Vozes Periféricas: Projeto com reconhecimento internacional impacta a vida de mulheres na Comunidade do Salgueiro
Iniciativa coordenada pelo Movimento de Mulheres em São Gonçalo (MMSG) foi escolhida para receber apoio de fundação filantrópica da cantora Selena Gomez

Reconhecido internacionalmente, um projeto social criado em São Gonçalo tem impactado diretamente a vida de dezenas de mulheres em situação de vulnerabilidade social na periferia da cidade. O “Vozes Periféricas”, iniciativa organizada pelo Movimento de Mulheres em São Gonçalo (MMSG), atua há cinco anos com atendimento psicossocial a moradoras do Complexo do Salgueiro e chamou a atenção de uma fundação filantrópica gerida pela cantora americana Selena Gomez.
Focado em oferecer apoio social, psicológico e jurídico para mulheres que vivem na comunidade, o projeto “Vozes Periféricas” foi criado em 2020 e, há dois anos, faz parte das iniciativas apoiadas pelo Rare Impact Fund, fundo filantrópico criado pela cantora para financiar projetos dedicados ao cuidado com a saúde mental. O apoio acontece através da Brazil Foundation - instituição que conecta projetos brasileiros a investidores estrangeiros.

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“A Selena escolheu dois projetos no Brasil que trabalhassem com a saúde mental das mulheres e nós fomos um dos projetos aprovados. Desde 2023, a cantora Selena Gomez - através da marca de cosméticos que ela tem, a Rare Beauty, e do Rare Impact Fund - passou a apoiar as mulheres do Complexo do Salgueiro, com maior atenção para as mulheres do Conjunto da Marinha e da Palmeira”, destaca Marisa Chaves, fundadora do Movimento de Mulheres em São Gonçalo.

No último mês de junho, o “Vozes Periféricas” foi uma das ações selecionadas para representar o Brasil no workshop de Comunicação Estratégica e Narrativa de Impacto da Rare Beauty Fund, que aconteceu em Nova York. “Cria” do Salgueiro, a psicóloga Patrícia Muniz, que atua na coordenação do projeto, viajou em nome da iniciativa para participar do evento em Manhattan.
“Foi uma experiência muito emocionante não só para mim, mas para minha família, para o Movimento de Mulheres, para as mulheres daqui… Eu estive lá enquanto representante não apenas do Movimento de Mulheres, mas também das mulheres do Salgueiro”, conta Patrícia.






Nascida e criada na comunidade, a psicóloga, que é mestre em Subjetividade, Política e Exclusão Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), acredita que o trabalho com as mulheres através do projeto é uma forma de carregar os saberes e conhecimentos que adquiriu para o lugar de onde partem suas raízes.
“A oportunidade de poder trabalhar com o Vozes Periféricas foi e tem sido a oportunidade de poder devolver para o meu chão, para minha comunidade, um pouco de tudo aquilo que ela fez e continua fazendo comigo. O Salgueiro e a minha família me formaram enquanto cidadã nesse mundo e a universidade me formou enquanto uma profissional, mas muito do que eu sou enquanto profissional tem relação direta com o que eu sou enquanto pessoa também”, reforça Patrícia.
No projeto, ela é responsável por realizar o acompanhamento psicológico das mulheres participantes, que acontece através de atendimentos individuais e de encontros em grupo. Além disso, as 60 mulheres participantes também se encontram semanalmente para atividades de formação em artesanato e arte criativa.

As oficinas têm uma dupla função: ao mesmo tempo em que ensinam uma nova possibilidade de atividade profissional para as mulheres, também adquirem fins terapêuticos de acordo com a realidade de cada uma. Graziela Marilac, de 45 anos, conta que entrou para o Vozes Periféricas em 2020, época em que enfrentava um intenso quadro de ansiedade e depressão. Hoje, ela encontrou no artesanato uma alternativa para cuidar da saúde mental.
“O artesanato me traz uma renda e também me ajudou muito, porque houve uma época que eu não conseguia sair de casa. Tinha medo; se falasse que eu tinha que ir em Niterói, eu ficava desesperada. Eu não conseguia sair de casa. Hoje em dia, eu me sinto feliz e livre, porque eu saio, faço as coisas e fico muito feliz de poder pegar um material reciclável, que outrora ia para o lixo, para fazer artesanato. É algo que ajudou muito na minha saúde. Eu falo que estou curada graças ao artesanato”, conta a moradora.

Outras atividades que o grupo realiza são as visitas culturais a museus e teatros, assim como a participação em palestras sobre diferentes assuntos. A aposentada Sandra Regina Dias, de 66 anos, conta que todas as participantes sempre sentem que aprenderam algo novo ao voltar de cada reunião.
“É um aprendizado. A Marisa traz muitos palestrantes para falar sobre vários assuntos, vários temas. A gente fica sabendo de coisas que a gente nem imaginava como era, sabe? É bem instrutivo, bem educativo. Aprendemos coisas que a gente vai precisar - ou, de repente, já precisou - e não tinha nem ideia de como é”, afirma Sandra.

Ao todo, o MMSG estima que mais de 3 mil mulheres já foram beneficiadas direta ou indiretamente pelo projeto - seja com a participação, seja com atividades pontuais ou paralelas de auxílio.
“É sobre possibilidades, é sobre mostrar outros caminhos. Eu acho que na favela, na periferia, muitas vezes falta isso: pessoas dispostas a mostrar outros caminhos para os moradores. É isso que o Movimento de Mulheres tem se dedicado a fazer quando se propõe a ocupar esse espaço da favela”, completa Patrícia
Interessadas em participar ou conhecer melhor as ações do Movimento podem entrar em contato através dos telefones 2606-5003 e (21) 98464-2179. A sede do MMSG fica na Rua Rodrigues Fonseca, 201, no bairro Zé Garoto, em São Gonçalo, e funciona de segunda à sexta, das 9h às 17h.
