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Projeto social oferece capacitação tecnológica para jovens da Coruja

FuturoOn recebe moradores da periferia gonçalense para aulas gratuitas de informática

relogio min de leitura | Escrito por Felipe Galeno | 22 de julho de 2023 - 08:00
"O complexo inteiro da Coruja é uma potência. Eu sei que a gente consegue de fato transformar a vida das pessoas falando sobre educação”, acreditam organizadores
"O complexo inteiro da Coruja é uma potência. Eu sei que a gente consegue de fato transformar a vida das pessoas falando sobre educação”, acreditam organizadores -

No interior de uma simples casa de paredes azuis na Covanca, em São Gonçalo, próximo a um dos acessos ao Complexo da Coruja, alguns adolescentes se reúnem na frente de um computador com os olhos atentos à tela. Parece a descrição de uma cena comum no dia-a-dia de um grupo de amigos da região. Para a equipe do projeto FuturoOn, no entanto, a imagem é a de um futuro sendo transformado em tempo real.

É esse, ao menos, o interesse que a iniciativa social tem ao oferecer as aulas de informática na unidade de ensino. Recém-inaugurada na Covanca, a sede é o novo espaço de funcionamento do projeto, que busca oferecer capacitação tecnológica gratuita para moradores da periferia local. A ideia é que isso abra novas possibilidades de futuro e de formação profissional para cada um deles.


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Antes de existir fisicamente, o projeto nasceu na mente de Thais Santana, CEO da iniciativa e moradora da região que nunca se viu como líder de um trabalho do tipo. “Eu nunca tinha pensado em fazer um projeto social, mas sempre gostei muito de ajudar pessoas, sempre fui muito apegada a isso. Também sou muito apegada a jovens, crianças. Então, sempre que tinha a oportunidade de conversar com algum jovem da região e despertar algum interesse por educação, eu ficava feliz”, conta.

Esse gosto se transformou em sonho literalmente através de um sonho, em 2021. “Eu fui dormir uma vez e sonhei com um projeto social, com todo o esboço do projeto. Acordei, passei para o papel todas as ideias. Dormi de novo, sonhei com o nome FuturoOn”, relembra Thaís. Mesmo trabalhando com a atarefada rotina de trabalho na empresa de tecnologia onde trabalha, a Way2, ela resolveu confiar na visão que teve e investir no projeto do zero.

Projeto foi inspirado por sonho da idealizadora
Projeto foi inspirado por sonho da idealizadora |  Foto: Layla Mussi

Desde o começo, ela sabia que o palco da iniciativa seria a comunidade onde viveu desde a infância. “O complexo inteiro da Coruja é uma potência. Eu sei que a gente consegue de fato transformar a vida das pessoas falando sobre educação”, acredita a CEO. A dificuldade, porém, foi encontrar outras pessoas interessadas na ideia: “Foi a passos lentos. A gente não tinha, e ainda não tem, nenhum incentivo financeiro, seja público ou privado. Então encontrar pessoas que compram o propósito é difícil”.

Essa procura acabou a levando a encontrar um apoio inusitado, que veio na forma do ex-colega de classe Marlon de Souza, de 30 anos. Também morador da região, ele havia estudado junto de Thaís na adolescência, mas já não tinha contato com a colega faziam alguns anos. Ao descobrir, pelas redes sociais, que ele trabalhava como professor, Thaís decidiu tentar um contato com o amigo e propor a ideia.

“Foi do nada mesmo. Ela me chamou no facebook, vim na casa dela e trocamos uma ideia. Sempre tive vontade de fazer parte de um projeto social, ainda mais com tecnologia. Botamos tudo no papel, pensamos em tudo. Tivemos ideias aí que não deram tão certo no começo, mas é sempre assim né. Graças a Deus, funcionou. A gente não imaginava que em menos de um ano, a gente conseguiria estar aqui com na sede”, celebra Marlon.

Aulas no projeto ensinam de letramento digital a introdução à linguagem de programação
Aulas no projeto ensinam de letramento digital a introdução à linguagem de programação |  Foto: Layla Mussi

Hoje, ele dá aulas de diferentes modalidades de introdução à computação. “Nós hoje trabalhamos com quatro linhas educacionais. Temos o letramento digital, que mostra tudo do básico. Depois, pacote office. em seguida, a gente introduz linguagens de programação, com o portugol, que é uma linguagem de programação em português. E depois do portugol, a gente ensina eles a criar jogos do zero”, esclarece Thaís.

