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Gonçalenses e niteroienses são vítimas de golpe de cooperativa habitacional acusada de estelionato

Os criminosos do caso foram presos no último dia 24 de maio

relogio min de leitura | Escrito por Ana Carolina Moraes | 02 de junho de 2021 - 13:30
O caso foi encaminhado para a 4ª DP (Praça da República)
O caso foi encaminhado para a 4ª DP (Praça da República) -

O sonho de sair do aluguel e ter a casa própria move muitas pessoas pelo país. Quem não deseja ter o conforto de morar num imóvel que é seu e sair do aluguel, evitando mais essa dívida? Foi o que as 230 famílias que pagaram a entrada de seus imóveis na Cooperativa Habitacional Grupo Fênix, localizada no Centro do Rio, pensaram. Mas, ao que parece, a cooperativa na verdade era organizada por uma suposta quadrilha que realizava um esquema de fraude na venda de casas nos bairros de Centro do Rio, Leblon, Zona Norte, Baixada Fluminense, Niterói, Itaboraí e São Gonçalo. O caso segue sendo investigado pela Polícia Civil.

As investigações da Polícia Civil, que começaram a partir de denúncias, revelaram que o grupo criminoso simulava um financiamento para compra da casa própria. As vítimas começam a pagar a entrada do investimento e, quando pediam para ver a casa, os estelionatários apresentavam, de forma dissimulada, um imóvel "disponível". No entanto, as residências apresentadas não estavam à venda ou, se estão, não por meio da cooperativa. Em geral, o grupo pega imagens na Internet em sites de venda de imóveis que usam para enganar os clientes. Ainda segundo a polícia, quando a vítima descobre sobre o golpe e tenta reaver o dinheiro, o grupo criminoso começa a cobrar multas por “quebra de contrato” e taxas que não existem para justificar a não devolução da quantia paga.

No último dia 24 de maio, agentes da 4ª DP (Praça da República), através da ‘Operação Casa de Papel’, conseguiram prender três dos envolvidos na quadrilha da cooperativa habitacional em questão, sendo eles Marcelo Jorge Pereira da Silva, Daywison John da Silva Merceira e sua esposa Renata Cristina Moura Reis, que responderão por associação criminosa e tentativa de estelionato, dentre outros. Além disso, os policiais fecharam o escritório que a cooperativa tinha no Centro do Rio. Desde então, o caso vem sendo analisado, mas os clientes que compraram casas com a Fênix estão sem saber o que fazer, já que o dinheiro que juntaram após anos de trabalho continua com os responsáveis pela cooperativa.

Este é um dos acusados do crime em questão
Este é um dos acusados do crime em questão |  Foto: Divulgação
 

Dentre as 230 famílias que caíram no golpe do estelionatário da quadrilha da cooperativa há gonçalenses e niteroienses. O barbeiro Rodrigo da Silva Wanderlei, de 28 anos, que atualmente mora no Pacheco, deseja ter sua casa própria e proporcionar maior qualidade de vida para sua família (que, ao todo, inclui cinco filhos e a esposa, dois filhos morando com ele). Por conta disso, ele começou a procurar, em janeiro deste ano, informações sobre vendas de casa no Pacheco, bairro onde sempre morou em São Gonçalo e queria continuar morando. Foi quando ele descobriu a Fênix pela internet. Mas o que, inicialmente, parecia o início de um sonho se tornou um pesadelo.

"Eu comecei a conversar com eles, fui ao escritório deles no Rio e me fizeram a proposta de que eu poderia assinar o contrato e dar uma entrada na casa em qualquer valor que eu pudesse e depois iria escolher a casa que eu quisesse, onde quisesse. Minha ideia era ficar no Pacheco, mas fiquei feliz com as propostas deles. A cooperativa pagaria a minha casa à vista e eu ficaria pagando as parcelas para eles, seria ótimo. Foi quando, no mesmo mês, assinei um contrato com eles e dei uma entrada de R$ 5 mil, pois era o que eu tinha juntado na época, fruto de muito trabalho. Fui lá, paguei e a empresa parecia toda certinha. Tinha muita gente trabalhando no escritório deles no Centro do Rio, tinha CNPJ, tinha tudo e eu, doido para sair do aluguel, fiquei esperando a minha casa", contou Rodrigo.

A cooperativa havia prometido a casa de Rodrigo em até dois meses e afirmou que ele só pagaria a primeira parcela do financiamento após estar com as chaves do imóvel em mãos. Em março, quando deu dois meses da assinatura do contrato, Rodrigo não tinha notícias de seu suposto imóvel e aí começou o desespero. "Eu comecei a ir à empresa deles perguntar sobre a minha casa e eles diziam que estava em análise. Eles diziam depois estar em contato com o comprador e que estava em análise. Até que começaram a me cobrar a prestação da casa, mesmo com o combinado de só pagar as parcelas com a chave em mãos, e se eu não pagasse eu perderia a parceria e o meu dinheiro já investido. No último dia 24, coincidentemente, eu fui lá, não sabia de nada que estava acontecendo, e ao chegar no escritório deles, eu vi a polícia e soube de toda a história e as acusações de estelionato", contou Rodrigo.

