Mães de coragem: histórias de superação que inspiram neste Dia das Mães
Neste Dia das Mães, O SÃO GONÇALO entrevistou dois grandes exemplos de mulheres que representam o amor que supera barreiras e enfrenta qualquer obstáculo pelo bem-estar dos filhos

"O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura os próprios interesses, não se ira, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (1Cor 13, 4-7).
A Carta de São Paulo aos Coríntios resume fielmente o amor mais puro e integral que um ser humano pode receber na vida: o amor de mãe. Especialmente marcada pelo sacrifício, desprendimento e altruísmo, a maternidade demonstra diariamente o valor insubstituível dessa relação, em que o vínculo mãe e filho transcende qualquer obstáculo.
Para algumas mães, o caminho para a criação dos filhos é marcado por uma trajetória que, para além de inesperada, pode ser também bastante desafiadora.
Em comemoração ao Dia das Mães, O SÃO GONÇALO entrevistou duas mães que levam esse título como força e combustível diários para seguir em frente. Em meio aos mais diferentes tipos de desafios, elas compartilham suas histórias de dor, luta e, principalmente, superação, com orgulho e certeza de que este "dever" está sendo cumprido com louvor.
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MARILENE E LUCAS
Niteroiense, mãe de 4 filhos e presidente da AbraRio, Marilene Oliveira é muito mais que uma mulher que soube driblar as adversidades impostas pela vida. Decidida e principalmente, apaixonada pelos filhos, ela literalmente fez de um limão, uma limonada que não só pôde servir ao filho Lucas, que tanto precisava, como também a uma imensa parcela da população.
Lucas Oliveira é portador da Síndrome de Rasmussen e vivenciou junto à mãe episódios extremamente desafiadores. Aos 4 anos de idade teve sua primeira crise convulsiva e essa crise só foi aumentando, chegando ao ponto de ter 60 crises epiléticas por dia. Mesmo diante das muitas idas e vindas a médicos e hospitais, as crises não eram controladas e um ciclo vicioso se iniciou: tomava medicação para não convulsionar e aquela medicação causava alguma infecção que fazia Lucas voltar a convulsionar.
Marilene, que não podia trabalhar, passou a se dedicar integralmente ao filho e buscar alternativas ao diagnóstico limitante.
"Foi quando ele tinha 14 anos de idade, em uma dessas internações, que ele chegou a ficar 18 dias convulsionando. O Lucas perdeu todos os movimentos, parou de andar, falar, e ficou em estado vegetativo. Eu não sabia nem se meu filho me reconhecia, ele só mexia os olhos. E foi a partir deste momento que fui atrás do médico que o diagnosticou e cuida dele até hoje e, desesperada, desabafei que não aguentava mais ver o meu filho daquela forma. O doutor me informou que algumas mães estavam trazendo de outro país o extrato de canabidiol, dando para os filhos e obtendo resultados positivos. Na hora fiquei assustada, porque eu tinha preconceito com a maconha, cresci ouvindo tudo aquilo de mal, mas era uma chance para o meu filho e resolvi tentar. Só que o custo do medicamento para o Lucas naquela época era em torno de 5 mil reais mensais, além de ser ilegal, e eu vivia de um salário mínimo", contou Marilene.
O início de uma nova vida
Durante sua busca pelo produto que poderia dar a esperança que seu filho tanto precisava, Marilene conseguiu o contato do presidente da Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (ABRACE), primeira associação a cultivar cannabis medicinal no Brasil, localizada em João Pessoa, na Paraíba. Ela contou a história de seu filho e recebeu imediatamente um vidro de óleo. O resultado? Surpreendente.
"De estado vegetativo, meu filho voltou a andar, falar, andar de bicicleta, voltou para a escola e as crises que eram 60 por dia, zeraram. Foram anos de muita luta, mas conseguimos tirar todos os anticonvulsionantes dele e ficar apenas com o óleo de cannabis [que ele recebeu gratuitamente por muitos anos, pois não tinha condições de pagar]", revelou Marilene.
Com o passar do tempo, tentando dar alguma lógica para toda a dor que vivia diariamente ao ver seu filho passar por inúmeras dificuldades, Marilene "rompeu a bolha" de sua casa e resolveu ajudar outras famílias dentro de instituições. Foi quando surgiu um projeto social de mães que se ajudavam e ela pôde ver que mesmo a sua dor sendo enorme, existiam outras mães com dores muito maiores.
"Começamos a fazer rodas de conversa, aniversários para os nossos filhos [que nunca eram convidados para festas devido ao preconceito], consegui doações de alimento, medicamento, assistência social e jurídica. E essas famílias, acompanhando o progresso do Lucas, também queriam o tratamento com a cannabis. Comecei a mandar essas mães para a ABRACE e com algumas que não tinham condições, eu dividia o óleo do meu filho, o que também era ilegal. Só que isso tomou uma proporção gigante, famílias por todo o país me procuravam para conseguir o óleo, e chegou uma hora que o presidente da ABRACE e o médico do meu filho me motivaram a fundar a Associação", contou.

