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Arte urbana: A música de rua como ferramenta de transformação social que possibilita o sonho de chegar aos palcos

O SÃO GONÇALO conversou com jovens músicos gonçalenses que se apresentam nas ruas e seguem determinados em busca do desejo de viver da arte

relogio min de leitura | Escrito por Lívia Mendonça | 21 de julho de 2025 - 11:26
O grupo Quarter Bl4ck, formado em 2020,segue realizando apresentações pelas ruas das cidades de Niterói e São Gonçalo
O grupo Quarter Bl4ck, formado em 2020,segue realizando apresentações pelas ruas das cidades de Niterói e São Gonçalo -

Espalhados pela cidade em praças, esquinas, estações e transportes públicos, os artistas de rua exercem sua arte no espaço mais democrático para as mais variadas manifestações da cultura popular e a livre expressão artística. Estes profissionais abrem um atalho em toda a cadeia de produção musical, pois falam diretamente com o público, aproveitando a correria das grandes cidades para oferecer a arte como um elixir para diminuir as tensões do dia a dia. Eles ofertam seus dons e demonstram que o talento se mostra onde quer que seja. Com ou sem intermediários. Com ou sem tecnologia. 

Com papel crucial na democratização da cultura, tornando a música mais acessível, os músicos de rua enfrentam desafios diários enquanto trilham seu caminho rumo ao sonho de viver da música. O desejo de fazer sucesso, obter reconhecimento e chegar aos grandes palcos, ao lado de grandes artistas, está intrínseco no amor que depositam no trabalho árduo e repleto de dedicação que realizam nas ruas.


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Para entender a dinâmica do dia a dia do trabalho realizado nas ruas e contar um pouco sobre a história e os sonhos destes artistas, O SÃO GONÇALO conversou com um violinista e um quarteto de cordas, ambos da cidade de São Gonçalo, que mesmo jovens, seguem, determinados, em busca do desejo de viver da arte.


Autor: Divulgação/Arquivo Pessoal | Descrição:


Autor: Divulgação/Arquivo Pessoal | Descrição:

Há cinco anos vivendo da música através de apresentações em espaços públicos, nas ruas das cidades de Niterói e São Gonçalo, os integrantes do quarteto de cordas "Quarter Bl4ck" são prova viva de que a arte e a educação são a chave para um caminho que, mesmo desafiador, tem como resultado a realização de sonhos.

"Sempre gostei muito de música, mas realmente nunca imaginei um dia poder me ver como artista. Tudo começou quando um amigo que já tocava me apresentou o violino e eu logo de cara me interessei e quis aprender. Comecei a estudar flauta, para depois pegar o violino. Me formei como músico na Academia Juvenil da Petrobrás e atualmente faço licenciatura na UNIRIO, além de fazer parte da Orquestra de Cordas da Grota. Mas foi a partir do incentivo de dois amigos, que começaram a tocar nas ruas de Alcântara, que eu também ingressei nesse trabalho, e em 2020 formamos o grupo Quarter Bl4ck, nosso quarteto de cordas. E posso garantir que, mesmo sendo desafiador, é gratificante receber o apoio e reconhecimento das pessoas", contou Ítalo Santos, de 21 anos.

Ítalo Santos é músico pela Academia Juvenil da Petrobrás
Ítalo Santos é músico pela Academia Juvenil da Petrobrás |  Foto: Enzo Britto

Os outros três integrantes do grupo, Wellerson Botelho, 24 anos, Samuel Araújo, 21 anos e Wendersom Alcipio, 23 anos também ingressaram bem jovens no cenário musical, graças à incentivos educacionais, como a Orquestra da Grota [projeto social e musical com sede em Niterói que utiliza a música como ferramenta de inclusão social] e ao apoio de amigos e familiares.

"Desde pequeno sempre vi meu pai tocar guitarra na igreja, foi ele que me apresentou à música. Comecei a tocar bateria sozinho aos 13 anos, e aos 16 anos passei para a guitarra e para o violão, e me apaixonei ainda mais. E o que mais me incentivou a começar a tocar nas ruas foi a necessidade dentro de casa, porque essa era a única forma que eu tinha de ganhar dinheiro. E realmente, o dia a dia não é fácil, pessoas já me falaram para desistir da música, que não valia a pena, mas ao mesmo tempo sigo com o maior incentivo de todos, o dos meus pais, irmãos, e do pessoal da igreja, que sempre acreditaram em mim", afirmou Wellerson Botelho, músico e profissional do ramo da moda.

"O meu amor pela música veio através da minha família, principalmente através das minhas irmãs. Minha irmã toca violino atualmente, e foi ela que me colocou na aula de violoncelo, quando eu tinha 11 anos. Comecei na bateria, passei pelo violino e quando cheguei ao violoncelo me apaixonei de vez e estou até hoje. Acredito que o nosso maior desafio, enquanto artistas de rua, é entender que, literalmente, nem todo dia é dia. Vão ter dias ótimos e dias ruins, então a questão é realmente saber se adaptar e levar da melhor forma possível, levando a nossa arte, conquistando aplausos, sorrisos e tendo a certeza de que estamos no caminho certo", disse o violoncelista Samuel Araújo.

Para o estudante de música da UNIRIO, Wendersom Alcipio, de 23 anos, quarto integrante do grupo, o projeto da Orquestra de Cordas da Grota foi um projeto social fundamental para sua formação e amor pela música.

