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Companhia teatral de São Gonçalo apresenta clássico de Machado de Assis para alunos do Ensino Fundamental

Cia. Albatroz levou releitura de O Alienista para turmas do Colégio Dom Hélder Câmara, na Trindade, nessa segunda (05)

relogio min de leitura | Escrito por Felipe Galeno | 06 de maio de 2025 - 11:32
Contemplado pela Lei Paulo Gustavo, espetáculo ainda percorre outras três escolas do município até o final de maio
Contemplado pela Lei Paulo Gustavo, espetáculo ainda percorre outras três escolas do município até o final de maio -

Um clássico da literatura nacional ganhou vida diante dos olhos dos alunos do Colégio de Aplicação Dom Hélder Câmara, na Trindade, em São Gonçalo, nesta segunda-feira (05). Alunos do 8° e do 9° ano assistiram a uma montagem de “O Alienista”, espetáculo da Albatroz Cia. de Teatro que reimagina a célebre obra de Machado de Assis sob uma ótica contemporânea. A apresentação fez parte de uma série de performances da peça realizada pelo grupo teatral gonçalense através de edital da Lei Paulo Gustavo.

O espetáculo, que já foi encenado em diferentes versões pela companhia em seus sete anos de atuação, começou a ser encenado em escolas no final do último mês de abril, na Escola Intercultural Brasil-México, em Neves. Após as apresentações lá e no Dom Helder, a peça ainda passa por outras três escolas, sempre seguindo a proposta de reimaginar o texto de Machado, publicado em 1882, para um público contemporâneo e em idade escolar. Para fazer essa aproximação, a equipe usa uma abordagem estética e temática cheia de particularidades, como destaca o diretor do espetáculo, Reinaldo Dutra, de 41 anos.

“A gente se baseia muito na linguagem do cartum e das histórias em quadrinhos, então isso também é uma coisa que tira um pouco essa ideia de ‘clássico inatingível’, né? A gente atualiza [o texto] no sentido estético do trabalho. E uma outra coisa também que chama a atenção nossa montagem é que não há cenário. Não há nenhum adereço; é tudo feito pelo corpo e pela voz dos atores. Eles quatro se transformam em tudo, desde todos os personagens até a mesa onde os personagens se sentam, por exemplo”, explica Reinaldo.

Segundo diretor, proposta da peça é tirar a "ideia de ‘clássico inatingível’" do texto machadiano
Segundo diretor, proposta da peça é tirar a "ideia de ‘clássico inatingível’" do texto machadiano |  Foto: Enzo Britto

Com uma maquiagem simples, porém expressiva, e um figurino totalmente minimalista, os quatro atores que encenam o espetáculo dão vida aos diversos personagens da clássica narrativa sobre sanidade e sociedade e cativam a atenção dos alunos usando, sobretudo, o corpo. O elenco é composto por Felipe Moraes, Jéssica Barreto, Lore e Uly Ataliba. Felipe - que interpreta, entre outros personagens, o protagonista Simão Bacamarte - destaca que é especial fazer esse projeto diante dos alunos tem um sabor especial porque se conecta com as origens da cia. teatral, que foi criada no ambiente escolar.

“Nós somos fruto de alunos que entram numa oficina de teatro dentro da escola. E, hoje, a gente está de uma maneira mais profissionalizada trabalhando com a arte em si. Então, ter esse contato com os alunos, ver de onde a gente veio e motivar também outras pessoas a, de repente,investigarem a arte de uma maneira profissional futuramente nos deixa em um espaço de muito conforto, muita felicidade”, afirma Felipe, de 30 anos. Ele, assim como a maior parte da equipe da Albatroz, é ex-aluno do Colégio Estadual Walter Orlandini, no bairro Paraíso.

Companhia gonçalense de teatro foi fundada em 2017 por ex-alunos da rede pública
Companhia gonçalense de teatro foi fundada em 2017 por ex-alunos da rede pública |  Foto: Enzo Britto

Foi através de atividades artísticas no ambiente escolar que surgiram as primeiras inspirações para a criação do grupo gonçalense de teatro, que foi fundado em 2017 e tem se especializado em explorar a relação entre literatura, aprendizagem e as artes cênicas em seus espetáculos. A ênfase nessas relações é, para a companhia, uma forma de levar o mesmo incentivo que os moveu para as novas gerações de artistas em potencial nas escolas.

“Acaba sendo, para a gente que vem desse lugar, uma forma de dar um retorno. A gente quer mostrar a outras pessoas, que também têm seus objetivos - não importa se são no meio da cultura ou em outros meios. Queremos mostrar para essa galera que é possível sonhar enquanto está estudando e concretizar esse trabalho”, destaca a atriz Jéssica Barreto, de 30 anos.

Além dos atores em cena e dos alunos na plateia, quem também gosta bastante das apresentações é o corpo docente das escolas, que encontra nos espetáculos uma forma de revisar, sob outra roupagem, os conteúdos e aprendizados de sala de aula. No Colégio Dom Hélder Câmara, o contato entre escola e companhia teatral foi a professora de Espanhol Nilzeth Rodrigues, de 53 anos, que é fã da Cia. Albatroz e ajudou a levar o projeto para a escola. A iniciativa acabou dialogando com as aulas da professora de Língua Portuguesa, Ana Cláudia Fonseca, de 50 anos, que tem trabalhado textos de Machado de Assis com os alunos desde o começo do ano.

Apresentação no C. E. Dom Hélder Câmara aconteceu nesta segunda-feira (05)
Apresentação no C. E. Dom Hélder Câmara aconteceu nesta segunda-feira (05) |  Foto: Enzo Britto

Ana Cláudia enfatiza que a encenação do texto de Machado - em especial, o de “O Alienista” - pode ajudar os alunos a enxergarem a atualidade do trabalho do autor. “Nesse texto do Machado, ele aborda pessoas que passam, talvez, por um transtorno de ansiedade ou por outras dessas doenças 'invisíveis' que a gente está tentando lidar nos nossos tempos hoje. Lá no século XIX, ele já questiona esses assuntos e também apresenta essas pessoas que eram questionadoras e eram tidas como loucas, internadas por isso. Isso tem muito a ver com o nosso momento. É uma obra do século XIX, mas muito atual”, afirma a professora de Língua Portuguesa do Colegio Dom Hélder Câmara.

As apresentações de “O Alienista” para estudantes de São Gonçalo acontecem ainda no Colégio Estadual Walter Orlandini, no Paraíso, no dia 12 de maio; no Colégio Estadual Frederico Azevedo, em Itaúna, no dia 19; e na Escola Municipal Pastor Ricardo Parise, no Jóquei, no dia 26. O projeto é uma realização do Ministério da Cultura do Governo Federal e da Secretaria de Turismo e Cultura da Prefeitura de São Gonçalo.


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