Vítima de feminicídio em Niterói é atacada em rede social por questões políticas
Perfis falsos fizeram comentários atacando a jovem em seu Facebook

A jovem Vitórya Melissa Mota, de 22 anos, assassinada na quarta-feira (02) a facadas na praça de alimentação do Plaza Shopping, em Niterói, passou a ser atacada nas redes sociais por questões ideológicas. Vítima de um crime brutal, sua preferência política virou alvo de perfis falsos nas redes sociais.
Em seu perfil no Facebook, Vitórya deixava clara sua preferência política e seu posicionamento contra o presidente Jair Bolsonaro. Ela compartilhou publicações críticas ao governo federal, ao atraso na vacinação e à condução da gestão da pandemia no Brasil. Isso foi fator suficiente para que pessoas mal intencionadas pudessem usar como pretexto para atacá-la.

"Tão obcecada pelo PT que acabou sendo vítima do que eles mandam fazer para ocupar o poder [...] se tivesse esquecido o Bozo e atentasse aos militantes a sua volta, talvez estaria viva. A facada que tanto festejou também a matou", diz um dos perfis falsos, comparando o caso de feminicídio de Vitórya à facada que levou o presidente Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018.
"Eu ainda não vi um ser se levantar contra o presidente Bolsonaro e se dar bem... todos levaram o farelo", escreveu outro perfil.
Segundo a Polícia Civil, o algoz de Vitórya foi identificado como Matheus dos Santos da Silva e tem 21 anos. Amigos da vítima contaram aos agentes que Matheus era apaixonado pela jovem e que ele se declarou para ela recentemente, mas que não foi correspondido. Após matar Vitórya, ele tentou fugir do local, mas acabou detido por populares até a chegada da Polícia Militar.

Além dos comentários de ataque motivados por questões políticas, outras pessoas tentaram justificar o crime realizado pelo rapaz. "No momento em que ele chegou e se declarou, ela deve ter se achado no direito de humilhar, menosprezar e bloquear ele. E, além disso, queimar ele com a turma inteira [...] Vocês não sabem se ela só fez X ou Y. Não sabem se ela acabou com a vida do cara por diversão. É o que 90% das vezes as garotas fazem, ainda mais com essa cultura tóxica e essas ideologias que dão carta branca para elas fazerem o que quiserem e não sofrerem nenhuma consequência", escreveu um homem.
Outros comentários, ainda piores que os anteriores, abordam questões sexuais relacionadas à vítima. Todos os perfis que fizeram comentários desse tipo não possuem fotos de pessoas reais.

Por outro lado, outras pessoas criticaram os comentários agressivos e os ataques por questões políticas em um momento tão delicado. "Estou vendo os comentários aqui e estou chocada com quanta maldade há nesses comentários. Como uma pessoa pode ser tão covarde para criar perfis fakes apenas para falar coisas ruins sobre algo tão triste? O ser humano está cada dia pior", escreveu uma mulher.
Outros comentários sugeriram à família e também ao Facebook, através de marcações ao perfil oficial da plataforma, solicitando que a empresa transformasse o perfil da jovem em um "perfil memorial". Quando um perfil do Facebook é transformado em memorial, o texto "em memoria de" aparece antes do nome da pessoa que faleceu e os posts anteriores continuam visíveis, mas não será possível fazer login na conta e usá-la para outro fim, tornando-se um arquivo.
Em nota ao jornal O SÃO GONÇALO, o Facebook disse que "está analisando os conteúdos e agradece que esse caso tenha sido levado à sua atenção". "Não permitiremos a publicação de conteúdo que exalte, comemore ou ridicularize a morte de alguém. Familiares de uma pessoa falecida podem pedir que o seu perfil seja transformado em memorial ou que sua conta seja removida de nossa plataforma", concluiu a empresa.
A Polícia Civil também foi procurada para comentar sobre o caso, mas não retornou o contato.
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*Estagiário sob supervisão de Thiago Soares