Crítica OSG | 'Bugonia': Bilionários são seres humanos?
Longa que estreia nesta quinta (27) mistura humor ácido com sci-fi para fazer crítica a sociedade atual e o capitalismo corporativista

O SÃO GONÇALO foi convidado pela Universal Pictures Brasil para uma sessão antecipada do mais novo filme de Yorgos Lanthimos (Pobres Criaturas, A Favorita, Tipos de Gentileza), “Bugonia”, que estreia nesta quinta-feira (27) em todos os cinemas do Brasil. O longa é estrelado por Emma Stone (La La Land e Pobres Criaturas), Jesse Plemons (Tipos de Gentileza e Guerra Civil) e do estreante Aidan Delbis.
O filme mostra o sequestro de Michelle (Emma Stone), CEO da Auxolith Corpo, uma poderosa empresa da indústria farmacêutica americana pelos primos Teddy (Jesse Plemons) e Don (Aidan Delbis), dois criadores de abelhas conspiracionistas, que acreditam que ela é uma alienígena da galáxia de Andrômeda enviada para destruir a Terra.
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Em “Bugonia”, é difícil de não comparar todo o contexto do filme com as alegações da década passada onde Mark Zuckerberg, CEO da Meta, e diversas celebridades seriam na verdade reptilianos, seres capazes de mudar de forma, que controlam a sociedade em diversas camadas, construindo a “Nova Ordem Mundial”. Essa é só mais uma das teorias da conspiração que circulam a internet sem embasamento científico ou lógico e mostra o impacto e influência do fluxo de desinformação nas redes sociais.
Lanthimos usa dessa fragilidade atual nos meios de comunicação e se inspira no movimento “Incel” para criar os personagens responsáveis pelo sequestro. Teddy e Don são dois jovens de uma família de apicultores, onde principalmente o primeiro consome esses conteúdos conspiracionistas na internet, o que o leva a encabeçar o plano e convence o primo a participar da abdução da CEO.

A motivação do sequestro vem por diversos motivos entre uma vingança pessoal pelo o que a empresa fez com a mãe de Teddy, Sandy (Alicia Silverstone), no tratamento experimental da doença que ela possui e também pelo impacto ambiental que a empresa causou, principalmente nas abelhas, auxiliando no Distúrbio do colapso das colônias (DCC), que explica o desaparecimento das abelhas no mundo inteiro devido ao uso de agrotóxicos e das mudanças climáticas.
A personagem de Plemons é alguém muito excêntrico, quebrado pelas experiências que teve. Ele encontra conforto nos livros, nas conspirações e em todo lugar considerado errado para lidar com os traumas que sofreu, indo a fundo no lúdico. O ator é excelente em mostrar essa alienação do personagem, que se convence que o ponto de vista que encontrou é o único existente, direcionando sua raiva à uma pessoa (Michelle), inclusive manipulando seu ingênuo primo à participar da loucura e devoção para salvar a humanidade.

O desenvolvimento do enredo avança nas barganhas de Michelle para garantir sua liberdade, usando seu jogo de cintura para conseguir sair da situação a que foi introduzida. O filme é a quarta colaboração de Emma com o diretor, sendo o terceiro consecutivo desde 2023 e aqui ela faz uma personagem diferente das anteriores. A CEO é cínica e manipulativa, com a atriz brilhando em mostrar todas as facetas da personagem, se adaptando às bizarras situações às quais é submetida, até chegar a um monólogo excepcional no terceiro ato, que é o ápice da estranheza do filme.
Essa estranheza é comum nos filmes do cineasta grego, que sempre faz uma abordagem bem irreal do que é apresentado. Porém aqui, o bizarro tem um tom cínico que transforma diversas cenas de tensão em momentos que vão te fazer rir dos absurdos mostrados. O problema disso é que uma hora acaba se tornando cansativo, o desenvolvimento no filme é capitular, mas acaba caindo na mesmice, parece andar para os lados e não para frente.
Outro ponto negativo do filme é o excesso de signos que o diretor leva ao filme, que acabam ficando largados no decorrer da trama.
Apesar disso, há uma brilhante ode ao terraplanismo na mudança de capítulos, onde o globo terrestre vai se achatando com a chegada do eclipse, que seria o momento em que a suposta alienígena faria contato com a nave mãe.

O termo “Bugonia” se origina no antigo mediterrâneo, onde as colméias de abelhas seriam criadas por esterco de vaca, uma nova faceta da colônia. No filme, as alegorias com colmeias e abelhas são feitas de diversas maneiras, como na figura da Michelle sendo líder (abelha rainha) de uma empresa (colmeia) que está passando por uma crise por conta do excesso de trabalho dos operários e nas crenças de Teddy de que a mesma seria responsável pelo extermínio dos animais. E ele e o primo, que diversas vezes durante a execução do plano se questionam se o que estão fazendo é o certo, seriam os salvadores da humanidade.
Nos minutos finais, o filme abraça seu lado satírico e leva direto para o apoteótico da ficção científica, trazendo a emoção que faltava em outros momentos do longa, deixando de lado o estranho para abraçar o absurdo.
Essa abordagem que o diretor traz ao filme é próxima de seus antecessores, mas traz um cenário pé no chão, que potencializa os defeitos da sociedade dos tempos atuais e escracha o ridículo do culto à masculinidade, além de usar o espaço para cutucar os impactos das fake news, mídias sociais, grandes empresas e dos bilionários na vida do cidadão médio. Lembrando que a natureza sempre prevalece. Bugonia é divertido, esquisito e te faz questionar como o mundo chegou onde chegou.
NOTA : ★★★★☆
FICHA TÉCNICA :

DURAÇÃO : 96 Minutos
DIREÇÃO : Yorgos Lanthimos
ROTEIRO : Will Tracy e Jang Joon-hwan
PRODUÇÃO : Ari Aster, Yorgos Lanthimos, Emma Stone, Yorgos Lanthimos...
ELENCO : Emma Stone, Jesse Plemons, Aidan Delbis e Alicia Silverstone
Lançamento : 27/11/2025
Distribuição : Universal Pictures Brasil