Dessas aulas, já nasceu um jogo premiado pelo concurso Criar Jogos é o Futuro – Game Jam, realizado no São Gonçalo Shopping no último mês de junho. Com o tema sustentabilidade, o minigame de design 3D desenvolvido por um grupo de alunos do FuturoOn é um jogo de corrida, em que o jogador precisa terminar o percurso em menos de 1 minuto com um carrinho movido a energia solar. O veículo vai passando por ‘checkpoints’ onde é abastecido pela energia dos geradores.

Alunos desenvolveram minigame que participou de projeto no São Gonçalo Shopping
Alunos desenvolveram minigame que participou de projeto no São Gonçalo Shopping |  Foto: Layla Mussi

Apesar de simples, o jogo é divertido, especialmente para Kauan Santana, de 16 anos, um dos desenvolvedores. Tímido, ele não fala muito sobre o projeto, mas é com orgulho nos olhos que mostra o minigame para os outros. Graças ao projeto, do qual faz parte desde o ano passado, hoje ele também cogita investir na área da programação e da tecnologia, paralelamente a seus sonhos de jogar futebol profissionalmente e estudar fisioterapia.

A história é bem parecida no caso dos amigos Caique de Souza, de 14 anos, e Gabriel Luíz Oliveira, de 15, moradores da Coruja que também sonham com uma carreira nos gramados, mas hoje também cogitam seguir estudando a área da tecnologia paralelamente. No caso de Gabriel, apelidado de “GB” pelos amigos, o interesse na área já existia; o problema era a falta de oportunidades acessíveis de capacitação do tipo na região.

“Eu já tinha vontade de fazer algum curso de informática. Vim fazer depois que ouvi falar nas aulas de futebol. Só que não sabia que gostava tanto disso. No começo, foi um pouco difícil, mas depois de ir conhecendo na prática foi ficando fácil”, ele conta.

Para além da prática na tecnologia, o curso também ajudou, na sua opinião, a reorganizar suas prioridades para o futuro. “Minhas metas agora são proporcionar uma vida melhor para a minha família, dar uma casa para minha avó. Eu não sou muito chegado  com o meu pai, isso tem me ajudado a melhorar minha relação com ele”, compartilha o adolescente.

"Eles se apagaram muito, tem aqui um pouco como uma casa", conta professora
"Eles se apagaram muito, tem aqui um pouco como uma casa", conta professora |  Foto: Layla Mussi

Com a colega Ana Carolina Cardoso, de 15 anos, o resultado das aulas foi similar. Ela hoje acredita que o espaço encontrado na iniciativa a ajudou a entender melhor suas prioridades. A diferença, ela confessa, é que ela não era nada ligada ao universo tecnológico: "Foi estranho porque era a primeira vez que vi muita coisa. Agora eu já me adaptei. Eu não sabia mexer em nada, agora tô sabendo pelo menos o básico. Eu tinha curiosidade, de saber como que é".

Mais do que um projeto para estudar tecnologia e refletir sobre o futuro, o espaço para ele se tornou também uma espécie de 'segunda casa'. "Eles se apagaram muito, tem aqui um pouco como uma casa. Pode não ter nada e eles vem para ficar aqui. Acabaram criando laços e virando exemplos para outros fora daqui. Queremos aproveitar isso para também agregar valores para eles", afirma a professora Martha Rodrigues, de 43 anos, que hoje também participa do projeto.

"O complexo inteiro da Coruja é uma potência. Eu sei que a gente consegue de fato transformar a vida das pessoas falando sobre educação”, acreditam organizadores
"O complexo inteiro da Coruja é uma potência. Eu sei que a gente consegue de fato transformar a vida das pessoas falando sobre educação”, acreditam organizadores |  Foto: Layla Mussi

Esse apego ajudou o projeto a chegar onde está em tão pouco tempo. Com menos de dois anos de atividade e uma turma já certificada pelas aulas de programação, a iniciativa já se prepara para receber uma nova leva de mais de 15 novos alunos inscritos para as aulas gratuitas, com a meta de seguir alcançando adolescentes da região.

"A gente não imaginava nada disso, o quanto que seria gratificante fazer tudo isso. Sempre falo que amo meu emprego na Way2, incrível o que faço lá, mas é impagável o que eu faço aqui. Não tem preço essa transformação que você vê na vida dos jovens. Isso é o que me move, o que nos move", conclui Thaís.

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