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“Você toma dois tiros”: Pastor admite uso de ameaças contra moradores de rua em audiência na Câmara

Wilson Botelho afirmou ter apoio de coronel da PM e defendeu intimidação como forma de "limpar" praça no centro da cidade

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 14 de setembro de 2025 - 10:13
O pastor Wilson Botelho defendeu o uso de ameaças de morte e intimidação como estratégia para expulsar pessoas em situação de rua da cidade
O pastor Wilson Botelho defendeu o uso de ameaças de morte e intimidação como estratégia para expulsar pessoas em situação de rua da cidade -

Durante uma audiência pública na Câmara Municipal de Divinópolis (MG), o pastor Wilson Botelho defendeu o uso de ameaças de morte e intimidação como estratégia para expulsar pessoas em situação de rua da cidade. A declaração, considerada grave e violenta, causou indignação e levou a Câmara a divulgar nota de repúdio, classificando as falas como “"inaceitáveis, repugnantes e incompatíveis com os valores de uma sociedade democrática e com o dever de proteção à dignidade humana".

O posicionamento do pastor ocorreu no último dia 4, durante uma reunião da Comissão de Justiça da Câmara. Na ocasião, várias pessoas tiveram a oportunidade de expressar suas opiniões sobre a situação de pessoas em situação de rua. Foi nesse contexto que Wilson Botelho revelou como ele próprio agiu durante três anos para lidar com a questão na Praça Candidés, o que, segundo ele, teria causado a expulsão de 350 “viciados”, como definiu.




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De acordo com o pastor Botelho, sua estratégia tinha início quando oferecia café e pão para atrair os moradores de rua. Em certo momento, ele chegou a debochar da atitude de doação de comida para essas pessoas, ao dizer que dar sopa era “engordar vagabundo”. Logo em seguida, afirmou que contava com o apoio do “coronel” para agir dessa maneira.

“Dia seguinte eu tinha 10 pessoas comigo. Perguntava para a pessoa, de onde você é ? De Campo Grande. Ah é? Você vai embora agora, você não fica aqui. Se atravessar aquela ponte, amanhã às 4 horas da tarde eu vou fazer seu sepultamento. Só eu dar uma ligada aqui e você tomar dois tiros na cabeça. Entendeu?”, contou Botelho, sobre as ameaças.

Ainda segundo Botelho, “infelizmente”, a polícia não conseguia agir de forma semelhante, pois os agentes seriam punidos e poderiam perder suas fardas. Entretanto, ele, como “cidadão”, podia. No final de sua fala, o pastor foi aplaudido.

Moradores de rua seriam de outras cidades

O pastor ainda contou que as pessoas em situação de rua que dormiam na praça, eram de cidades vizinhas, como Formiga, Nova Serrana, Itaúna e Bom Despacho. Durante sua fala, Botelho acusou as prefeituras de enviar deliberadamente essas pessoas para Divinópolis.

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Uma publicação compartilhada por Prefeito Gleidson Azevedo (@gleidsonazevedovmj)

“Na maior cara de pau, os prefeitos enchem carros de pessoas e jogam aqui na cidade”, falou.

A acusação também foi feita pelo prefeito de Divinópolis, Gleidson Azevedo (NOVO), há cerca de uma semana, no mesmo dia das falas do pastor. O posicionamento do prefeito ocorreu em um vídeo publicado em sua conta nas redes sociais, onde reuniu sua equipe. A denúncia afirmava que existiam duas notificações, das cidades de Nova Serrana e Pedra do Indaiá, de onde pessoas em situação de rua estariam sendo mandadas para Divinópolis “sem o devido processo legal”.

O vídeo foi encerrado com o prefeito alegando que o município cuidaria dos moradores naturais de Divinópolis. Porém, “aqueles que vierem de fora, tamo junto, não”.

Câmara repudia falas

A Câmara Municipal de Divinópolis divulgou uma nota de repúdio cinco dias depois das falas do pastor Wilson Botelho. "As falas registradas durante a reunião são inaceitáveis, repugnantes e incompatíveis com os valores de uma sociedade democrática e com o dever de proteção à dignidade humana", informou a nota.

O posicionamento da câmara foi rejeitar "com toda a firmeza, qualquer incentivo à violência, à intimidação ou à expulsão sumária de pessoas em situação de vulnerabilidade". A retórica de coerção que transforme ações de acolhimento é grave e desumaniza cidadãos que merecem atendimento, políticas públicas e respeito".

Nota na íntegra

"A Câmara Municipal de Divinópolis declara que:

1. Não compactua com quaisquer práticas, que atentem contra a integridade física, a segurança ou a dignidade das pessoas;

2. Repudia veementemente as declarações, que incentivam ou enaltecem a violência e a intimidação;

3. Solicita às autoridades competentes a apuração dos fatos e a tomada das providências legais cabíveis, inclusive quanto a eventuais responsabilizações penais e administrativas;

4. Reafirma o compromisso desta Casa com a proteção dos direitos humanos, com o atendimento digno às pessoas em situação de rua e com a promoção de políticas públicas, que priorizem a assistência, a reinserção e a proteção social;

Exigimos tanto da sociedade civil organizada como das autoridades públicas o compromisso efetivo com práticas que respeitem a lei, a ética e a dignidade da pessoa humana".

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