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Voluntariado: Conheça a Turma da Sopa, que há 13 anos entrega refeições nas ruas de Niterói

Organização conta com 20 voluntários e distribui até 180 refeições por semana

relogio min de leitura | Escrito por Aretha Dossares e Enzo Britto com edição de Cyntia Fonseca | 14 de novembro de 2025 - 16:28
Turma da Sopa
Turma da Sopa -

Toda segunda-feira, há 13 anos, o mesmo ritual se repete na sede simples da Turma da Sopa, em Niterói. Por volta das duas da tarde, as panelas começam a ferver, os legumes são cortados, os potes são empilhados e a cozinha ganha cheiro de solidariedade. 

O grupo nasceu de um gesto pequeno, mas sincero. No início, fazia parte de um projeto ligado a um segmento religioso. Com o tempo, os voluntários decidiram seguir outro caminho, criando uma associação independente, sem vínculo político ou religioso. Hoje, a Turma da Sopa é uma organização solidária com mais de uma década de atuação legalizada e cerca de 20 voluntários fixos, todos movidos pelo mesmo propósito: alimentar quem tem fome.

Turma da sopa
Turma da sopa |  Foto: KIKO CHARRET

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Cerca de 180 sopas são produzidas e separadas em caixotes e carregadas para a van e os carros dos voluntários para a entrega dos alimentos em quatro pontos diferentes da cidade, todas na região do centro.

“Quem chega, pega. Não tem distinção, não tem cadastro, não tem pergunta. A fila se forma e a gente serve com carinho”, explica Dona Geralda, com o sorriso de quem já viu a solidariedade se multiplicar em muitas formas.

Dona Geralda
Dona Geralda |  Foto: Layla Mussi

“A gente entrega sopa de verdade. Às vezes muda o cardápio, depende do que a gente recebe”.

Imagem ilustrativa da imagem Voluntariado: Conheça a Turma da Sopa, que há 13 anos entrega refeições nas ruas de Niterói

A cada semana, o grupo gasta entre R$ 300 e R$ 350 comprando legumes e ingredientes frescos. Antes da pandemia, ainda recebiam doações de frutas e verduras de feiras e parceiros. Hoje, com o aumento da demanda, a compra é feita com a ajuda de amigos e apoiadores fixos.

Rota da solidariedade

Quando o sol se põe, os potes são fechados, as garrafas enchidas e os carros organizados. A equipe se divide e segue para as ruas. O trajeto começa ali perto da sede, passa pela São Lourenço, Liceu da Ponte, atrás do terminal, sobe em direção à Prefeitura, desce pela Amaral Peixoto, segue até a Cantareira e termina no Caranguejo. São de quatro a dez carros por noite, dependendo do número de doações e voluntários.

“Tem mês que tem mais, tem mês que tem menos. No fim do ano costuma ser melhor, porque as pessoas estão mais solidárias. Mas mesmo quando as doações caem, a gente não desiste. Sempre dá pra ajudar alguém”, conta Dona Geralda.

Um dos fundadores da Turma da Sopa, Lúcio Rodrigues, 53, filho da Dona Geralda, explica que o grupo mudou seu estatuto no ano passado, procurando abranger um apoio social maior, para além dos alimentos. A expansão seria voltada para cursos de tecnologia, educação e cultura, procurando desenvolver principalmente jovens e crianças da sociedade, algo que possa contribuir para a formação e o crescimento pessoal participar, e facilitando a entrada no mercado de trabalho.

"A rua vai ter sopa, sempre, mas agora, o que a gente tá buscando são outras coisas. A sopa vai ser um porto de entrada pra as pessoas começarem a progredir, reestruturar, por isso que a gente não é assistencialista, nosso objetivo é criar produtividade, não dar por dar. Para o projeto expandir a gente precisa de ajuda, nós precisamos de voluntários, pessoas com ideias, capacitadoras. Temos uma boa sede, mas nós precisamos de pessoas!".

Além da sopa, o grupo também distribui cestas básicas mensais para 28 famílias cadastradas, muitas delas chefiadas por mães jovens e em situação de vulnerabilidade.

“Antes da pandemia, fazíamos rodas de leitura e oficinas com essas famílias. Depois, com o isolamento, tivemos que reorganizar tudo. Fizemos uma triagem, mantivemos as mães que realmente precisavam e seguimos acompanhando de perto”, explica Elaine, uma das responsáveis pelo projeto. A maioria das famílias atendidas vem de São Gonçalo e do Morro do Castro.

A força das mulheres da cozinha

Entre os rostos mais conhecidos está Dona Vânia, aos 92 anos, uma figura querida por todos.

Dona Vânia
Dona Vânia |  Foto: Layla Mussi

“Eu tô aqui desde o começo. Quando a gente era mais pobre, isso aqui já era uma riqueza. A gente descascava os legumes com a chuva caindo, mas com alegria”, lembra, entre risos.

“Quando a gente aposenta, ainda tem vida útil. É o momento de retribuir o que a gente recebeu. Ajudar aqui é uma forma de agradecer”, diz com serenidade. “Isso aqui é uma família muito unida. A gente ri, cozinha, se apoia. É um trabalho de amor.”

