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Grande Rio tem 10 mil baleados em ações policiais em oito anos

O número de vítimas durante ações policiais corresponde a 59% de todos os baleados no Grande Rio, aponta o Instituto Fogo Cruzado em levantamento inédito

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 14 de maio de 2024 - 09:21
Ao todo, 4.342 pessoas foram mortas e 5.658 ficaram feridas, segundo levantamento mapeamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado
Ao todo, 4.342 pessoas foram mortas e 5.658 ficaram feridas, segundo levantamento mapeamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado -

A região metropolitana do Rio de Janeiro chegou ao marco de 10 mil pessoas baleadas em ações e/ou operações policiais em quase oito anos. Ao todo, 4.342 pessoas foram mortas e 5.658 ficaram feridas, segundo levantamento mapeamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado. A média é de 25 pessoas baleadas por semana, desde 5 de julho de 2016, quando o instituto passou a mapear a região metropolitana, até 18 de janeiro de 2024. As ações e operações policiais são responsáveis por 59% dos baleados na região metropolitana do Rio, que corresponde a 17.024 baleados.

Para acompanhar este levantamento, o Instituto Fogo Cruzado lança o site www.dezmil.com.br, com dados sobre as 10 mil vítimas mapeadas neste período. Entre elas está Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, atingida por uma bala perdida no dia 30 de março de 2017, quando estava na Escola Municipal Daniel Piza, na Avenida Professora Sá Lessa, Costa Barros, zona norte do Rio. A adolescente, que estava no 7º ano, participava de uma aula de educação física quando foi atingida no momento em que ocorria um tiroteio durante ação policial próximo de sua escola.


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O sargento da Polícia Militar Alexandre Moreira de Araújo, de 44 anos, morto a tiros na Favela do Rola, em Santa Cruz, no dia 5 de julho de 2016, foi a primeira vítima de disparo de arma de fogo registrada na base histórica do Instituto Fogo Cruzado. O marco das 10 mil vítimas ocorreu durante um patrulhamento policial na Bela Vista, em Rio Bonito, no Rio de Janeiro.

“O Rio de Janeiro normalizou a barbárie. Aposta-se alto nas mesmas operações com intensos tiroteios há mais de 20 anos. E qual o resultado concreto disso? Nós nos sentimos mais seguros ao fim de uma operação com trânsito bloqueado, aulas suspensas e elevado número de baleados? A verdade é que as operações policiais expõem a população a cada vez mais riscos, e nada muda. O tráfico e a milícia hoje dominam mais áreas do 5, 10 anos atrás. Qual o efeito destas operações que não fazem parte de uma política maior, estruturada e inteligente? Aliás, é emblemático que a primeira vítima destas 10 mil mapeadas pelo Fogo Cruzado seja justamente um policial militar porque nos mostra que ninguém está a salvo quando o Estado opta pelo uso da força ao invés de um planejamento focado em planejamento, inteligência e na preservação da vida”, avalia Cecília Olliveira, Diretora Executiva do Instituto Fogo Cruzado.

Os agentes de segurança representaram 8% dos baleados nestas ações: 157 morreram e 671 ficaram feridos, sendo os policiais militares a categoria mais afetada, com 752 baleados: 138 foram mortos e 614 ficaram feridos. Além disso, 716 pessoas foram vítimas de balas perdidas: 191 morreram e 525 ficaram feridas.

Considerando a faixa etária dos baleados em ações e/ou operações policiais, 55 eram crianças, 244 adolescentes, 9.459 eram adultos e 99 idosos. Houve ainda dois bebês baleados ainda no útero da mãe, e 141 pessoas baleadas sem ter a idade revelada. Os dados sobre crianças e adolescentes baleados no Grande Rio podem ser consultados na plataforma Futuro Exterminado. 47% das crianças e adolescentes foram baleados durante ações policiais.

“Crianças e adolescentes são alvo da violência armada no Grande Rio. Mas também crescem com problemas de insônia, ansiedade e medo, têm seu crescimento duramente afetado. Não são só as marcas físicas que importam, as consequências psicológicas duram uma vida inteira. Não se trata de defender o fim das operações policiais, mas de entender as consequências delas e de insistir que essa não pode ser a única política de segurança pública do Rio de Janeiro. Porque ela simplesmente não dá resultado”, conclui Carlos Nhanga, coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro.

Entre os casos mapeados, Kathleen Romeu foi morta no dia 8 de junho de 2021, atingida por um tiro de fuzil em uma ação policial no Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio. Dias antes, Kathleen havia feito um ensaio fotográfico com o marido para anunciar a gestação de quatro meses e no dia de sua morte, tinha ido visitar a avó.

A violência das ações policiais não se deu de forma igual entre as seis regiões que compõem o Grande Rio. O número de baleados em ações na zona norte é quase 10 vezes maior que o número de vítimas na zona sul da capital. Sozinha, a zona norte concentra mais baleados que a zona oeste, centro e zona sul somadas.

Zona Norte (Capital): 3.001 baleados – 1.226 mortos e 1.775 feridos

Leste Metropolitano: 2.597 baleados – 1.200 mortos e 1.397 feridos

Baixada Fluminense: 2.300 baleados – 1.050 mortos e 1.250 feridos

Zona Oeste (Capital): 1.254 baleados – 510 mortos e 744 feridos

Centro (Capital): 527 baleados – 235 mortos e 292 feridos

Zona Sul (Capital): 321 baleados – 121 mortos e 200 feridos

A capital concentrou mais da metade dos baleados. Os cinco municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro com mais baleados em ações e operações foram:

Rio de Janeiro: 5.103 baleados – 2.092 mortos e 3.011 feridos

São Gonçalo: 1.540 baleados – 699 mortos e 841 feridos

Niterói: 785 baleados – 359 mortos e 426 feridos

Duque de Caxias: 579 baleados – 226 mortos e 353 feridos

Belford Roxo: 457 baleados – 223 mortos e 234 feridos

Entre as vítimas, 1.188 foram mortas nas 295 chacinas policiais que ocorreram no período, sendo a mais letal delas a chacina ocorrida no Jacarezinho, em 6 de maio de 2021, quando 27 civis e um agente de segurança foram mortos. Em novembro de 2023, o Instituto Fogo Cruzado lançou o Estado Letal, um site com todas as chacinas policiais mapeadas pelo Instituto até julho.

Sobre Fogo Cruzado

O Fogo Cruzado é um Instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.

Com uma metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da instituição produz mais de 50 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife, de Salvador e de Belém.

Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real, que estão no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.

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