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Violência e 'guerra': Complexo do Salgueiro teve pelo menos um tiroteio por semana em 2021

Confrontos na região já deixaram diversos inocentes feridos e mortos

Escrito por Claudionei Abreu | 28 de outubro de 2021 - 16:14
Moradores vivem situação de insegurança e medo no Salgueiro, em São Gonçalo
Moradores vivem situação de insegurança e medo no Salgueiro, em São Gonçalo -

Moradores do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, são obrigados a conviver diariamente com a violência, sensação de medo e insegurança. O local é considerado o 'quartel general' de lideranças do Comando Vermelho (CV), principal facção criminosa do estado do Rio de Janeiro. Desde o início do ano, a guerra travada entre forças de segurança e criminosos já deixou diversos inocentes feridos e mortos, entre civis e militares. 

Segundo os dados da plataforma Fogo Cruzado, o Complexo do Salgueiro registrou, entre janeiro e setembro de 2021, um total de 42 tiroteios. Ou seja, a cada seis dias, pelo menos um confronto armado aconteceu na região. Além disso, foram 28 ações da Polícia Militar, 29 mortos e 20 feridos, entre eles um policial militar. Os dados até setembro deste ano já são superiores aos registrados em todo o ano de 2020, quando a plataforma apontou 43 tiroteios, 15 mortos, 13 feridos, entre eles um militar, e 19 ações da polícia.

Nesta quinta-feira (28), mais dois casos entraram para essas estatísticas. Um trabalhador, de 55 anos, foi baleado no abdômen enquanto fazia serviços em uma casa na localidade conhecida como Conjunto da Marinha, no Complexo do Salgueiro. Ele foi encaminhado para o Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), no Colubandê. Na mesma ação, um policial militar do Batalhão de Choque foi ferido durante confronto com criminosos. Ele foi socorrido e levado ao Hospital da Polícia Militar.

A operação realizada nesta quinta-feira foi uma ação conjunta de forças da Coordenadoria de Operações Especiais (Core), o Batalhão de Choque e o 7º BPM (São Gonçalo). O objetivo era retirar barricadas do Complexo do Salgueiro e prender lideranças da facção que atuam no bairro. Até o momento, a Polícia Militar não divulgou informações sobre presos na ação. 

 

'Guerra do Salgueiro' já fez diversas vítimas


Em junho, um rapaz de 29 anos foi baleado após levar a namorada em casa, no Complexo do Salgueiro. Ele deixava o local quando começou um tiroteio entre grupos de criminosos. Ele foi atingido por um tiro na perna esquerda. O jovem foi socorrido pela mãe, que o levou ao Heat, onde recebeu atendimento médico. 

No final de setembro, um idoso de 63 anos foi morto durante uma ação da Polícia Civil no bairro Itaúna, que faz parte do Complexo do Salgueiro. Ele foi atingido por um tiro na cabeça e também foi socorrido ao Heat, mas não resistiu aos ferimentos. De acordo com a Polícia Militar, agentes tentaram abordar um veículo suspeito em uma via principal do Salgueiro, mas os ocupantes não obedeceram a ordem de parada e fugiram para o interior da comunidade. No local, os policiais teriam sido recebidos a tiros. Um dos suspeitos foi preso e o outro baleado.

Outras duas pessoas foram baleadas no mesmo confronto, sendo um vendedor ambulante, que foi socorrido na mesma unidade e liberado, e um suspeito de 21 anos, que ficou internado no hospital sob custódia e perdeu uma perna. A polícia afirmou que, de acordo com testemunhas, os inocentes feridos no confronto estavam atrás da linha dos policiais e foram atingidos pelos criminosos.

Outros dois casos que marcaram a 'guerra do Salgueiro' são os dos jovens João Pedro, de 14 anos, e João Vitor, de 17 anos. João Pedro foi baleado dentro de casa durante uma operação policial no dia 18 de maio de 2020. O jovem foi colocado dentro do helicóptero da polícia e levado pelos agentes para a Zona Sul do Rio. A família, no entanto, só encontrou o corpo do jovem após 17h, no IML de Tribobó, em São Gonçalo. 

De acordo com as informações, o jovem brincava com amigos quando os agentes chegaram até a Praia da Luz, onde João morava. Um dos amigos afirmou que os policiais entraram no terreno da casa e jogaram duas granadas, que detonaram. Logo em seguida, atiraram nas janelas. Ao todo, cerca de 70 disparos foram feitos dentro da residência. O caso ganhou repercussão internacional ao ser denunciado à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Organização dos Estados Americanos (OEA).

Pouco mais de um ano depois da morte de João Pedro, o jovem João Vitor, de 17 anos, foi morto durante uma ação da polícia, também no Complexo do Salgueiro, no dia 20 de agosto. O jovem voltava de uma pescaria com um amigo, que também foi atingido. Os dois foram socorridos e levados ao Heat, mas João não resistiu aos ferimentos. 

Uma das principais testemunhas do caso, o amigo de João Vitor afirmou que os disparos partiram de policiais. "Nós estávamos de moto e devagar. E aí, duas pessoas camufladas falaram: 'para, para, para!'. Antes mesmo que pudéssemos parar, eu escutei vários e vários disparos e todos esses disparos acertaram na gente", contou o jovem em entrevista à TV Globo, em agosto. 

Segundo a Polícia Militar, os disparos que atingiram o jovem e seu amigo teriam partido de traficantes. A corporação afirmou que os criminosos teriam atacado a viatura que fazia patrulhamento no bairro do Itaoca. Ao dispararem contra um blindado da PM, teriam atingido o jovem e João Vitor. A PM informou que montou um cerco no entorno do Complexo do Salgueiro após denúncias de movimentação intensa de traficantes.


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*Estagiário sob supervisão de Thiago Soares

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