Dia do Meio Ambiente: projeto voluntário em Niterói recupera a vida no manguezal em Itaipu
Iniciada de forma voluntária por um biólogo há cerca de 13 anos, a iniciativa atua com educação ambiental e restauração de ecossistemas na região

Essencial para a manutenção da biodiversidade em áreas de litoral, o manguezal é, também, um dos ecossistemas mais ameaçados do país. Segundo uma pesquisa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), 25% dos mangues brasileiros já foram totalmente destruídos. Para diminuir os impactos do desmatamento, um projeto voluntário na Região Oceânica de Niterói tem investido em cultivar novas árvores e é responsável pelo plantio do Mangue Real, uma floresta com o tamanho de quase cinco campos de futebol em Itaipu.
Neste Dia do Meio Ambiente, O SÃO GONÇALO foi até o bairro em Niterói para conhecer um pouco do trabalho de recuperação de mangue, que começou como uma ação independente de um morador apaixonado pelo meio ambiente, há cerca de 13 anos, e atualmente faz parte de um circuito de recuperação ambiental e educação sustentável na região.
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O morador em questão é o biólogo Luiz Allochio. Em meados de 2012, ele decidiu começar, de forma voluntária e independente, a plantar árvores em uma área de mangue degradada próxima à sua casa, no Canal do Camboatá, que conecta as lagoas de Itaipu e Piratininga. Em um espaço vazio abandonado, com cerca de 1,5 hectare (que equivale aproximadamente a um campo e meio de futebol), ele e outros moradores plantaram 3 mil mudas.




Hoje, o espaço se tornou o Mangue do Camboatá, com impactos diretos na biodiversidade local. “O que a gente percebeu nesse tempo é que, depois que a gente plantou as árvores, não só uma floresta nasceu, mas a população de caranguejo aumentou e outras espécies que não ocorriam aqui passaram a ocorrer. A gente passou a ter uma maior quantidade, e diversidade também, de aves”, conta Luiz.
Combate às mudanças climáticas
Além dos efeitos na biodiversidade, o crescimento do mangue também mudou o clima na região. O biólogo destaca que o plantio das árvores em regiões alagadiças tem uma boa capacidade de armazenar carbono, o que ajuda no combate ao efeito estufa.
“A gente sabe que, plantando árvores, a gente sequestra carbono. Só que o manguezal sequestra de 3 a 4 vezes mais carbono do que uma floresta tropical, por exemplo. Então, ele tem esse benefício adicional. E lembrando que cada árvore dessa também joga [no ambiente], mais ou menos, 2 mil litros de água por dia. Isso também contribui para o ciclo da água, aumentando as chuvas e trazendo um ambiente mais úmido”, esclarece Luiz Allochio.

Conforme o Mangue do Camboatá foi crescendo ao longo dos anos, o projeto independente de Luiz foi se expandindo para outras regiões do bairro e chamando a atenção de mais colegas da profissão. A iniciativa foi abraçada pelo Instituto Floresta Darcy Ribeiro (Amadarcy), instituto sem fins lucrativos que atua no fomento a projetos de preservação e educação socioambiental na região.
Mangue Real
Com a parceria, alguns anos após o plantio no Camboatá, Luiz e a galera do Amadarcy decidiram ir para outro canto da Lagoa de Itaipu para desenvolver o Mangue Real. O terreno de 5 hectares, às margens da Lagoa, estava com o solo degradado e tomado por lixo até nove anos atrás, quando o projeto chegou lá. O grupo fez uma limpeza e preparou o espaço para o plantio de milhares de mudas.
“A gente teve mais dificuldade aqui do que lá no Mangue do Camboatá, mas, devagarinho, está indo também. O que a gente percebe, conforme as mudas vão se desenvolvendo, é que com esses arbustos já vai se formando o ecossistema. A gente consegue perceber muito mais tocas de caranguejos, por exemplo. Quando a floresta se formar toda, tiver aí com árvores de até 15 m, com certeza esse ambiente vai ficar muito mais tranquilo para as espécies que ocupam, muito menos quente. E isso não só para os animais. A gente não pode desassociar o ser humano do meio ambiente. A qualidade ambiental gera qualidade para a população do entorno, gera qualidade para o ser humano”, destaca o biólogo.





A jovem floresta, com cerca de 10 mil mudas, tem três tipos de árvores próprias aos manguezais - as de mangue-preto, mangue-branco e mangue-vermelho. Cada uma tem um tipo de propágulo - a estrutura que dá origem a novas plantas da espécie. A tendência, explica Luiz, é que, após o plantio das mudas ao longo dos últimos anos, a dispersão natural dos propágulos faça a manutenção do espaço.
“A gente só dá uma forcinha que o resto a natureza faz”, afirma Luiz. Essa tendência à manutenção natural traz benefícios, também, para a segurança alimentar de quem vive da pesca na região. Luiz conta que tem visto o número de pescadores independentes crescer na região ao longo dos últimos anos. “O manguezal é o berçário do mar. As folhas [de mangue] que caem vão para o mar aberto e acabam fertilizando os mares costeiros, atraindo peixes. Quanto mais manguezais, mais peixes no mar”, completa o biólogo.
Viveiro educativo
Apesar dessa manutenção natural, as ações voluntárias seguem muito importantes para garantir que o alcance do trabalho de preservação ambiental aumente. Para isso, uma das estratégias do Amadarcy é a educação socioambiental. A principal dessas estratégias em Itaipu é a Estação Tropical Ecossistema Manguezal.



Batizado “Viveiro Escola”, o espaço, que completa dois anos de criação nesta quinta (05), recebe jovens e estudantes da região para ações práticas de ensino sobre o mangue. Os participantes colocam a “mão na massa” e ajudam a produzir novas mudas com os propágulos coletados nos manguezais. Essas mudas são plantadas tanto em Niterói como em manguezais de outros municípios, como Maricá, Saquarema e Quissamã.
“A gente vem produzindo mudas de mangue para justamente suprir a necessidade das ações voluntárias. Aqui, tudo é feito de forma voluntária; o Instituto Floresta Darcy Ribeiro é uma ONG. A gente atua como um coletivo de forma voluntária, desenvolvendo uma série de ações em prol do meio ambiente fora e dentro do Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET)”, explica o diretor do Amadarcy, Felipe Queiroz.

As ações no Viveiro Escola fazem parte de um projeto do Instituto desenvolvido em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF) e aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio (FAPERJ). “A ideia de trazer as crianças, criar esse ambiente de educação ambiental, de produzir essas mudas, acompanhar elas crescerem e depois ir até o local de restauração fazer o plantio, nada mais é do que uma forma de a gente tentar aumentar o processo e gerar mais senso de pertencimento das crianças, para que elas se sintam parte do ambiente que estão recuperando”, reforça Felipe.
A Estação Tropical Ecossistema Manguezal fica na Rua Osman Corrêa da Silva. Para conhecer melhor o projeto ou se voluntariar para alguma das ações do Amadarcy, é possível entrar em contato através das redes sociais do Instituto.