"Comecei na música aos 12 anos através do projeto Orquestra de Cordas da Grota, que oferece aulas de música gratuitas. Todos os alunos começam com a Flauta Doce, e o amor pela música veio através dessa vivência. Quis deixar a flauta e começar a estudar violino após assistir a ensaios na sede da Grota em Niterói, onde me emocionei com os alunos tocando juntos. E tocar nas ruas, trabalho que realizo desde 2019, começou como uma diversão, para mostrar realmente o que eu estava estudando, mas acabou se tornando uma fonte de renda, um meio onde aprendemos a lidar com críticas e aplausos", contou o violinista.

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A música de rua também pode ser um importante meio de subsistência para muitos artistas, possibilitando uma plataforma para a expressão artística e a interação direta com o público. Além disso, este tipo de arte é uma das formas mais autênticas e acessíveis de expor talento, permitindo ao artista interagir cara a cara com o público. Além de ser uma forma poderosa de visibilidade, a música de rua também traz a vantagem de tornar o artista uma “vitrine” em tempo real, onde a arte fala por si e toca quem está por perto. E neste contexto, onde a música fala mais do que qualquer palavra, o estudante e violinista Jhony Cristopher Pereira, de 21 anos, entende muito bem.

Também integrante da Orquestra de Cordas da Grota, onde iniciou aos 6 anos, o músico solo se divide entre o dia a dia de estudos e apresentações pelas ruas das cidades de Niterói e São Gonçalo.

"Meu amor pela música começou desde muito cedo, aos 6 anos, e aos 13 passei a mostrar meu trabalho nas ruas, com a intenção de conquistar algumas coisas que a minha família não tinha condições de me proporcionar. E foi a partir disso que comecei a conseguir trabalhos em festa de 15 anos, casamentos e jantares", contou o violinista.

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Sonho dos palcos

Muitos grandes artistas começaram suas carreiras nas ruas. A história da música está cheia de casos de artistas que se destacaram graças à exposição na rua, onde foram descobertos e receberam oportunidades. Desde músicos de jazz nos anos 1920 até estrelas do pop moderno, a música de rua é parte essencial da cultura e da indústria musical. A rua é, portanto, um local legítimo e de relevante importância para começar e expandir uma carreira musical.

Para um artista, especialmente um iniciante, praticar na rua é um excelente exercício de desenvolvimento, aperfeiçoamento e adaptabilidade. E, ainda que não seja fácil, a prática constante desenvolve habilidades que muitos músicos só adquirem depois de anos de palco, através do enfrentamento de olhares, o trabalho com o improviso e a conexão com o público.

Mas, ainda que as ruas venham a preparar o artista para a carreira artística de maneira efetiva, o sonho de viver da música, ter sucesso e se apresentar em grandes palcos, ao lado de grandes artistas, está intrínseco à todos estes músicos.

"Tenho o sonho de conseguir viver bem com a música e poder ajudar jovens de comunidades levando o conhecimento da música para eles, e tirando eles dessas realidade que temos na comunidade", disse Jhony Pereira. "Para quem ta começando, posso dizer que viver da música é dificil, mas vale a pena. A gente não pode desistir dos nossos sonhos, tem que estudar, tem que ter fé e correr atrás. Quero muito chegar aos palcos e conquistar uma melhor condição financeira", afirmou Wellerson Botelho.


Autor: Enzo Britto | Descrição:

"Meu sonho é poder me apresentar com grandes artistas, fazer um show para um grande público, e com certeza a gente pensa na fama, no crescimento do grupo, no reconhecimento nacional, é um desejo do nosso coração. Estou nessa caminhada, estudando, fazendo a minha parte. Não cheguei lá, e acredito que não estou perto de chegar, mas junto com o grupo estou persistindo e a gente acredita que vai dar tudo certo", garantiu Ítalo Santos. "Me vejo em um futuro próspero, onde eu possa estar nos palcos, fazendo o que eu amo que é viver de música, sem nunca desistir. E digo até mesmo para os jovens que estão começando, que muitas vezes se veem perdidos, sem caber qual caminho percorrer, que se o seu sonho estiver dentro do seu coração, acredita e segue. Por mais que pareça que não vai chegar, sua hora sempre chega", completou Samuel Araújo.

Ainda na temática de sonhos [realizados e em processo de realização], o violinista Wendersom Alcipio garante que o desejo de continuar aprendendo e investindo na música segue vivo em seu coração, mesmo diante das dificuldades.

"Meu maior sonho era viver da música, e já foi realizado. No entanto, quero continuar aprendendo, me qualificando e investindo na minha musicalidade para ter mais retorno. Quero estudar e tocar meu instrumento cada vez melhor, estar preparado para oportunidades e continuar fazendo o que amo. E para aqueles que, assim como nós, tem esse sonho, não permitam que a música se torne apenas "trabalho" e busquem inspiração constantemente para manter o amor pela música vivo. Com dedicação e visibilidade, as oportunidades surgirão", afirmou o músico.

Na rua, todo mundo é público e todos acabam sendo contagiados pelo palco aberto que se tornaram as vias públicas das cidades. Sejam músicos, atores, palhaços, acrobatas, malabaristas ou artesãos, estes artistas tem em comum não só o palco a céu aberto, como também a oferta de alegria e entretenimento nos trajetos rotineiros dos brasileiros mostrando que a arte de rua hoje é um berço de diversidade e ferramenta poderosa para a disseminação da cultura em sua forma mais pura. 

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