Arte é civilização, arte é cultura: conheça histórias de teatros de Niterói e SG
Nesta segunda reportagem, OSG conta a história de quatro teatros e dois espaços alternativos de cultura, localizados na região

Arte é civilização. E o teatro desempenha papel fundamental neste contexto de desenvolvimento cultural e social da população. Esta forma de arte proporciona ambientes onde o respeito e a sensibilidade se tornam grandes aliados na formação de cidadãos críticos, expressivos e opinativos.
Nas cidades de São Gonçalo e Niterói, por exemplo, estes espaços despertam para a expressão artística, reflexão e, claro, entretenimento.
Segundo o historiador e professor Rui Aniceto Fernandes, em ambas as cidades existe o registro de atividades teatrais desde a década de 1930, quando o teatro brasileiro passou por um período de transição, com o surgimento de novos grupos e a influência do modernismo, buscando uma linguagem teatral mais nacional e engajada.
"Precisamos destacar, em primeiro lugar, a atividade teatral, antes mesmo de falar dos teatros. No caso de São Gonçalo, essa distinção é fundamental, porque existiam nos anos 1930/1940, grupos chamados "amadores teatrais" [no sentido de amantes do teatro]. Essas pessoas estimulavam a representação de peças. Nesse momento, você não tem o teatro em si, como espaço físico, mas vê as apresentações de grupos em igrejas, como na Igreja Matriz, em reuniões, em associações comerciais, que tinham como objetivo esse estímulo à atividade teatral", contou o historiador.
"Se a gente for traçar um histórico, os espaços exclusivamente dedicados ao teatro são muito recentes em São Gonçalo, muito associados ao cinema e à rádio, com apresentações por exemplo no auditório municipal da Prefeitura, na década de 60. Os primeiros teatros começaram nos colégios da cidade, nos auditórios, e essa dinâmica se encaminha até o erguimento do Teatro do Sesc, e muito posteriormente, do Teatro Municipal de São Gonçalo. Entende-se que essa atividade artística é fundamental tanto em relação à expressão dos artistas, quanto ao conhecimento do público em relação às peças e autores de maneira geral", completou.
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Já em relação à Niterói, Rui Aniceto enfatiza o período em que a cidade se tornou capital da Província do Rio de Janeiro, durante o período imperial, até 1834, visto que, por concentrar uma elite política, econômica e financeira ativa, conquistou visibilidade e mecanismos para se espalhar, culturalmente, para todo o país.
"Em Niterói a história do teatro surge de maneira muito mais institucional. Também existem registros de apresentações de grupos teatrais em outros espaços, mas, no entanto, a história do teatro do Brasil está vinculada à história do teatro em Niterói, porque aquele que é considerado o primeiro dramaturgo e grande ator do século XIX - João Caetano dos Santos - arrendou o Teatro Municipal de Niterói, que hoje recebe seu nome. Então você tem um processo de institucionalização muito mais orgânico, visto que Niterói se tornou, no período citado, capital da província do Rio de Janeiro, então existia uma elite política, econômica e financeira muito mais efetiva do que em regiões interioranas, como São Gonçalo, na época", explicou o historiador.
"É importante ressaltar que essa atividade teatral em Niterói tem uma institucionalização que vai se mantendo ao longo do século XX, por conta da centralidade de Niterói como capital, na época. Mas, até os dias de hoje, Niterói ainda apresenta uma estrutura importante e significativa, que vem desse período. E também por conta de ter estes espaços formalizados, companhias e atores tem conseguido, cada vez mais, espaços na cidade para apresentações e divulgação de seus trabalhos de maneira sistematizada", concluiu Rui Aniceto.
E para enfatizar o valor cultural destes locais, considerados berços da arte e da cultura, O SÃO GONÇALO preparou duas reportagens para contar sobre as relevantes histórias dos teatros que estão, atualmente, em funcionamento em Niterói e São Gonçalo, além de espaços alternativos que também contribuem efetivamente para o desenvolvimento cultural da população local.
Clique aqui para ler a primeira reportagem.
Nesta segunda reportagem, conheça brevemente a história de outros quatro teatros e dois espaços alternativos de cultura, localizados nas duas cidades.
NITERÓI
- Teatro Nelson Pereira dos Santos
Localizada na Avenida Visconde do Rio Branco, 880, no bairro São Domingos, em Niterói, a Sala Nelson Pereira dos Santos, inaugurada no dia 30 de setembro de 2019, foi projetada pelo mestre da arquitetura: Oscar Niemeyer.
