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'Glossário' do respeito: entenda as diferenças de gênero e sexualidade

Para especialistas, informação é tudo

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 07 de agosto de 2017 - 08:34
Giselle vive feliz com o técnico em edificações Juan Barcellos, que há dois anos fez a transição física e nos documentos
Giselle vive feliz com o técnico em edificações Juan Barcellos, que há dois anos fez a transição física e nos documentos -

Por Letícia Lopes e Dayse Alvarenga

Da ficção para realidade, da realidade para a ficção, Glória Perez tem levantado debates importantes em "A Força do Querer". Com a travesti Elis Miranda, interpretada por Silvero Pereira, e Ivana, vivida por Carol Duarte, a autora da trama das 21h da TV Globo tem feito o público se questionar sobre o que é orientação sexual e identidade de gênero, dois assuntos que merecem muita atenção e cuidado. Aproveitando o gancho da novela, o OSG repercutiu com especialistas e público LGBT que vive a realidade diária e dura do preconceito e da falta de visibilidade. 

O técnico em Edificações Juan Barcellos, de 47 anos, começou a entender quem era ainda criança, aos 7 anos. "Eu sentia que era um homem dentro de mim, mas via outra coisa no espelho", lembra. A transição drástica, com mudança física e nos documentos, aconteceu há cerca de dois anos. Sobre "Cláudia virar Juan", o técnico em edificações é firme. "Ninguém vira nada. Você vive num sistema que te oprime, até o momento que você se liberta", afirma.

Do primeiro relacionamento, Juan teve Júlia. Quando a filha, bailarina que hoje corre o mundo num circo itinerante (relembre aqui), perguntou a Juan "como o trataria" após a mudança, a resposta sintetizou toda a importância do "sentir" que ele tanto preza.

"A gente não vai desconstruir o que o amor construiu. Nem o ódio vai destruir nada que nos pertence", diz. 

Companheira de Juan há 11 anos, Giselle Paes, de 37 anos, conta que o mais importante sempre foi como o companheiro se sentia. "Eu sempre pensei na pessoa em si, e não na genitália: eu me permito conhecer as pessoas. Quando ele falou como ele se sentia, eu entendi. Se você se permitir sem preconceitos, se primeiro sente, você vive bem melhor", diz. 

Juan lembra de casos de violência contra LGBTs e da importância da conscientização.

"Vida para mim é fundamental, e o que eu prezo é isso, que através do conhecimento as pessoas podem compreender e aceitar o outro enquanto ser humano. Não é L, G, B ou T. É humano. Mas sou Juan e, quando a pessoa me trata por 'ela', ela está negando a minha existência. É como se o pensamento dela que fosse correto; e o meu, uma aberração".", finaliza. 

Informação é tudo, segundo especialistas

Para a psicóloga Denise Braz, especialista em gênero e sexualidade pelo Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM), da Uerj, a confusão entre gênero e sexualidade se dá devido as pessoas entenderem que "a genitália é preponderante no desempenho dos papéis de gênero e porque a sociedade tem uma visão binária (só existem o homem e a mulher)".

A especialista lembra, no entanto, que é importante que todos respeitem a identidade de gênero das pessoas independente das transformações corporais ou não.

"A sociedade tem necessidade de colocar rótulos e caixinhas para que consigam enquadrar as pessoas e isso pode ser muito desconfortável para qualquer pessoa", pontuou.

João Walter Nery, psicólogo e autor do autobiográfico "Viagem Solitária - Memórias de um transexual 30 anos depois", da editora Leya, chama a atenção para a falta esclarecimento da população. 

"A vestimenta, o corte de cabelo, toda a estética corporal são atos que fazem o gênero. Será que só há uma forma de ser homem ou mulher? Ou há uma pluralidade de masculinidades e feminilidades possíveis?", questionou. 

Para Nery, espaço na mídia e o debate nas escolas e universidades também são imprescindíveis para que o assunto seja esclarecido.

"Com a novela da Glória Perez, temos um ótima oportunidade de mostrar um transhomem gay, que mesmo sendo de classe alta, desconhece a diferença entre estes dois termos", disse. 

Conceitos básicos

A orientação sexual está relacionada ao afeto e desejo sexual, com quem a pessoa deseja se relacionar.

"É importante destacar que não existe opção sexual porque em se tratando de desejo afetivo/sexual o que manda é o desejo", destacou Denise. 

Assim, heterossexuais se se sentem atraídos por pessoas de gênero diferente; homossexuais se sentem atraídos por pessoas do mesmo gênero; bissexuais por ambos os gêneros; pansexuais sentem atração por homens, mulheres, travestis, transgêneros, transexuais, drag quenns, ou seja, por todos os gêneros; assexuais não sentem atração por nenhum gênero. 

"Já a identidade de gênero expressa como a pessoa se vê ou se sente", explica Nery.

Assim são duas as categorias principais: os cisgêneros, ou cis, quando o gênero está de acordo com o  que foi determinado ao nascer, ou os transgêneros, ou trans, aquele que transcendem o gênero com que nasceram.

"A expressão trans é um 'termo guarda-chuva' para travestis, transexuais, drag queens", explicou João. 

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