Portugal vira 'porto' de imigrantes oriundos de São Gonçalo e Niterói

Por Rennan Rebello

Com o Brasil em crise econômica e problemas sociais, muitos brasileiros idealizam uma vida na Europa, e Portugal, tornou-se uma rota principal dos 'brazucas' devido ao idioma e ascendências lusitanas, que em tese, seriam elementos para uma jornada bem sucedida em território lusitano ou em outros países europeus,  já que com passaporte português em mãos, abre-se oportunidades profissionais em nações que compõe o bloco da União Europeia. E em São Gonçalo e Niterói, a mudança para a 'terrinha' tem sido uma constante em busca de uma 'eldorado' distante de sua pátria mãe.

Os batuques do tradicional pagode do grupo gonçalense Toque Social ecoam desde 2006, além-mar, na ‘cidade invicta’ do Porto, que passou a ser conhecida desde que D.Pedro I (conhecido como D.Pedro IV, em Portugal) e sua tropa resistiram aos ataques e conseguiram derrotar o exército de seu irmão D.Miguel, no século XIX, assim retomando o trono usurpado para sua filha D. Maria II. E neste cenário histórico, os pagodeiros vem se destacando nos palcos lusos representando a cultura brasileira.

“Através do ex-goleiro do Vasco, Hélton (ídolo do FC Porto) que era nosso patrocinador, estamos aqui até hoje, inclusive já tocamos na Inglaterra, Espanha e França. Além de nossas músicas, tocamos canções de nossas referências como Zeca Pagodinho. Apesar de termos planos de fazer uma turnê pelo Brasil, estamos focado em seguir por aqui e trabalhar pela Europa”, disse o vocalista Carlinhos Black, que era morador de Santa Catarina, em São Gonçalo.

Também ao norte do país, na terra do escritor do romance “As Pupilas do Senhor Reitor”, do luso e portuense Júlio Dinis, o Engenheiro de Telecomunicações, Rodrigo Guerra, 44, fundou recentemente a sua empresa no ramo de sua formação e passou a viver com sua esposa, a bibliotecária Marcelle Rebelo, 43, e o filho do casal, o pequeno Miguel, de 8 anos. A família oriunda de Itaipu, Região Oceânica de Niterói, está vivendo há menos de um mês no Porto e nutrem expectativas positivas sobre a ‘nova pátria’.

“Nós escolhemos Portugal devido a significativa mudança em nossa qualidade de vida e por causa do ambiente político no Brasil. A adaptação está correndo bem e os ‘tugas’ (portugueses) são muitíssimo amáveis. Depois de cinco anos, Marcelle e eu teremos direito a naturalização e Miguel como é criança, após dois anos terá direito a ser naturalizado português também (este benefício é concedido a menores de 18 anos que estejam legalmente no país)”, explicou Rodrigo que trouxe consigo, seu concunhado Wellington Brito, 28, que irá trazer a sua esposa graduanda em pedagogia Fernanda Rebelo, 34, seus filhos Pietro, 6, e Giulia, 4, e enteado Kauan, 13.

“Trabalho como técnico na empresa do Rodrigo, e minha intenção é trabalhar aqui e conseguir a nacionalidade, caso algo não dê certo por aqui, almejo ir a outros países da Europa, porém, meu intuito é ficar aqui, em Portugal, com minha família”, complementou Wellington. Porém, ‘nem tudo são flores’, já que existem adversidades que fazem brasileiros quererem retornar e nestes casos, a advogada paulista Catarina Zuccaro, que reside em Portugal e trabalha no escritório TZR Advogados, que atua no auxílio para quem quer imigrar também, ajuda nestas situações. “Através do (programa) pro-bono ajudamos estas pessoas desde que mostrem sua insuficiência econômica, ficamos com as pendências: contas, aluguéis, casas para entregar e ajudamos na venda dos bens”, explicou Catarina que trabalhou no processo de cidadania do grupo Toque Social.

Procura na região faz empresa especializada ir ao Centro de Niterói

A reportagem de O SÃO GONÇALO procurou o escritório ‘Cidadania Já’ especializado em executar trâmites para vistos e cidadania portuguesa que funciona há cerca de três meses, no 5º andar do Plaza Shopping, no Centro de Niterói, lugar escolhido por conta da alta procura de moradores da Região Metropolitana do Rio que planejam emigrar do Brasil.

“Nossa matriz fica em Botafogo (Zona Sul do Rio) e temos escritórios em São Paulo e Tondela (cidade do distrito de Viseu, em Portugal) e atuamos neste mercado desde 2016. Resolvemos ter uma base aqui, porque detectamos o grande interesse de pessoas desta região, principalmente daqui de Niterói e São Gonçalo. Nós trabalhamos com vistos e fazemos a triagem dos interessados em adquirir a cidadania por atribuição, ou seja, de pai para filho ou de avô para neto. No entanto, nem todos têm esse direito e nós trabalhamos apenas em casos que temos certeza de que iremos concluir o processo”, explicou o Executivo de Vendas, Gabriel Pelech.

Desta forma, descendentes de judeus sefarditas (perseguidos pela Santa Inquisição na Península Ibérica nos anos de 1478 a1834, em Portugal e Espanha) são descartados por serem subjetivos legalmente assim como os bisnetos, trinetos e tataranetos que não possuem mais direito à cidadania por atribuição e a nacionalidade só poderá ser adquirida por naturalização (após residência fixa de cinco anos).

“Para quem quer possuir residência, há vistos de estudante e de empreendedor, sendo que para este último, é necessário comprovar Imposto de Renda (IR) no valor de oito mil euros (R$40 mil, na cotação atual) ou dispor desta quantia para depositar em algum banco português além de ter mais cinco mil euros (um pouco mais de R$21 mil) e um plano de negócios de seu investimento. E a partir de cinco anos de moradia (sendo permitido sair apenas duas vezes por ano de Portugal) pode-se solicitar a naturalização. Um dos vistos mais procurados é D7 (para aposentados) que também precisa comprovar IR de oito mil euros mas 25% desta renda será descontada no Brasil, e nesta categoria também segue os mesmos critérios para adquirir a naturalização após o período já determinado além de ficar isento por 10 anos de pagar o imposto português”, finalizou Pelech.

O processo para se tornar cidadão português custa em torno de R$ 2.952 e para outros vistos a taxa é de R$2.714. Aos interessados neste tipo de serviço basta entrar no site:https://cidadaniaja.com.br.