O espaço, que integra o Caminho Niemeyer, segundo maior complexo arquitetônico do artista no Brasil, fica localizado na Reserva Cultural [complexo cultural e gastronômico que combina cinema, restaurantes, livraria e áreas de eventos em um único lugar] e é considerada a maior sala multiuso da cidade, com capacidade para mais de 400 pessoas.
O cineasta Nelson Pereira dos Santos (1928-2018), que dá nome ao Teatro, foi um dos mais importantes nomes do cinema brasileiro, conhecido por sua influência no Cinema Novo [movimento cinematográfico brasileiro que surgiu na década de 1960, com o objetivo de criar um cinema mais autoral, engajado socialmente e com estética própria] e por sua atuação na formação de novos cineastas.
Ele também foi o fundador do curso de graduação de Cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF), contribuindo para a formação de novos profissionais da área. Entre suas obras mais conhecidas estão "Rio, 40 Graus", "Rio, Zona Norte", "Vidas Secas" e "Memórias do Cárcere", filmes que abordam questões sociais e culturais do Brasil, além de adaptar relevantes obras literárias.
O espaço, com estrutura em formato de rolo de filme, recebe artistas, produtores e organizadores para diversas atividades, desde shows, gravações, dança, teatro, atividades para o público infantil, até congressos e seminários. O local se tornou referência de espaço cultural da cidade, que abraça as mais variadas expressões artísticas com uma enorme potência no segmento audiovisual.
Artistas de renome fazem parte da extensa lista de apresentações e espetáculos oferecidos pelo Teatro Nelson Pereira dos Santos, entre eles, destacam-se o rapper Emicida, que se apresentou com a turnê "AmarElo", e o cantor e compositor Kiko Dinucci, com o espetáculo "Encruza". Além desses, o teatro também recebeu espetáculos como "Uma Saudação às Divas", com Thielly Lohane, Li Martins e Rafael Oliveira, homenageando grandes divas da música, e "Bob Zoom em Clube de Aventuras", com o personagem infantil e sua turma.



- Teatro UFF
O Teatro da UFF, também conhecido como Centro de Artes UFF ou Centro Cultural da Universidade Federal Fluminense, fica localizado na Rua Miguel de Frias, 9, em Icaraí. Inaugurado em 14 de agosto de 1982, o espaço se tornou, na época, um presente cultural para o público de Niterói e municípios vizinhos, já que o antigo teatro do Hotel Cassino Icarahy (atual prédio da Reitoria da UFF) estava fechado há 35 anos. Reformado e equipado com o que havia de melhor em termos de maquinário e conforto para a época, o Teatro da UFF viria a se tornar um espaço de referência, em Niterói, retomando a tradição do antigo Teatro Cassino Icarahy.
Além de espetáculos teatrais, o local também apresenta shows de diversos gêneros musicais, balés, debates, seminários e outros projetos culturais coordenados pelo Centro de Artes UFF ou em parceria com outras instituições.
Ao longo dos anos, o teatro se tornou um importante espaço para a produção e exibição das mais diversas representações de arte, oferecendo uma programação diversificada para a comunidade.
Na área de música, o Centro de Artes UFF conta com formações próprias que pesquisam e difundem os vários estilos: Sinfônico, com a Orquestra Sinfônica Nacional da Universidade Federal Fluminense, medieval e renascentista, com o conjunto Música Antiga da UFF; clássico e contemporâneo, com o Quarteto de Cordas da UFF e a vocal, com o Coro Jovem da UFF.
Em 1994, o espaço recebeu da Fundação Cesgranrio o Prêmio Qualidade Cultural, na categoria Cultura no Âmbito da Educação, pela excelência de sua programação.
Processo de modernização
Após um longo período de reformas e modernização, o Centro de Artes UFF foi reinaugurado em 2014, com nova vestimenta cênica e novo sistema de refletores, além de completo sistema de sonorização para shows e espetáculos, espaços físicos ampliados, camarins maiores e novos depósitos para equipamentos. A galeria, por sua vez, trouxe um sistema multimídia e nova iluminação para exposições.
Em seu conjunto de espaços, formando o mais completo centro cultural da cidade, fazem parte:
- Galeria de Arte UFF (galeria de artes plásticas),
- Espaço UFF de Fotografia (galeria de fotografia),
- Espaço Aberto UFF (instalações e workshops),
- Cine Arte UFF (sala de cinema e música)
- Teatro da UFF (teatro, dança e música)
Estão sediadas no centro de artes:
- Uma Orquestra sinfônica, a Orquestra Sinfônica Nacional (OSN-UFF)
- Um quarteto de cordas
- Um quinteto de música antiga



SÃO GONÇALO
- Teatro Municipal de São Gonçalo
Inaugurado no dia 1º de setembro de 2021, o Teatro Municipal George Savalla Gomes, também conhecido como Teatro Municipal de São Gonçalo, é uma homenagem a um dos ilustres moradores da cidade: o inesquecível Palhaço Carequinha. Localizado na Rua Dr. Feliciano Sodré, 100, no Centro de São Gonçalo, o espaço se tornou um importante centro cultural, palco para diversos tipos de espetáculos artísticos e eventos.
