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Cadê a agência que estava aqui? Bancos fecham unidades e clientes ficam sem atendimento presencial

Com a migração para o digital, agências bancárias em São Gonçalo e Niterói estão fechando silenciosamente, causando dificuldades especialmente para idosos e clientes que dependem do atendimento presencial

relogio min de leitura | Escrito por Cristine Oliveira | 25 de agosto de 2025 - 08:00
Antiga agência bancária do Itaú, no Centro de São Gonçalo, passou por leilão na Feliciano Sodré
Antiga agência bancária do Itaú, no Centro de São Gonçalo, passou por leilão na Feliciano Sodré -

O fechamento de agências bancárias em São Gonçalo e Niterói vem sendo cada vez mais frequente, em decorrência da migração das operações financeiras físicas para as digitais. O abandono das atividades presenciais é uma ação condenada pelo Sindicato dos Bancários de Niterói, São Gonçalo e Regiões. Essa medida causa diversas dificuldades para os clientes que precisam de atendimento especial, como os idosos.

De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), uma grande parcela das instituições financeiras vem procurando se adequar às mudanças do mercado, diante do intenso crescimento no uso de canais digitais no momento do atendimento. Essa novidade no campo financeiro ocorre em razão da mudança de perfil do consumidor, que agora busca por conveniência, comodidade, rapidez, sem deixar de lado a segurança e, para isso, recorre aos meios eletrônicos dos bancos.


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A migração do presencial para o digital é confirmada pela Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2024, realizada pela Deloitte, que aponta que sete em cada dez transações bancárias no Brasil são feitas pelo celular. Os dados também indicam que, apenas em 2023, cerca de 130,7 bilhões de operações bancárias foram realizadas por smartphones, um aumento de 22% em relação ao ano anterior.

Em função dessa mudança, muitas agências bancárias foram transformadas em unidades de negócios e pontos de atendimento. Já as operações como pagamento de contas, transferências, consultas de saldo, renegociações de dívidas, investimentos e aplicações migraram para o ambiente digital, atendendo à preferência da maioria dos clientes, informou a Febraban.

Segundo pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), entre 2019 e 2024, cerca de 3.216 agências bancárias tiveram suas atividades encerradas em todo o Brasil.

Entre 2023 e 2024, as instituições financeiras Bradesco, Itaú e Santander foram as principais responsáveis pelo fechamento de agências, conforme aponta o Sindicato dos Bancários de Niterói, São Gonçalo e Regiões.

Antiga agência do Bradesco, próxima à Câmara de Vereadores de São Gonçalo, na Coronel Serrado, Zé Garoto.
Antiga agência do Bradesco, próxima à Câmara de Vereadores de São Gonçalo, na Coronel Serrado, Zé Garoto. |  Foto: Layla Mussi

O sindicato ainda estima que, apenas em 2025, em São Gonçalo e Niterói, cerca de 20 agências bancárias tenham sido desativadas em cada cidade. O encerramento dos atendimentos presenciais causou prejuízos tanto para a população quanto para os bancários.

"Na Avenida Amaral Peixoto, corredor financeiro de Niterói, só tem uma agência do Bradesco, por exemplo. Aposentados e pensionistas, que não têm acesso aos bancos digitais, são direcionados para os autoatendimentos. Quem precisa receber benefícios como auxílio-doença, complementação de acidente de trabalho, por exemplo, é direcionado para casas lotéricas, Sicoob, Sicred", informou o presidente do Sindicato dos Bancários, Jorge Antônio Oliveira. "Esses fechamentos desenfreados dos bancos têm adoecido a categoria bancária e prejudicam quem precisa dos serviços bancários. Especialmente, os idosos e os comerciantes. A cada dia são mais filas e as pessoas sendo jogadas para o autoatendimento. Temos sempre que lembrar que bancos são concessões públicas e, por isso, devem cumprir sua função social, muitas vezes deixada de lado apenas pelo lucro sobre o lucro", concluiu. 

