameaçam cair nas calçadas e provocar um acidente em quem passa perto do local. 

O funcionário público Gilberto Nogueira, de 51 anos, lamentou o abandono do Iaserj. Ele contou que, durante anos, ele e seus filhos foram atendidos com excelência pela equipe que trabalhava no local. 

"Meus filhos foram a pediatras aqui. Quando a minha caçula tinha 10 anos, fez um tratamento fonoaudiólogo no Iaserj e ficou com a fala completamente recuperada. Eu também usei o local para vários fins. Só tenho a lamentar pelo abandono desse local, que era tão importante para os funcionários públicos e seus familiares", declarou Gilberto.

Hospital da Mãe também está no esqueleto - O que seria a primeira maternidade estadual de São Gonçalo, também não saiu do esqueleto. As obras deveriam ter sido entregues em 2013 e nelas já foram gastos mais de R$ 40 milhões. A obra inicialmente foi orçada em mais de R$ 37 milhões, e apenas 27% do edifício foi concluído.

O projeto inicial do Hospital Estadual da Mãe previa que um andar inteiro do prédio de cinco pavimentos fosse destinado a uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) neonatal com 36 leitos, que não existe na rede pública de saúde da cidade. Neste primeiro andar, haveria recepção, área de espera, consultórios, quatro salas equipadas com ultrassom, Raios- X, entre outras dependências.

No segundo andar, funcionariam 40 quartos com capacidade para dois leitos cada, totalizando 80 leitos. O terceiro pavimento abrigaria seis UTI’s para as mães, além de quarto de isolamento e um materno. No quarto andar, estariam localizadas 14 salas de pré-parto, parto e pós-parto; três salas de parto cirúrgico e uma sala para parto normal. Haveria, ainda, um espaço para observação do recém-nascido. O último andar abrigaria a sala de máquinas.

Em outro prédio de um pavimento, que estava sendo construído ao lado, funcionaria a Clínica da Mãe com recepção, 14 consultórios, salas para coleta, ultrassons e dependências administrativas.

O local realizaria 10 mil consultas e cerca de 800 partos por mês, desafogando a maternidade municipal, em Alcântara. Com o não retorno das obras, o dinheiro público usado pode ser perdido, já que a construção está se deteriorando.

"Seria bom terem terminado esse hospital, que seria um ótimo apoio para as mães. Infelizmente está só na carcaça. Esse é o retrato de que o povo gonçalense está abandonado mesmo. Eu tinha muita esperança de que eles fossem começar e concluir essa obra, mas agora não tenho mais", contou a vendedora que trabalha no local há sete anos, Socorro Oliveira, 47.

Em resposta, a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Obras (SEINFRA) informou que "existe o interesse em dar continuidade às obras paralisadas que se apresentarem viáveis. Outrossim, face ao caráter multidisciplinar, para a continuidade as obras faz-se necessário o entendimento com os demais órgãos do governo envolvidos para conjuntamente compor proposições viáveis e sustentáveis, considerando as peculiaridades do contrato e ainda as condições financeiras do Estado do Rio de Janeiro".

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