No dia 24 de maio, Rodrigo foi chamado para prestar depoimento. Hoje, ele teve que se mudar para uma outra casa no Pacheco, menor do que a que morava antes, pois, com o investimento de R$ 5 mil na Fênix, ele ficou com mais dívidas e precisou ir para um lugar com o aluguel mais barato. 

"Eu espero que eles me paguem o que me devem. Eu me enrolei todinho para pagar os R$ 5 mil, mas paguei, pois achei que hoje já estaria na minha casa própria. Infelizmente, não consegui realizar o sonho e me mudei para uma casa menor com o aluguel mais barato. É muito desesperador ver nosso dinheiro, fruto do nosso trabalho, ser roubado assim", contou ele.

Ao todo, o grupo que coordena a cooperativa pode ter conseguido mais de R$ 3,6 milhões, pelo menos, contando todo o dinheiro daqueles que deram um valor para financiar a suposta entrada de suas casas. Um dos presos no golpe da cooperativa já possuía mais 119 passagens pela polícia, incluindo crimes como estelionato e associação criminosa, lesão corporal, ameaças, porte de arma, receptação culposa e comunicação falsa de crime. 

O funcionário público Marco Antônio de Oliveira, conhecido como Marco da Sucam, de 53 anos, e sua esposa Patrícia Pinheiro, que atua como recepcionista, também foram prejudicados pela cooperativa em questão. Segundo o relato deles, os dois moram no Morro do Estado, em Niterói, e tinham o sonho de ter uma casa em Pendotiba, também em Niterói. Com os filhos já criados, o casal planejava se mudar pela questão da qualidade de vida. No fim de março, eles começaram a procurar uma casa para morar em Pendotiba através da internet. A partir daí, eles encontraram a Fênix. 

"Eles ofereceram uma promoção na qual pagávamos 18 mil de entrada pela casa que era 180 mil e depois conseguiríamos pagar o restante com parcelas casuais de R$ 900 e pouco e assim fizemos. Chegamos a ir na casa que queríamos, conseguimos contato com o dono do imóvel e assinamos o contrato com a Fênix. A partir daí, eles nos deram um prazo de 30 dias para entregar a casa. Na época, eu contei pra ele que pagava um aluguel de R$ 750, aqui onde moro hoje, e que estava criando aquela outra dívida com eles para ter a minha casa própria e o corretor da Fênix me confirmou que estava tudo certo. Cheguei a ir lá três vezes saber sobre a casa e eles diziam que estava agendado e mais nada. Conseguimos contato com o dono do imóvel e ele também estava no aguardo da venda, mas o dinheiro que pagamos para a Fênix seria repassado para ele em quantidade menor, o que nunca aconteceu", contou Marco Antônio.

Depois disso, enquanto esperavam a resposta da cooperativa, o casal viu na televisão que os envolvidos pela 'empresa' em questão foram presos por estelionato pela Polícia Civil. "Quando soubemos disso, ficamos desesperados. Somos pobres, mas somos dignos e já havíamos até pago uma das parcelas da casa, além da entrada. Juntamos o nosso dinheiro e entramos a eles para depois descobrimos isso. Agora, tentamos contato com o advogado da Fênix e ela disse que se desligou do caso e o novo advogado ainda não temos o contato. Queremos nosso dinheiro! O dono da casa que seria vendida também foi lesado, pois ele esperava receber a quantia da venda e não recebeu e nós não podemos comprar a casa dele, pois nossos R$ 18 mil estão com a Fênix. Eu e muitas outras pessoas enganadas nesse caso fizemos um grupo no Whatsapp e parece que só duas pessoas receberam o dinheiro de volta, mas como se o dinheiro do dono da empresa deveria estar congelado se ele está preso? Apenas queremos nosso dinheiro de volta e não deboche dos donos da empresa que, ao serem presos, ficaram mandando beijinho pra gente na delegacia. Também queremos dar nosso depoimento, mas ainda não fomos chamados pela delegacia", contou o funcionário público.

Procurada, a Polícia Civil informou sobre as atualizações da investigação do caso. "Depois da primeira fase da operação, mais de 60 novas vítimas procuraram a delegacia. As equipes estão dedicadas nesses dias a colher o depoimento de todas as vítimas e reunir todas as documentações. A Polícia também identificou outras quatro empresas que foram usadas pela quadrilha para cometer o mesmo tipo de golpe  e pelo menos mais dois suspeitos foram identificados e estão sendo investigados, além dos 3 que foram presos em flagrante", afirmava a nota.

Sobre a demora para cobrar os depoimentos de algumas pessoas, como de Marco Antônio, a corporação explicou que isso ocorreu devido ao alto número de vítimas do caso. "Como o número de vítimas é muito grande (já são mais de 230 pessoas) e os depoimentos são longos, pois os investigadores precisam coletar muitos detalhes e reunir documentos, esse processo será longo. Não tem como ouvir todo mundo em poucos dias. Por isso, as pessoas estão sendo chamadas de acordo com a ordem em que foram à delegacia. Mas isso levará tempo", disse a nota.

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