Fundada por Marilene Oliveira, em Niterói, no ano de 2020, a AbraRio (Associação Brasileira de Acesso à Cannabis Medicinal do Rio de Janeiro) conquistou, no dia 18 de março de 2025, uma decisão judicial histórica, em segunda instância, que autoriza o cultivo de cannabis para fins medicinais, garantindo, assim, à Associação o direito de pesquisar, plantar, cultivar, manipular, transportar, extrair, embalar e distribuir produtos à base de cannabis exclusivamente para seus associados, mediante prescrição médica.
"Foi através dessa experiência transformadora com o meu filho mais velho, Lucas, que minha vida e a da minha família mudaram — e, junto conosco, milhares de outras famílias em todo o Brasil. Inspirada por ele, fundei a AbraRio, uma associação que luta pelo acesso à cannabis medicinal, acolhendo e orientando quem mais precisa. Ser mãe do Lucas é uma honra. Ele é minha maior inspiração, e foi por ele que aprendi a cuidar, acolher e lutar por justiça e dignidade para todos", afirmou Marilene, que além de Lucas Gabriel, também é mãe de Pedro Henrique, Miguel Alexandre e Maria Eduarda.
"Eu costumo dizer que toda a minha trajetória é uma trajetória de dor que se transformou em amor. Não foi fácil chegar até aqui, foram muitas lágrimas e muito medo de perder meu filho. Mas hoje ele está aí, segue não usando nenhum outro tipo de medicamento, apenas o óleo. Está com as crises controladas e hoje tem qualidade de vida, que é o que importa", comemorou Marilene Oliveira, mãe do Lucas.
NAIANE E KAIO
Gonçalense e mãe de dois, Naiane Pereira passou por um processo doloroso aos 26 anos de idade, quando precisou ser mais do que mãe: cuidadora e alguém em quem seus filhos pudessem confiar integralmente para o resto da vida.
Foi em maio de 2015 que o mundo de Naiane virou de cabeça para baixo, quando seus dois filhos sofreram um acidente de carro enquanto voltavam de uma viagem com os avós paternos. O veículo em que estavam capotou por mais de dez vezes na BR-101, altura de Macaé. Na época, Kaio deu entrada no Hospital Público de Macaé com poucas chances de vida. Todos os outros passageiros, incluindo Vitória, irmã do Kaio, sobreviveram sem sequelas.
Após diversas cirurgias e perda craniana (osso que envolve o cérebro), Kaio Pereira Pacheco recebeu alta em um mês e meio de internação, mas já não andava, enxerga vultos e falava apenas poucas palavras.
Em 2017, dois anos depois daquele dia que mudou para sempre sua vida e a vida de sua família, Kaio, apesar das inúmeras limitações, voltou a falar e reaprendeu a escrever seu nome.

Hoje, dez anos após o grave acidente, Kaio, com 20 anos, segue na batalha, junto a sua mãe, sendo prova viva de que esse vínculo além de eterno, é capaz de suportar e superar todo tipo de sofrimento, transformando os dias difíceis em motivação para continuar lutando.
"Já se passaram 10 anos do grave acidente que mudou as nossas vidas, e vivemos muita coisa até aqui. Hoje o Kaio está acamado, realizando um tratamento para que possa fazer uma cirurgia na mão futuramente, mas, mesmo diante das dificuldades, está bem. Fiz tudo o que pude e até hoje, nada é fácil, são muitos obstáculos, mas passamos por cada um deles unidos, sempre firmes e fortes", contou Naiane, hoje com 36 anos.
Assim como demonstra diariamente aos seus filhos o verdadeiro amor de uma mãe que sempre estará presente, Naiane traz de casa o exemplo: conta com sua mãe, que além de avó, é um dos pilares que sustentam a família.
"Minha mãe nunca mediu esforços, sempre me apoiou em tudo."
Gratidão
Neste Dia das Mães, Naiane, assim como tantas outras mães que enfrentam desafios diários, segue inspirando por sua resiliência, coragem e entrega. Para ela, a vida do filho é o maior presente que poderia receber.
"Hoje, acima de tudo, eu posso dizer que sou grata a Deus por tê-lo comigo do jeitinho que ele é: filho amoroso, alegre e feliz. A vontade dele de viver me faz lutar todos os dias. Sou muito grata a Deus por todos os anjos que ajudaram e ainda ajudam o Kaio, sem eles não sei como seria. Só posso agradecer", afirmou Naiane Pereira, mãe do Kaio.
Dia de celebrar
Ainda que seja uma data comemorativa com foco no comércio, o Dia das Mães se resume a um momento onde àquelas que cuidam e amam incondicionalmente recebem as devidas e merecidas homenagens. Neste dia, as mães de todo o país colhem, com êxito, todos os bons frutos do trabalho que plantaram e plantam diariamente na criação de um filho.
Celebrar a figura materna, valorizando o amor, carinho e dedicação é um dos momentos mais significativos do ano, sendo um espaço onde se pode expressar gratidão e reconhecimento. A data ressalta ainda a importância da maternidade, não apenas como função biológica, mas também como um conjunto de valores, cuidados e dedicação que moldam o desenvolvimento do ser humano.
O SÃO GONÇALO deseja um Feliz Dia das Mães a todas aquelas que desempenham esse papel com maestria. Que este dia fortaleça os laços familiares e promova gestos de carinho, respeito e gratidão entre mães e filhos.