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Aqui tem história: Mercado de Peixe São Pedro, de geração para geração

O tradicional Mercado São Pedro é considerado uma das 7 Maravilhas da Cidade de Niterói e atrai visitantes de todo o estado

relogio min de leitura | Escrito por Rafaela Marques | 09 de julho de 2023 - 16:30
Ênio de Souza trabalha vendendo frutos do mar há 38 anos
Ênio de Souza trabalha vendendo frutos do mar há 38 anos -

“De geração para geração”, é assim que o comerciante Gilberto Guimarães Ferreira Marques, de 49 anos, define sua relação com o Mercado de Peixe São Pedro, que faz parte de sua vida desde que nasceu. Seu pai, avô, tias e seus irmãos, todos passaram pelo Mercado em algum momento da vida, e não importa onde estejam, todos têm o Mercado São Pedro como parte de suas histórias. Mas qual é a história desse lugar tão importante para a cidade de Niterói e para tantas famílias da região?

De acordo com a pesquisa “O Município De Niterói Na Vanguarda Da Sustentabilidade No Setor Pesqueiro - Da Produção À Mesa Do Consumidor E À Rede Pública De Ensino”*, orientada pelos professores Dra. Eliane Teixeira Mársico e Dr. Sérgio Borges Mano, da Universidade Federal Fluminense (UFF), o Mercado de Peixes São Pedro foi inaugurado inicialmente no século XX. Construído sobre estrutura de palafitas que adentrava a Baía de Guanabara, ele era localizado onde atualmente é o Terminal Rodoviário Presidente João Goulart. Toda a sua estrutura era de madeira e contava com as barracas de comercialização de peixes, bares, restaurantes e uma capela dedicada a São Pedro, o padroeiro dos pescadores.

São Pedro é considerado padroeiro dos pescadores
São Pedro é considerado padroeiro dos pescadores |  Foto: Filipe Aguiar
  

Na época, a Ponte Rio-Niterói ainda não havia sido construída, portanto, o pescado que vinha em caminhões tinham que dar a volta por toda a baía até chegar em Niterói, ou vir através de embarcações. Mas a situação mudou, quando em 1940 foi autorizado o plano de Urbanização e Remodelação da cidade de Niterói, que tinha como objetivo o aterro da Praia Grande e a abertura da futura Avenida Amaral Peixoto. 


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A conclusão das obras do novo aterro ocorreu apenas em 1974, com um enorme atraso. Portanto, nesse período, o mercado teve que ser fechado e se mudar para um novo local. A Prefeitura de Niterói, em 1968, cedeu um novo espaço, na rua Desidério de Oliveira, mas o local não agradou os comerciantes, que criaram uma associação e decidiram por comprar com os próprios recursos, o terreno onde atualmente o mercado se encontra. De acordo com o valor investido por cada comerciante, uma determinada quantidade de boxes foi cedida, e o atual mercado foi inaugurado em 1971.

Pintura de como era o "Mercado Velho", pode ser vista no segundo andar do Mercado São Pedro
Pintura de como era o "Mercado Velho", pode ser vista no segundo andar do Mercado São Pedro |  Foto: Filipe Aguiar
  

Para os comerciantes que hoje chamam o mercado de palafitas como “Mercado Velho”, a história do Mercado de Peixe faz parte de suas vidas e de seus trabalhos que, para muitos, começou décadas atrás. 

Gilberto Ferreira Marques, de 74 anos, é um dos comerciantes que começou sua trajetória no mercado ainda na adolescência, e hoje, tem uma história de mais de 60 anos com o local. “Meu pai foi um dos fundadores do Mercado Velho, as primeiras peixarias foi meu pai que ajudou a construir. Desde os meus 12, 13 anos eu trabalhava do lado de fora do mercado, nas barracas que ficavam na calçada. Fiquei lá até os meus 14 anos e depois fui trabalhar em outro lugar. Anos depois, voltei pro Mercado e graças a Deus fui bem  sucedido.”, contou Gilberto, que é dono de uma peixaria e do restaurante “Rafa Mar”.

Gilberto Marques é dono de uma peixaria e do restaurante “Rafa Mar”
Gilberto Marques é dono de uma peixaria e do restaurante “Rafa Mar” |  Foto: Filipe Aguiar
 

Apesar da fama por seus produtos e pela comida boa, o tradicional Mercado, que atualmente conta com 39 boxes no primeiro andar e 7 restaurantes no segundo, tem algo a mais que encanta trabalhadores e clientes. Para os comerciantes, unanimidade: um amor antigo que atravessa gerações.

“Minha história com o Mercado é simples: vem de geração para geração. Começou com o meu avô, depois com o meu pai, meu tio, minhas tias, e eu fui criando gosto também. Trabalhei aqui, minha irmã e meu irmão também trabalharam por um bom tempo, e isso aí tá seguindo na família.”, contou Gilberto Guimarães, conhecido apenas como Guimarães ou “Guima”, que trabalha há mais de 30 anos como vendedor de pescados. 

Seu pai, Gilberto Marques, apelidado de “Gil” pelos mais próximos, conta com orgulho que é maravilhoso ter criado seus filhos com essa relação com o Mercado São Pedro, e relata o quanto é feliz trabalhando lá: “Ah eu adoro trabalhar aqui no Mercado, adoro. Eu gosto, isso aqui me faz feliz. Às vezes quando me perguntam se eu não vou me aposentar, eu digo: Pra quê? É muito bom fazer o que gosta, toda profissão quando você trabalha com gosto é uma diversão. E assim é pra mim.”