Outra figura central é Janaína, voluntária desde o início. “Eu fico direto: chego às duas da tarde e só saio às dez da noite. É cansativo, mas faz um bem danado. Melhor do que ficar em casa. Isso aqui me faz feliz”.

Janaína acompanha cada etapa: da sopa fervendo ao último pote entregue na rua. "Quando eles veem a gente, parece que estão vendo algo extraordinário. Tem gente que come rápido pra pegar mais. Muitos dizem: ‘Tia, é a única refeição do dia’. E a gente dá, claro. Enquanto tiver fome, a gente serve".

Além da sopa, vão o pão, a água, o café e a sobremesa, geralmente arroz doce com canela.

"A gente leva o arroz doce porque é o nosso carinho. Quando dá, levamos também kits de higiene com sabonete, escova, absorvente, papel higiênico. Roupa a gente evita, porque dá confusão. Mas, se alguém precisa mesmo, a gente chama de lado e entrega com respeito", diz Dona Geralda.

Elaine chegou um pouco depois, entre 2014 e 2015, e hoje é uma das grandes responsáveis por manter tudo funcionando. “Na hora que a gente tá na rua, a gente não pergunta: ‘Você é bandido?’. A única pergunta que fazemos é: ‘Você está com fome?’. O que levou ele até ali, a gente não tem como resolver. Mas podemos diminuir a dor de estar na rua.”

Voluntária Elaine
Voluntária Elaine |  Foto: Layla Mussi

Além da logística de rua, Elaine ajuda a montar e entregar as cestas básicas. “No começo do mês, a gente vem e monta tudo. Depois marca o dia certo pra entrega. Cada família recebe uma cesta com alimentos e um kit de higiene. É simples, mas feito com muito amor.”

Quem recebe a ajuda

Avó de seis netos e bisavó de três bisnetos, Dona Lúcia aos 55 anos, é um dos rostos mais conhecidos na instituição. Participante desde a fundação, há 13 anos, ela recebe ajuda e também contribui de diversas formas com o trabalho realizado.

Dona Lúcia
Dona Lúcia |  Foto: Layla Mussi

“Ah, me ajuda bastante. A cesta básica que eles dão, e a reciclagem que recebo aqui também. Tudo que eles me oferecem me ajuda muito”, conta com gratidão.

A distribuição dos alimentos começa antes da saída para a entrega. As sopas; kit higienes, sobremesas (normalmente é servido arroz doce), café, água e até ração para os cachorros, são dividas em porções previamente a saída por toda a equipe na base.

Antes da saída, todos os voluntários se reúnem e fazem uma breve oração, fazendo pedidos para todos os necessitados e o bom rendimento da ação.

Imagem ilustrativa da imagem Voluntariado: Conheça a Turma da Sopa, que há 13 anos entrega refeições nas ruas de Niterói

O primeiro ponto de entrega é próximo da base, e atende cerca de 10 pessoas, além dos que são parados no caminho. No segundo, na rua de trás da Igreja Matriz de São Lourenço, o movimento começou a aumentar e o estoque diminuir.

A dona Maria, 70, toda segunda-feira desce da comunidade do Boavista e usa das marmitas para alimentar a família. Ela já acompanha a turma há anos: "Tem muitos anos que venho, acho o trabalho deles muito bom - da turma -, levo as marmitas pra todas as minhas crianças, são mais de 10, é neto, bisneto, filho, todo mundo!".

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O ponto seguinte é o mais movimentado, atrás do Terminal de Ônibus de Niterói, na entrada do Caminho Niemeyer, onde cerca de 40 pessoas se reúnem para comer. Dentre eles, o pintor Ângelo Gregório, 64, residente do bairro São Domingos, em Niterói, que já se alimenta com o grupo há cinco anos : "Tô aqui porque gosto muito deles, eu moro na rua fazendo bico de pintura, casa, apartamento, o que tiver. Acho muito bonito o projeto deles, porque ninguém é obrigado a dar nada, mas fazer algo que visa amenizar o sofrimento das pessoas que tem".

O ponto final é na Praça da Cantareira, em frente ao Campus da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde as últimas sopas são entregues. O tradicional "Cachorrão da Cantareira", que sempre está presente na região, conhecido pelos estudantes e moradores da área, também esteve presente. Pelo menos 160 refeições foram entregues na ocasião.

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13 anos servindo amor

A Turma da Sopa só para em janeiro, quando realizam manutenção da sede, lavam caixas d’água, revisam extintores, organizam os estoques. 

O grupo aceita doações de alimentos, produtos de higiene, roupas em bom estado e contribuições financeiras. As ações acontecem todas as segundas-feiras, com saídas para as ruas a partir das 20h. Interessados em ajudar podem procurar o grupo nas redes sociais ou entrar em contato diretamente com os voluntários.

O próximo evento da Turma é uma comemoração de Natal, no dia 6 de dezembro, das 9h30 às 12h30.

Para quem se interessar em ser voluntário, basta entrar em contato: 

Telefone: (21) 98798-5057

Intagram e Facebook: @turmasopaniteroi

email: turmadasopadeniteroi@gmail.com



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