Jogadora gonçalense conquista título no Sul com time do Grêmio
Atleta começou jogando nas ruas do bairro Antonina e hoje carrega trajetória de vitórias e duas convocações para Seleção Brasileira

Quem vê a lateral esquerda do time feminino do Grêmio, Ana Clara Guimarães, segurando a taça Campeonato Gaúcho junto de seu time pode não imaginar que, há pouco mais de 10 anos, era nas ruas de São Gonçalo que ela demonstrava seu talento com a bola. Nascida no bairro Antonina, a atleta de 18 anos, além de fazer parte da equipe campeã do Gauchão 2022, já foi convocada duas vezes para a Seleção Brasileira de futebol feminino.
“Eu achava que ia só jogar bola na rua e só. Hoje em dia, vejo todo meu futuro nisso”, conta a jogadora, que está de volta ao município natal para passar as férias com o fim da temporada. E que temporada; o Grêmio, equipe de Ana, saiu campeão após uma goleada de 4 a 1 na segunda partida da final do campeonato feminino.
Além da vitória no campo, outro motivo para comemorar, segundo a jogadora, está na torcida. Ela relata que cerca de 20 mil torcedores compareceram a Arena do Grêmio para assistir a partida. “O futebol feminino, hoje em dia, está ganhando sua valorização e toda vez que acontece isso de o estádio encher, mesmo quando não é com o nosso time, a gente fica muito feliz. E quando é com a gente, ficamos mais felizes ainda”, comemora a lateral.

Nos seus primeiros anos com o esporte, ainda em São Gonçalo, a presença das mulheres no esporte era um pouco diferente. “Quando eu comecei a jogar na infância, em São Gonçalo, eu era sempre a única menina do time”, relembra Ana, que começou jogando na rua e, em seguida, migrou para as quadras de futsal escolar, onde iniciou sua trajetória de conquistas com o esporte.
“Quando entrei no Cejop (Centro Educacional Jose do Patrocinio), comecei a jogar no time de futsal da escola. Ganhei uns cinco campeonatos gonçalenses seguidos por lá. Depois, tive que me mudar para o Colubandê e comecei a estudar no Colégio Odete São Paio. Com a equipe de lá, a gente conseguiu ganhar o Carioca e fomos campeãs no Campeonato Brasileiro de futsal feminino escolar”, celebra a jogadora.
Foi pouco depois dessas vitórias que ela começou a cogitar fazer testes para a categoria de base de algum clube, inspirada por duas amigas que passaram na seleção para o Santos. Ana Clara passou no teste para o Vasco e, já durante o primeiro Brasileirão de base disputado, ganhou destaque o bastante para ser convocada para a Seleção Brasileira Sub-17, aos 15 anos.
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“Eu fiquei doida, não sabia como reagir. Não cogitava, até porque foi logo depois do meu primeiro campeonato”, confessa. Na mesma época, ela também foi campeã carioca com a camisa cruz-maltina. O título arrematou uma jornada de muitos desafios para a gonçalense que “saía da escola meio dia e meia e ia direto para Duque de Caxias. Chegava em cima da hora do treino e só chegava em casa de novo lá pelas 21h, 22h”.
Um desafio maior ainda, porém, veio na temporada seguinte, com a proposta para jogar no Sul. “No meio do ano de 2021, recebi a proposta do Grêmio. Só fechei os olhos e fui”, ela explica. A mãe da jogadora, Kátia Fernandes, de 40 anos, conta que entendeu a proposta como uma oportunidade certa na hora certa. “Ela teve outra oportunidade antes, mas eu não aceitei ela ir porque não achava que era o momento. Aí, quando ela voltou de uma convocação, quando senti que ela estava segura, eu falei: ‘vai, agora é sua vez’”, explica a mãe.

E, de fato, foi a vez dela. Com a camisa do Grêmio, ela disputou novamente Brasileiro, o Gauchão e a Supercopa. Neste último, fez parte da primeira equipe feminina do time gaúcho a disputar a competição. Foi convocada mais uma vez para a Seleção Brasileira e agora carrega a medalha do Estadual 2022 no Rio Grande do Sul.
“Sinto como se tivesse uma missão concluída”, compartilha Ana. Para ela, o segredo para enfrentar ‘missões’ como essa foi não deixar se perder o amor pelo esporte. “Tenho uma amiga que, uma vez, me falou uma frase que sempre ficou na minha cabeça. Ela disse: ‘Tenha responsabilidade, mas nunca se esqueça de que você começou isso por amor’. Todo jogo que eu vou eu carrego meu terço comigo e essa frase na cabeça”, declara.
Esse amor pelo jogo a ajudou a transpor com facilidade diferentes barreiras, que vão desde coisas mais simples, como o clima mais frio do Sul, até desafios sociais mais complexos, como o preconceito por ser mulher e jogar futebol. “Preconceito ela enfrentou muito. Só que ela lida tão bem com isso que nem liga, tira de letra”, se orgulha a mãe da jovem.
Ana Clara espera que, no futuro, mais histórias como a sua possam surgir de São Gonçalo. “É importante incentivar as crianças da cidade no esporte. Sei que tem muita gente que joga para caramba aqui, grandes atletas gonçalenses, e acho que precisam só de um pouco mais de visibilidade”, finaliza a atleta de 18 anos.
