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'Niteroiense de SG' apaixonado pela Argentina compartilha sua torcida para final da Copa

Professor e compositor define paixão pelo futebol argentino como uma “estética de vida”

Escrito por Felipe Galeno | 16 de dezembro de 2022 - 16:44
Filósofo passou a torcer para a Argentina após um encontro com o ídolo Maradona
Filósofo passou a torcer para a Argentina após um encontro com o ídolo Maradona -

Quem escuta os gritos apaixonados de “vamos, vamos a ganar” vindos de uma residência no meio do bairro Rio do Ouro provavelmente imagina que o torcedor emocionado é um argentino que vive em São Gonçalo. Na verdade, porém, é bem provável que o autor do canto seja Felipe Filósofo, professor de filosofia e compositor de 41 anos que não tem vergonha de externar sua torcida pela equipe dos ‘hermanos’.

Nascido em Niterói, ele se autodenomina “fanático” pela Seleção da Argentina, equipe para a qual planeja torcer vigorosamente no próximo domingo (18/12), na partida final da Copa do Mundo 2022. Essa paixão pela camiseta branca e azul, porém, faz parte de sua vida desde muito antes do mundial no Catar.

“Em 89, quando eu tinha por volta de oito anos, teve um jogo entre Argentina e Uruguai no Maracanã. Não lembro como, mas meu pai arrumou um jeito de eu conhecer pessoalmente o Maradona. Ele foi muito atencioso, e eu prometi para ele que eu ia torcer pela seleção da Argentina no outro ano”, relembra ele.

Foi nesse encontro com o ídolo do futebol latino - que se repetiu na mesma época, quando Felipe encontrou Maradona em Copacabana - que começou a história de amor. Desde então, torcer pela Argentina é não apenas um hobby, mas um dos afetos primordiais da vida do professor.

“Como eu olho para a vida com um olhar poético e filosófico, eu acredito muito na força do afeto. O futebol não é diferente das nossas relações amorosas da vida. A relação que nos move no futebol é a do amor. Um amor violento, forte, intenso. E o amor não está no âmbito do racional, da argumentação; é afeto”, explica o torcedor.

 

Em sua vida, Felipe carrega também alguns outros afetos muito importantes. Um deles está no ‘sobrenome’ artístico que tomou para si. A Filosofia já fazia parte de seu círculo de interesses antes de iniciar a graduação, e daí veio o apelido “Felipe Filósofo”. Hoje Doutor nos estudos filosóficos, ele explica que o título se tornou mais do que um alter-ego.

“O Felipe Filósofo não é mais um nome artístico. Ele já tomou conta da minha existência. Meu olhar para o mundo já é o olhar do Felipe Filósofo, que é um olhar poético”, declama. Essa visão poética ele aproveita em suas aventuras com o samba, gênero musical que completa a tríade de paixões fundamentais da vida do filósofo fã da Argentina.

Como compositor, ele já conquistou estandartes de ouro com temas de enredo produzidos para a Unidos da Viradouro, além de ter trabalhos reconhecidos com outras escolas, como a Acadêmicos do Sossego, do grupo de acesso, e a Corrientes, uma escola argentina. Sua marca registrada são as experimentações na hora de escrever; já teve letra de samba sem verbo, sem rima e, mais recentemente, em formato de carta.

“Quando eu vou compor um samba, eu posso até explicar - e eu explico, porque tem que apresentar uma justificativa para os jurados do samba-enredo. Mas o processo criador trabalha com um ‘insight’, com a intuição”, comenta o niteroiense. Esse princípio, o da intuição, é a chave, nas palavras dele, para entender suas paixão no esporte.

“No Ocidente, a gente fala muito do racional, mas o intuitivo a gente esquece, e por isso que fica sem entender um brasileiro apaixonado pela Argentina”, acredita Felipe. Apesar disso, ele conta que seus amigos e conhecidos, mesmo sem entender, nunca tiveram grandes problemas com sua opção de torcida.

 

“Eu tenho um jeito meio brincalhão, porque eu acho que na vida a gente tem que ter humor. E acho que, por causa disso, nunca teve caso de alguma pessoa me enfrentar, querer brigar comigo. Pelo contrário; eu ia com a camisa da Argentina para jogos de outras seleções no ‘fan fest’, o pessoal ria, brincava”. Na opinião do professor, principalmente quando o assunto é a rixa entre brasileiros e argentinos, o segredo é a amizade. 

“Tem uma gozação, uma brincadeira, mas nossa relação, entre Brasil e Argentina, é boa. A gente tem muitos argentinos que vêm para cá, muito brasileiro vai para lá. Eles apreciam muito o samba, a gente aprecia o tango. Não estou dizendo que é isento de problemas, mas também tem suas belezas”, ele afirma.

E se depender de Felipe, são as belezas que importam. É beleza, ele adianta, que ele espera ver em campo no trabalho do elenco argentino domingo (18/12). "Não tenho dúvida de que, se entrar um primeiro gol nos 15 primeiros minutos de jogo, tá arriscado de a Argentina golear a França. Porque os franceses jogam aberto, e, em um jogo aberto digno, a Argentina sempre ganha", ele prevê. 

Para essa vitória, o trunfo será, garante o filósofo, a performance de um certo ídolo argentino: "Nós temos um deus em campo. O Messi vai fazer uns dois gols, vai ser o artilheiro da Copa, consagrar a carreira dele e aí ele volta para o planeta de onde ele veio. É necessário que ele seja campeão, porque o Messi já nem pertence mais a Argentina, ele pertence ao cosmos". 

Caso a vitória não venha no domingo, sem problemas. Felipe Filósofo sabe que continuará torcendo com a mesma empolgação, já que, na vitória e na derrota o afeto pela Argentina está entre as coisas que fazem sua vida valer a pena. "Se eu tenho uma certeza na vida, é que viver é se entregar intensamente a coisas que nós amamos", conclui.

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