Atingo banco do Bradesco no Centro de Niterói, na Rua Marechal Deodoro
Atingo banco do Bradesco no Centro de Niterói, na Rua Marechal Deodoro |  Foto: Layla Mussi

Esses dados podem ser facilmente notados ao caminhar pelo Centro de São Gonçalo e Niterói, além de outras localidades que, anteriormente, contavam com diversas agências bancárias de instituições diferentes, atendendo à população.

Após o fechamento das agências, alguns desses espaços foram ocupados por comércios. Porém, também é possível encontrar antigos bancos abandonados e outros ainda em processo de venda ou aluguel.

Em São Gonçalo, por exemplo, a antiga agência do Santander ao lado do Rodo Shopping, no Centro, foi transformada em um comércio, assim como a do Bradesco, em Alcântara.

A agência do Santander, ao lado do Rodo Shopping, deu lugar a um comércio
A agência do Santander, ao lado do Rodo Shopping, deu lugar a um comércio |  Foto: Layla Mussi

A antiga agência do Bradesco próximo à Câmara dos Vereadores parece estar abandonado, com tapumes danificados. Já no bairro do Mutondo, o imóvel onde funcionava uma agência do Bradesco está à venda ou para locação. A unidade do Itaú, próxima à Prefeitura de São Gonçalo, foi a leilão no mês passado.

O prédio do antigo banco do Bradesco no Mutondo está disponível para venda ou aluguel, na Rua Doutor Alfredo Backer
O prédio do antigo banco do Bradesco no Mutondo está disponível para venda ou aluguel, na Rua Doutor Alfredo Backer |  Foto: Layla Mussi

Em Niterói, destacam-se o prédio que abrigava uma agência do Bradesco, que agora está disponível para venda ou aluguel, e o antigo Itaú, ambos localizados no Centro.

Itaú do Centro de Niterói também teve suas atividades encerradas, na esquina com a Marechal Deodoro
Itaú do Centro de Niterói também teve suas atividades encerradas, na esquina com a Marechal Deodoro |  Foto: Layla Mussi

O encerramento dessas atividades não é bem aceito pela população, principalmente pelos idosos, que enfrentam dificuldades em utilizar os canais digitais e, muitas vezes, têm problemas de locomoção para acessar agências mais distantes.

"Eu não tive a minha agência bancária fechada, mas se fechasse seria horrível, ficar pulando de galho em galho... Eu não sei nem o que faria se isso acontecer. [...] Eu acho que não ia conseguir usar o aplicativo. Ia ter que trocar de banco, passar para outro que tenha agência física. O banco Itaú, lá perto de casa, no Barro Vermelho, acabou. A minha irmã recebia lá. Agora fica difícil porque ela tem trombose e tem que pagar Uber para vir até aqui. Chega aqui, é fila, não recebe lá dentro no caixa, é na caixa eletrônica. Complicou tudo!", relatou a aposentada Rosângela Ferreira Silva, de 67 anos.

Rosângela Ferreira Silva contou que mudaria de banco se sua agência bancária fechasse
Rosângela Ferreira Silva contou que mudaria de banco se sua agência bancária fechasse |  Foto: Layla Mussi

"Ainda não tive a minha agência bancária fechada, mas, se acontecer, vai ficar difícil, vai mexer em tudo. Como vou pagar minhas contas? Eu ia ter que tentar usar o aplicativo, mas só com ajuda", contou o também aposentado Valdecir Azevedo, de 67 anos.

Valdecir Azevedo diz que teria que se acostumar a usar o aplicativo do banco caso sua agência fechasse
Valdecir Azevedo diz que teria que se acostumar a usar o aplicativo do banco caso sua agência fechasse |  Foto: Layla Mussi

Procurada, a Febraban informou que: " A decisão de encerrar atividades é de exclusividade dos bancos e que o órgão não monitora esses dados. Informa ainda que os clientes devem ser avisados com antecedência por meio de aviso afixado em local visível na agência ou por outros meios de comunicação. Caso a unidade seja encerrada, o cliente deve entrar em contato com a central de atendimento do banco para obter informações sobre sua conta".

Sob supervisão de Marcela Freitas 

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