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Não é só uma mão boba! Vítima de importunação sexual transforma dor em luta para ajudar outras mulheres

Importunação sexual é crime e pena pode chegar a cinco anos de reclusão

relogio min de leitura | Escrito por Renata Sena | 15 de maio de 2024 - 20:00
Fernanda Marques da Silva Alves é mãe de duas meninas
Fernanda Marques da Silva Alves é mãe de duas meninas -

Não é só uma mão boba. Não foi sem querer e não, não é culpa sua! Se você sentiu desconforto diante de qualquer toque íntimo no seu corpo, se você se sentiu violada ou amedrontada, denuncie. Importunação sexual é crime e você pode - e deve- buscar ajuda policial, como fez a empresária Fernanda Marques da Silva Alves, de 43 anos, que teve seu corpo invadido e, depois de dez meses escondendo, se sentindo culpada e vendo sua vida mudar completamente, resolveu falar, denunciar e transformar dor em luta. 

Fernanda é casada há 18 anos, mãe de duas meninas e evangélica desde que se entende por gente, como ela narra. Mas, ainda assim, um colega de igreja, proprietário de uma loja de açaí, na Engenhoca, Zona Norte de Niterói, onde ela costumava lanchar com a família, se sentiu no direito de passar a mão em sua região íntima (nádegas). 

Fernanda não teve a chance de dizer não, assim como mulheres vítimas desse tipo de crime também não recebem essa oportunidade. Ela seguiu tentando se convencer de que aquilo não havia acontecido, até receber uma mensagem do abusador pelo celular e comprovar que tinha sido real. 

"Ele havia ido à igreja com minha família, eu nunca imaginaria aquilo".
Imagem ilustrativa da imagem Não é só uma mão boba! Vítima de importunação sexual transforma dor em luta para ajudar outras mulheres

“Eu estava voltando da academia, quando ele me chamou. Eu fui saber o que ele queria falar e conversamos por poucos minutos quando, na hora de ir embora, nos despedimos. Ele havia ido à igreja com minha família, eu nunca imaginaria aquilo. Até que senti a mão dele descer e passar em mim. Na hora eu soltei e segui meu caminho. Não tive reação, não gritei, não questionei, só andei tentando me convencer de que aquilo não tinha acontecido”, relembra a vítima, que chora ao tentar falar do fato.

Apesar do esforço para esquecer aquilo, ela não conseguiu seguir. Parou no caminho, sentiu as pernas bambas e o coração acelerado. Fernanda teve uma crise de ansiedade, sem saber, que piorou quando ela pegou o telefone e viu a mensagem “abraço bom”. 

“Quando eu peguei o telefone, eu vi que tinha uma mensagem dele apagada e a outra que apagou enquanto eu lia. Ali eu vi que realmente tinha acontecido. Que não era coisa da minha cabeça e que não foi sem querer. Só que isso desencadeou o sentimento de culpa. Eu passei dez meses escondendo da minha família, querendo encontrar na minha cabeça onde foi que eu tinha dado brecha para ele fazer aquilo. Eu achava que a culpa era minha”, relembra.

Esse sentimento de culpa fez Fernanda mudar a rotina, trocar de academia, parar de falar com amigos, deixar de sair de casa e, principalmente, perder a conexão e a parceria com o marido. 

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“Eu tinha medo de falar para ele e ele achar que a culpa era minha. Por que como eu vou explicar que um homem passou a mão no meu corpo e que eu não deixei? Como eu ia contar isso? Eu tive medo, fiquei insegura, mas em um momento eu decidi que tinha que falar”, disse.

"O crime de importunação sexual é um crime muito naturalizado, devido à nossa cultura do estupro, pelo machismo. É comum que a vítima se cale, se prive de liberdade, por achar que foi a culpada. Denunciar, buscar ajuda na terapia e entender que homem nenhum tem direito sobre o nosso corpo, faz com que as mulheres entendam seu lugar na sociedade como igual, e que ninguém tem direito de fazer o que ela não permitir. Então, é comum que a vítima tente seguir a vida, busque naturalizar, pois fomos ensinadas assim", explica a psicóloga Patrícia dos Santos Muniz, que presta atendimento a mulheres vítimas de violência no Movimento de Mulheres, em São Gonçalo. 

Fernanda contou para o marido que, inicialmente, também a viu como culpada. Ele questionou o motivo dela ter escondido o fato. Ele brigou por ela permitir que as filhas ainda comprassem açaí na loja do agressor, mesmo que somente por telefone. Ele questionou, apontou e depois percebeu que ela era vítima. Reuniu a família e contou o que a esposa tinha passado. Fernanda contou também que aos sete anos havia passado por algo semelhante, quando um vizinho passou a mão em baixo da sua saia. Sua prima, que estava presente na reunião, confessou que também havia passado por isso quando criança. 

Apesar do tempo que se mantiveram calada, Fernanda percebeu que as feridas não cicatrizavam e que a dor estava ali. Ela recebeu apoio da família, do marido e juntos mudaram de endereço, de rotina e buscaram ajuda profissional e denunciaram o crime. 

"Eu não queria denunciar. Eu queria deixar aquilo quieto, não queria que ninguém soubesse. Mas, fui conversar com a delegada Fernanda e ela me contou uma história de uma mãe que havia sido vítima e se calou. Anos depois foi com a filha denunciar, pois a filha também tinha virado vítima. Aí a doutora falou que os ciclos se repetiam e eu não podia permitir que isso acontecesse novamente. Com as minhas filhas ninguém vai mexer. Ali eu resolvi que precisava denunciar", afirma.

Fernanda fez um registro de ocorrência. O caso foi apurado pela Delegacia Especial de Atendimento às Mulheres (Deam) e denunciado pelo Ministério Publico. Hoje, o autor do crime de importunação sexual é réu no processo e pode ser condenado a até cinco anos de prisão. 

Delegada Fernanda Fernandes
Delegada Fernanda Fernandes |  Foto: Kiko Charret

"É um passo muito importante que as mulheres precisam dar. Denuncie. No passado, antes de 2018, quando mudou a lei do crime de importunação, o homem saía pela porta da frente da delegacia. Agora, não. É um crime que pode levar a prisão em flagrante, que pode ser denunciado por qualquer pessoa. O meu pedido para as vítimas é que denunciem. Mesmo se acharem que a prova é fraca, denuncie. Deixa que a polícia vai fazer o papel dela e investigar. É importante, pois o autor nunca comete isso uma vez só. Quando você denuncia, você já registra o que ele fez. Se ele cometer novamente, a polícia já terá acesso ao registro e mesmo que a prova seja fraca, o registro antigo já pode ajudar a corroborar", explicou a delegada Fernanda Fernandes, responsável pela Deam de Duque de Caxias, e a primeira policial a conversar com a empresária Fernanda. 

E foi após conversar, denunciar e buscar ajuda na terapia que Fernanda percebeu que falar a fortalecia. Ela resolveu usar sua dor para encorajar outras mulheres e criou a página 'É hora de falar' no Instagram (@Ehoradefalar). "Temos muitas ideias para colocar em prática com objetivo de ajudar. Mas, agora, criamos a página que é um espaço onde as mulheres vão ganhar voz. Não é sobre mim, é sobre todas as mulheres silenciadas, pois quando a gente fala a gente ressignifica a dor. Então é hora de falar e eu quero muito poder ajudar", desabafou a empresária.

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