O Palhaço Carequinha, homenageado pelo espaço cultural, foi uma figura extremamente importante para a cultura de Niterói e São Gonçalo, especialmente por sua longa trajetória no circo e na televisão. Ele marcou gerações com seu humor cativante e bordões, além de ter sido um dos primeiros palhaços a ter um programa infantil na televisão brasileira, o "Circo Bombril". Sendo considerado um dos palhaços mais populares do Brasil, com grande reconhecimento no mundo do circo, Carequinha foi premiado como Melhor Palhaço Moderno do Mundo na Itália em 1964.
Com forte ligação com São Gonçalo, onde morou por muitos anos e onde realizava grande parte de seus espetáculos, o palhaço se tornou símbolo de orgulho para a região, representando a cultura e o entretenimento local.
História
Com apenas dois anos de existência, o Teatro Municipal gonçalense já se consagrou como palco para uma diversidade de espetáculos artísticos, tendo atraído um público de mais de 200 mil espectadores. O espaço oferece não apenas lazer e entretenimento, mas também fomenta a produção cultural local e promove o acesso à arte para a população.
A fachada do prédio do Teatro chama a atenção de quem passa pelo local. Com uma pintura artística do renomado grafiteiro e ilustrador gonçalense Marcelo Eco, a obra, denominada "Raiz Forte" [nome escolhido pelo artista em referência às suas origens], ocupa uma grande parede de 18 metros de altura por 14 de largura, em uma imagem minimalista e abstrata.
O Teatro Municipal possui capacidade de acomodação para 248 pessoas (188 na plateia e 60 no mezanino), o local possui, no segundo andar, 1 palco, 3 camarins, 1 banheiro individual masculino, 1 banheiro individual feminino. Já no térreo, possui 1 camarim adaptado para pessoa com deficiência, 1 banheiro masculino, 1 banheiro feminino e 1 banheiro PCD.
Com uma programação diversificada, incluindo espetáculos de comédia, além de formaturas, concursos e exposições culturais, o Teatro Municipal funciona diariamente, seguindo uma agenda repleta de eventos culturais e artísticos.
O espaço funciona como equipamento cultural fundamental para a cidade, contribuindo para o desenvolvimento artístico, social e econômico da região. Além disso, o Teatro Municipal também se destaca como um relevante "impulsionador" de carreira para os artistas locais, tanto para os que estão em início de carreira quanto para os mais experientes, contribuindo, assim, com a produção cultural da cidade.



- Teatro do Sesc São Gonçalo
O Teatro do Sesc São Gonçalo fica localizado dentro da unidade gonçalense do Serviço Social do Comércio, na Av. Pres. Kennedy, 755, bairro Estrela do Norte. Com capacidade para 350 pessoas, o local possui uma história marcada pela sua atuação como espaço cultural na cidade, oferecendo uma programação diversificada e atividades para a comunidade. Inaugurado, junto ao Sesc São Gonçalo na década de 1990, o teatro passou por diversas fases, adaptando-se às necessidades e demandas da região.
O Sesc São Gonçalo é uma das diversas unidade do Sesc Rio de Janeiro que oferece diversas instalações e atividades para a comunidade local. As instalações incluem teatro, sala de audiovisual, galeria de arte, biblioteca, lanchonete, academia, ginásio poliesportivo, uma quadra aberta, parque aquático, espaço verde, parque infantil, consultórios odontológicos, churrasqueira, salas de cursos e de ginástica. Além disso, o Sesc São Gonçalo também oferece atividades de lazer, aulas esportivas, oficinas de nutrição, ações de saúde, educação ambiental, trabalho com grupos de idosos e jovens, ações comunitárias, trabalhos de geração de renda e empreendedorismo, turismo social, biblioteca, cursos de idiomas, eventos e workshops.
Dentro deste complexo de atividades, o Teatro do Sesc São Gonçalo desempenha um papel importante na democratização do acesso à cultura, oferecendo atividades a preços acessíveis e com programação variada para toda a população.