Guimarães é filho de Gilberto Marques e trabalha há mais de 30 anos no Mercado
Guimarães é filho de Gilberto Marques e trabalha há mais de 30 anos no Mercado |  Foto: Filipe Aguiar
  

“A melhor parte do trabalho aqui em si, é que você conhece muitas pessoas. E além de conhecer, você pode chegar e mostrar sempre o seu trabalho, trazendo um produto de qualidade para o seu cliente, e não é mais aquela coisa de balconista e freguês. Passa a ser praticamente amigo, porque vê em decorrência do dia a dia, e além de pegar credibilidade, forma grandes amizades.”, explica Guimarães.

Ênio Almeida de Souza, de 67 anos, também é comerciante no Mercado, e já trabalha há 38 anos com pescados no local. Foi ele quem trouxe a jovem de 24 anos, Marcela Peratoni, para trabalhar com a venda de frutos do mar, e explica o que mais lhe atrai na rotina do trabalho. “Aqui trabalha muito né, se torna até um vício. Quem tá aqui, pra trabalhar em outro lugar é difícil, porque aqui a gente trabalha de bermuda, do jeito que quiser… Não tem que estar todo arrumado, com aquele requinte todo. E a gente passa a ter amizades e cria o costume com esse horário de madrugada. A gente se adapta, porque é um trabalho meio rústico, em que a gente se machuca às vezes, mas é bom. Me acostumei e não quero outra vida.”, conta o comerciante. 

Para Marcela, que já trabalha há dois anos como atendente em um dos boxes do primeiro andar, o horário é um ponto muito positivo do trabalho, mas a satisfação de entregar o melhor pro cliente não tem preço. “O bom é conhecer os alimentos, ficar por dentro das coisas e tentar levar a maior qualidade possível para os pratos, bem frescos, e também para os clientes.”

Ênio de Souza trabalha vendendo frutos do mar há 38 anos
Ênio de Souza trabalha vendendo frutos do mar há 38 anos |  Foto: Filipe Aguiar
  

Por sua extensa história com a cidade de Niterói, o Mercado de Peixe São Pedro é considerado uma das 7 Maravilhas da cidade sorriso, e recebe turistas e clientes de diferentes partes do Rio de Janeiro. Ainda que a fama seja grande, é entre os clientes de todo dia que o Mercado se destaca, e conquista gerações inteiras de diferentes famílias niteroienses.

A história das irmãs Valesca e Cristina, de 54 e 49 anos, respectivamente, começou ainda na infância, quando acompanhavam seus pais na compra de pescados. Hoje, já adultas, e com suas vidas individuais, ainda voltam para comprar nos mesmo lugares, e explicam: “Aqui, além de ter o melhor preço, é tudo fresco, tudo de boa qualidade, e o atendimento também faz a gente voltar. O atendimento que chama o cliente né. Estamos em casa”

Segundo a professora Eliane Mársico, o Mercado de Peixe São Pedro é um local de memória, cultura, lazer, turismo e comércio no Estado do Rio de Janeiro. É um enorme polo gastronômico, que vai além da comida. Tem função cultural, pois carrega consigo as memórias e tradições pesqueiras da cidade de Niterói. Tem função de lazer pois é um bom lugar para cozinheiros e amantes da boa culinária visitarem, já que oferece peixes frescos e de boa qualidade para comercialização. E tem função social, que é gerar renda através da comercialização de pescado.

O Mercado de Peixe São Pedro é um local de memória, cultura, lazer, turismo e comércio no Estado do Rio de Janeiro
O Mercado de Peixe São Pedro é um local de memória, cultura, lazer, turismo e comércio no Estado do Rio de Janeiro |  Foto: Filipe Aguiar
  

“É preciso lembrar que o mercado de peixes é privado e muitas vezes carece de auxílio da Prefeitura, sendo necessário garantir cursos de capacitação para os comerciantes, seja no âmbito administrativo, seja no âmbito sanitário. O mercado tem uma enorme trajetória histórica e cultural, sendo um ponto extremamente importante da cidade, trazendo turistas do Estado do Rio de Janeiro e também de todo o Brasil.”, afirma Eliane.

Com muito orgulho, todos que visitam o Mercado São Pedro saem com a mesma sensação: a de que todos deveriam conhecer esse lugar de tanta história e cultura na cidade de Niterói. O endereço atual é Avenida Visconde do Rio Branco, número 55. Vale a pena a visita!

*Sob supervisão de Cyntia Fonseca

*A pesquisa “O Município De Niterói Na Vanguarda Da Sustentabilidade No Setor Pesqueiro - Da Produção À Mesa Do Consumidor E À Rede Pública De Ensino” visa trabalhar melhorando as condições de comercialização do pescado e outras metas, e é uma parceria entre a Prefeitura de Niterói e a Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense (UFF), em associação com a Fundação Euclides da Cunha (FEC). O projeto é coordenado pelos professores Dra. Eliane Teixeira Mársico e Dr. Sérgio Borges Mano, com a participação da pós doutoranda Jane Silva; dos doutorandos Thaís Regina Pereira e Levison Cipriano, pelos mestrandos Bruno Toledo e Simone Gomes, pela Dra Flávia Calixto, pelo Dr André Medeiros, e pelos alunos de graduação Camile Luz, Gabrielle Vieira, Ana Clara Guimarães, Luiz Felipe Guimarães e Thiago de Azevedo.

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