Instituto Estadual do Cérebro e Maternidade Escola da UFRJ realizam a 80ª cirurgia fetal de mielomeningocele
A técnica consiste na intervenção com o feto ainda no útero materno para corrigir a malformação na medula espinhal

As cirurgias fetais de mielomeningocele realizadas no Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer (IECPN) chegaram ao 80º procedimento. A técnica consiste na intervenção com o feto ainda no útero materno para corrigir a malformação na medula espinhal. O procedimento de alta complexidade envolve uma equipe multidisciplinar que reúne os obstetras da Maternidade Escola da UFRJ e os neurocirurgiões do IECPN. Tudo para garantir um cuidado completo e especializado para a mãe e o bebê, com o objetivo de diminuir as complicações da doença. A mielomeningocele acontece nas primeiras semanas de gestação, quando o tubo que forma a medula não se fecha adequadamente e produz uma bolsa geralmente no fim das costas.
Das 80 cirurgias realizadas no IECPN até hoje, 25 pacientes vieram de fora do estado do Rio de Janeiro, sendo 6 do Distrito Federal; 5 de Santa Catarina; 4 da Bahia; 3 do Espírito Santo; 2 de Minas Gerais e 5 (um de cada) dos estados de São Paulo, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Sul e Pará. O período ideal para a realização da cirurgia é entre as 19 e 26 semanas de gestação. O diagnóstico é realizado através da ultrassonografia, que pode ser complementada pela ressonância magnética fetal caso haja necessidade.
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“Essa cirurgia é um divisor de águas para a medicina fetal. As crianças, que têm a mielomeningocele, nascem paraplégicas. Com a cirurgia, nós conseguimos salvar pelo menos 40% a 50% dessas crianças. Somos uma instituição que recebe os pacientes mais difíceis e mais complexos”, afirma o diretor do IECPN, Paulo Niemeyer.
A gestante Daniele Ramos, de 25 anos, que veio acompanhada da sogra do estado do Pará, foi a paciente de número 80 operada no IECPN. Ela descobriu o problema após uma ultrassonografia realizada em sua cidade natal, Dom Eliseu, que fica a mais de 435 quilômetros de Belém. “Fui muito bem recebida aqui no Instituto Estadual do Cérebro. Realizei os exames pré-operatórios na maternidade da UFRJ em apenas um dia. Estou com 22 semanas e tenho fé de que tudo dará certo”, disse Daniele, que passa bem e já retornou para a sua cidade. Seu bebê é um menino que se chamará Guilherme. Até o final da gestação, ela será monitorada pelas equipes do IECPN e da Maternidade Escola da UFRJ.
A parceria entre o IECPN e a Maternidade Escola da UFRJ é fundamental para oferecer essa opção de tratamento inovadora e de alta complexidade para casos de mielomeningocele. A cirurgia, que leva cerca de quatro horas, é dividida em três etapas. Em um primeiro momento, a equipe da obstetrícia acessa o feto através de uma incisão no abdômen da mãe semelhante a uma cesariana, quando o útero é exposto. O bebê e a mãe estão anestesiados e não sentem qualquer dor. Na sequência, o feto é estabilizado para impedir o seu movimento. Os neurocirurgiões usam uma técnica minimamente invasiva, onde a correção na coluna é realizada com o uso de microscópio para auxiliar na visualização e precisão. O procedimento melhora a função motora do bebê, permitindo mais autonomia e qualidade de vida.
"A parceria da Maternidade Escola da UFRJ com o IECPN completará 8 anos em dezembro e tem viabilizado um projeto de sucesso e importância nacional no SUS, contando com a expertise das equipes e com a estrutura e tecnologia já disponíveis nas instituições”, disse a gerente de Atenção à Saúde da Maternidade Escola CH-UFRJ, Penélope Saldanha.
IECPN completou 12 anos em agosto
Referência internacional em neurocirurgia e procedimentos de alta complexidade, o IECPN completou 12 anos de funcionamento este mês, com mais de 15 mil cirurgias realizadas. Hoje, a unidade registra 200 cirurgias mensais nas cinco salas disponíveis no centro cirúrgico e ainda realiza cerca de dois mil atendimentos ambulatoriais por mês.
Outros números também impressionam. São 110 leitos disponíveis, sendo 44 de UTIs, 15 de UTIs pediátricas e neonatais; 39 na enfermaria para adultos; dez na enfermaria para crianças e recém-nascidos e dois leitos especialmente para tratamento de epilepsia. O instituto conta com 35 neurocirurgiões e 20 médicos residentes.
Além disso, a unidade está em obras para receber o primeiro acelerador linear para radioterapia do sistema público brasileiro. Este é o segundo equipamento de ponta da unidade, que também conta com o Gamma Knife, igualmente utilizado para radiocirurgia e o único do país pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Com o novo acelerador linear, o IECPN vai ampliar a capacidade de tratamento em radioterapia, oferecendo um serviço mais completo e moderno.