O teatro também promove a valorização da cultura local, incentivando a produção artística da região e a participação da comunidade em eventos culturais, sendo assim, até o dias de hoje, um importante espaço de cultura e lazer na cidade, enriquecendo a vida cultural da comunidade.





Espaços alternativos culturais
Ainda que não funcionem como teatros em sua essência, diversos locais tem surgido no cenário cultural como ferramentas de divulgação e até mesmo como "palcos" para artistas e produtores. Estas opções contribuem para a disseminação da arte para os mais diferentes tipos de público, agregando uma boa dose de cultura ao município.
Um exemplo é o Centro de Tradições Nordestinas “Severo, Embaixador Nordestino” de São Gonçalo, também conhecido como Feira Nordestina de Neves, localizado na Rua José Augusto Pereira dos Santos, 80, em Neves, que é considerado um verdadeiro refúgio que celebra a música, a culinária e o artesanato característicos da ria Região Nordeste do Brasil.
Fundado em 25 de janeiro de 2020, o Centro de Tradições Nordestinas recebeu o nome “Severo, Embaixador Nordestino” em homenagem a Severino Pereira dos Santos, que faleceu em 2017, aos 65 anos de idade. Natural do sertão de Juazeiro do Norte, no Ceará, ele foi o fundador da Embaixada Nordestina em São Gonçalo.
Com diversas atrações culturais, o espaço, que abrange uma vasta área de 22 mil metros quadrados, possui uma infraestrutura composta por 24 quiosques, um palco destinado a espetáculos e uma área anexa com estacionamento próprio, oferecendo uma experiência completa aos visitantes.
O local contribui para a valorização da cultura nordestina, combate ao preconceito e fomenta a economia criativa local através de eventos e iniciativas, sendo ainda um importante espaço cultural e de lazer para a cidade de São Gonçalo.
Com shows, festas, eventos gastronômicos e atividades culturais para todas as idades, o Centro de Tradições Nordestinas se tornou um ponto de referência para a realização de eventos de grande porte na cidade, como o 2º Encontro Nacional de Motociclistas, o Baile dos Namorados, o SG Funk Fest, Festival “Oxente Sãogonça” e Festival Infantil de Capoeira, promovendo assim a integração entre diferentes grupos sociais, oferecendo um espaço de convivência e troca de experiências para toda a população e contribuindo para a inclusão social e desenvolvimento econômico de São Gonçalo.
O espaço cultural funciona às sextas, das 18h à 1h, aos sábados, das 12h à 1h e aos domingos, das 10h às 22h.





E, também compondo estes espaços alternativos culturais da cidade, está o Clube Esportivo Mauá, localizado na Av. Pres. Kennedy, 635, no Centro de São Gonçalo, que possui importância significativa na história da cidade.
Fundado em 8 de agosto de 1937 inicialmente como Esporte Clube Incor, adotou o nome Clube Esportivo Mauá em outubro de 1944, sendo conhecido até os dias de hoje como Clube Mauá. A instituição esportiva e social é conhecida por sua história no handebol feminino, que revelou atletas para a seleção brasileira, como a jogadora Zezé, além de craques para grandes equipes do futebol, como o ex-lateral e zagueiro Altair Gomes de Figueiredo, que integrou a Seleção Brasileira bicampeã do mundo de 1962, no Chile. Tudo isso foi propício devido à estrutura local que inclui um ginásio poliesportivo e um parque aquático, se destacando como um ponto de encontro e lazer para a comunidade local.
Os operários que fundaram o clube, em 1937, trabalhavam na Companhia Nacional de Cimento Portland (CNCP) que tinha núcleos em São José, Itaboraí, e em Guaxindiba, na região rural de São Gonçalo. As peladas nas horas de folga foram a inspiração para a criação da agremiação, na sede do sindicato da Indústria de Cimento, Cal e Gesso, na Rua Doutor Nilo Peçanha, no Centro de São Gonçalo.
Aos poucos, o Mauá deixou de ser um clube de empregados de uma fábrica para representar a sociedade gonçalense, se tornando um dos clubes sociais e esportivos mais tradicionais de São Gonçalo, equiparando-se ao extinto Clube Tamoio.
Hoje o Clube oferece diversas atividades para todos os públicos, como aulas de natação e hidroginástica para crianças e adultos, apresentações musicais com shows de grandes artistas, como Jorge Aragão, que se apresentou no Clube em dezembro do ano passado. Além de eventos comemorativos como a Festa do Trabalhador [que trouxe grandes nomes do pagode ao espaço] e o Flash Back no Dia dos Namorados, contribuindo assim, através de um espaço de lazer, para a cultura da cidade de São Gonçalo.


