'Rabicó' 'fura' 'Operação Contenção' em São Gonçalo e consegue fugir. Saiba quem é ele!
O '01' do 'Comando Vermelho', segundo a polícia, é capaz de acumular fortunas e usa imagem de comerciante para 'driblar' autoridades. Ele não foi encontrado na ação montada por 2 mil homens

Antônio Ilário Ferreira, hoje com 61 anos, poderia ser mais uma na 'multidão' de retirantes nordestinos que deixaram àquela região do Brasil, ao longo de várias décadas, em busca de uma vida melhor em estados com maior possibilidade de empregos, como o Rio de Janeiro e São Paulo. Na contramão dos sonhos vividos pelos trabalhadores humildes, ele de modesto comerciante na cidade de Mamanguape, na Paraíba, acabou entrando no mundo do crime ainda nos anos 90, quando já morador do Rio, passou a ter contatos com traficantes da facção 'Comando Vermelho'.
Bem articulado e inteligente, Rabicó, empoucos anos, atingiu, segundo a polícia, o posto máximo do comando do tráfico de drogas no Complexo do Salgueiro, composto por oito comunidades, em São Gonçalo e acumula um invejável patrimônio, que inclui pontos comerciais e imóveis, não apenas naquela região, mas também no Nordeste. Levantamentos feitos por setores de inteligência da polícia do Rio apontam que Rabicó conseguemovimentar, mensalmente, até R$ 2 milhões, com a comercialização de drogas, venda clandestina de de TV a cabo, conhecida como 'Gatonet', e a arrecadação de outras taxas de cobrança para a circulação de mototaxistas.

Fortuna - O resultado de uma grande operação realizada há onze anos, por agentes da Polícia Federal, em setembro de 2014, simultaneamente no Morro da Mangueira, em São Cristóvão, no Rio, e no Complexo do Salgueiro, evidenciou a grande capacidade de Rabicó em acumular fortuna. No primeiro local, foram apreendidos nada menos do que R$ 3 milhões escondidos em tonéis. Já em São Gonçalo, a PF conseguiu encontrar outros R$ 500 mil. A polícia também localizou nas duas cidades cerca de 51 quilos de cocaína e maconha, distribuídos em tabletes.

Beneficiado pelo STF
Rabicó foi preso uma única vez em 2008, em Mamanguape, Pernambuco, onde adquiriu uma casa e morava com a família, atuando como empresário do setor de reciclagem, segundo as investigações de policiais da 6ªDP (Cidade Nova), no Rio. Na época, além de ser a principal liderança no Salgueiro, segundo as investigações da Polícia Civil, ele também já atuava como 'matuto', fornecendo cargas de drogas para o Morro do Fallet, no Complexo da Mineira. Em Mamanguape, segundo a polícia, Rabicó procurava levar uma vida reserva, sem evitar ostentação, para não levantar suspeita, apresentando-se como proprietário de uma pequena empresa de material de reciclagem e de uma oficina mecânica.
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Condenado a mais de 27 anos de prisão, Rabicó cumpriu pena em uma unidade prisional de segurança máxima, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Foi beneficiado pela Justiça e solto em 2019. Ele obteve decisão favorável no Supremo Tribunal Federal (STF) que concedeu liminar, permitindo que ele aguardasse em liberdade o pedido de recurso diante do processo que o mantinha preso. Ainda na prisão, acompanhou uma tentativa de golpe de estado em seus redutos no Salgueiro, orquestrada por seu principal 'frente': Thomas Jayson Vieira Gomes, até então conhecido como 2N, que entrou em 'rota de colisão' com o 'chefe' e passou a não cumprir as ordens que eram dadas por ele dentro da cadeia, segundo a polícia.

Em abril desse, Thomas Jayson reuniu seus principais colaboradores e colocou em prática o plano para tentar o golpe, executando a tiros Schumaker Antonácio do Rosário, de 35 anos, o Piloto ou F-1 -que segundo a polícia erao 'gerente' de Rabicó no Jardim Catarina -junto com outros quatro colaboradores. Após as mortes, 2N anunciou em grupos de redes sociais, que estava mudando de facção e que pretendia continuar no comando do tráfico na região. O golpe no entanto fracassou, porque todos os 'gerentes' do tráfico em comunidades ligadas ao CV em São Gonçalo se uniram e montaram um autêntico 'exercito' de homens armados para ocupar o Salgueiro e expulsar Thomas Jayson, que conseguiu fugir antes e se aliou ao Terceiro Comando Puro (TCP),passando a se chamar 3N.
Em novembro desse mesmo ano, 3N acabou morto em uma grande operação realizadas pelas Polícias Civil e Militar no sítio onde se escondia, na região do Cabuçu, área bucólica em Itaboraí, na divisa com São Gonçalo. Por coincidência, a morte dele dele foi no mesmo período em que Rabicó, já em liberdade, passou a articular toda a revitalização da 'linha de comando' no Salgueiro, onde um de seus principais colaboradores, até hoje, segundo as investigações da polícia, é Rafael Teixeira Guimarães, o Funil, que aparece, inclusive, em um dos últimas imagens públicas de Antônio Ilário, no Complexo do Salgueiro. Foi em maio de 2025, pouco antes de uma apresentação do cantor rap Oruam.

Nas imagens, Funil sorridente e de boné, faz o registro em que o 'chefe' aparece vestido de preto e de óculos escuros, ao lado do artista. Na operação 'Contenção' realizada nessa quinta-feira no Complexo do Salgueiro, nem Rabicó e nem Funil foram localizados.

Segundo levantamentos da polícia, Rabicó, é um dos mais antigos membros do Comando Vermelho. A sua posição de grande prestígio na facção deve-se ao fato de ser o que paga somas mais altas em dinheiro para contribuir com a 'caixinha' para manter as atividades da facção. O Salgueiro, a exemplo do que acontece nas comunidades dos Complexos do Alemão e da Penha, é um dos locais mais procurados da capital para servir como esconderijo de criminosos de outros estados que circulam no Estado do Rio de Janeiro.