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Setembro amarelo: Brasil registra maior taxa de suicídio em tempos de apostas online

Apostas online causam impactos negativos na saúde mental dos jogadores

relogio min de leitura | Escrito por Yasmin Martins | 13 de setembro de 2024 - 11:52
Sites de aposta atraem milhões de pessoas
Sites de aposta atraem milhões de pessoas -

A Organização Mundial da Saúde (OMS), desde 2018, considera o uso imoderado de jogos online como uma doença. Embora esses jogos possam começar como uma simples diversão, podem se transformar em vício, fazendo com que os jogadores comprometam suas vidas para satisfazer suas vontades. Os danos são tão graves que, muitas vezes, esses casos se tornam casos de polícia. Os cidadãos passam a criar dívidas altas, vender seus bens pessoais, fugir de credores e, em situações mais graves, tiram suas próprias vidas por não conseguirem encontrar outras soluções.

Em paralelo a isso, um estudo publicado pela revista The Lancet Regional Health, conduzido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde (Cidacs), da Fiocruz Bahia, afirma que a taxa de suicídio entre os jovens brasileiros cresceu 6%, entre 2011 e 2022. Mesmo parecendo inofensivos, os jogos de azar, como o famoso "tigrinho", criam falsas esperanças nas pessoas, vendendo a ideia de rápido retorno financeiro por meio das apostas. 

É importante ressaltar que o principal público que consome esse tipo de "entretenimento" são indivíduos das classes C, D e E, que estão em condições mais vulneráveis e veem nas apostas uma última chance de se reerguerem financeiramente. Como explica a terapeuta Patrícia Assed, os apostadores comprometem seu sustento básico para jogarem. “O problema é que essas pessoas acreditam que vão sair da crise com essas apostas, mas acabam em uma situação ainda pior”, alertou Assed. 


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Prazer X Saúde Mental

Em meio ao setembro amarelo, o debate sobre as consequências do uso dessas plataformas e de como elas afetam a saúde mental dos seus usuários se torna ainda mais relevante. Um estudante de engenharia de telecomunicações, de 25 anos, ouvido pelo O SÃO GONÇALO, contou que costuma apostar em duas Bets diferentes. Ele tem ciência que esses jogos podem afetar o psicológico dos jogadores. "A possibilidade de ganhos absurdos e a "gamificação" das plataformas torna elas mais parecidas com cassinos, com isso o ato de apostar se torna mais prazeroso e assim as pessoas ficam mais propensas ao vício", pontuou.  

O movimento repetitivo dos jogos acaba estimulando o vício, o que torna mais difícil para os apostadores saírem do ciclo. Uma professora, de 47 anos, que não quis ser identificada, conta que está viciada nos jogos há um mês e começou para aliviar dores pessoais. "Tive uma perda na família, fiquei doente, minha filha ficou doente, jogar me dava alívio", afirma. A moça também mencionou que estava bem chateada, porque deixou de pagar uma de suas contas para conseguir jogar.

Setembro é o mês da prevenção contra o suicídio
Setembro é o mês da prevenção contra o suicídio |  Foto: Divulgação

Incentivo dos influenciadores 

Mesmo com os jogos de apostas existindo há anos, eles ganharam maior visibilidade por conta de influenciadores que fazem propaganda dos aplicativos e sites em suas redes sociais. Esses blogueiros promovem uma ideia de que, por meio dessas plataformas, as pessoas conseguem se divertir e, ao mesmo tempo, criar uma renda extra em pouco tempo. 

Os influenciadores postam links que direcionam os seus seguidores diretamente para os softwares. Ao serem levadas ao sistema, precisam realizar um cadastro que inclui adicionar um método de pagamento, geralmente cartão de crédito ou pix, para começar a jogar. A partir daí, as portas ficam abertas para que os interessados invistam tempo e dinheiro em troca do "entretenimento". 

Vale destacar que muitos influenciadores que promovem essas plataformas levam um estilo de vida desejado para seus seguidores, com mansões, carros luxuosos e joias extravagantes. Isso cria uma falsa esperança de uma vida melhor por meio dos jogos de azar, uma vez que a recomendação vem de pessoas com grande poder aquisitivo e milhões de seguidores. 

Como relata a psicóloga Claudia Melo, as redes sociais fazem a pessoa acreditar em um "mundo fantasioso", onde cria-se a ilusão de uma vida perfeita. "Esses influenciadores tentam e convencem de que ali é o melhor lugar, ali é o lugar seguro, ali é onde eles vão conseguir ter tudo o que precisam", destaca. Justamente, essas falsas aparências e rapidez do século 21 colaboram para que muitas expectativas sejam criadas, principalmente pelos mais jovens, em torno de seu presente e futuro. "Essa rapidez em tudo, para ter dinheiro, para ter sucesso, acaba trazendo muita frustração. Essa frustração pode trazer para essa pessoa um gatilho", comenta Claudia. 

Redes sociais podem trazer gatilhos para os jogadores
Redes sociais podem trazer gatilhos para os jogadores |  Foto: Agência Brasil/ Divulgação

Entretanto, soluções contra as apostas online estão sendo implementadas. Influenciadores digitais estão sendo investigados pela promoção dessas atividades. O caso mais recente é da criadora de conteúdo e advogada Deolane Bezerra que, neste momento, cumpre prisão por suposta lavagem dinheiro em jogos online. Após a sua prisão, dezenas de influencers deram uma "pausa" nas promoções de plataformas de apostas.

O Governo Federal decretou que publicidades de jogos online - como caça-níquel, crash ou roleta - e apostas esportivas serão vedadas e multadas a partir de 2025. Os valores das penalidades irão variar de R$50 mil a R$2 bilhões para quem descumprir as regras. 

Centro de Valorização da Vida

O Centro de Valorização da Vida (CVV) foi criado para ajudar com suporte emocional e prevenção ao suicídio. O serviço atende a todos de forma gratuita, por diferentes meios de comunicação, 24 horas por dia. Caso precise de ajuda ou conheça alguém que esteja precisando, ligue 188, mande um e-mail para apoioemocional@cvv.org.br, converse no chat da instituição ou visite as sedes do CVV distribuídas por todo o país. 

Iniciativas como o CVV e o Setembro Amarelo são imprescindíveis para o processo de conscientização sobre a saúde mental. Ter um lugar de segurança e liberdade para falar sobre a dor é o primeiro passo para quebrar paradigmas e encontrar saídas possíveis dentre os impasses da vida.

Sob supervisão de Marcela Freitas 

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