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Trump afirma que Tylenol pode ter relação com autismo, mas especialistas negam

A Autistas Brasil e órgão sanitários internacionais repudiaram a fala do presidente dos EUA

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 23 de setembro de 2025 - 11:29
Nem o presidente e nem a Casa Branca apresentaram evidências que comprovem as afirmações
Nem o presidente e nem a Casa Branca apresentaram evidências que comprovem as afirmações -

Em uma declaração nesta segunda-feira (22), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump afirmou que a FDA (o que corresponde a Anvisa no EUA), vai alertar os profissionais de saúde sobre um suposto aumento nos casos de autismo em crianças expostas ao remédio paracetamol durante a gestação.

“Tomar Tylenol não é bom. Não é bom”, disse o representante dos EUA em uma coletiva de imprensa, sobre o medicamento muito usado no mercado americano. De acordo com ele, agora as recomendações para a utilização do analgésico para grávidas será apenas em casos de extrema necessidade.


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O Tylenol serve para o tratamento de dores leves e febre, e é considerada segura para gestantes. Apesar de historicamente ser apontado como seguro, a medicação está no centro de um debate sobre seus efeitos no desenvolvimento neurológico da criança, mesmo que ainda não exista consenso científico sobre uma relação direta do medicamento com o autismo.

No país norte-americano, o Tylenol é fabricado pela Kenvue, empresa que se afastou da Johnson & Johnson em 2023. A declaração de Trump foi condenada pela farmacêutica, que alegou que não há sustentação científica que comprove a fala do presidente.

A declaração também foi contestada por outras entidades médicas, como o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia, que afirmou que até o momento os estudos não apontam uma ligação direta entre a utilização responsável do paracetamol em qualquer etapa da gestação nem que possa afetar o desenvolvimento do feto.

O Serviço Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido manteve a recomendação do analgésico para grávidas, reiterando sua segurança no uso controlado. “É comumente tomado durante a gravidez e não faz mal ao bebê”, afirmou a autoridade britânica.

'Remédio para o autismo'

Ainda no pronunciamento, Trump afirmou que a leucovorina (uma forma ativa do ácido fólico utilizada em alguns tratamentos oncológicos) é uma forma de intervenção terapêutica para sintomas relacionados ao autismo. Mesmo com as afirmações do presidente, a Casa Branca não revelou novas evidências científicas que confirmem a recomendação.

Antes da coletiva de imprensa, a FDA anunciou a reprovação de um tipo de leucovorina fabricado pela farmacêutica britânica GSK, que em outro momento saiu do mercado por questões comerciais. A medida da agência de saúde ocorreu por causa de dados clínicos envolvendo mais de 40 pacientes com deficiência cerebral de folato (CFD), uma doença metabólica rara que pode ter sintomas parecidos com os do autismo.

Estudos preliminares apontaram que a leucovorina pode trazer algum benefício em determinados quadros, entretanto, especialistas afirmam que os dados ainda são limitados e precisam de validação em pesquisas mais detalhadas, contendo uma metodologia rigorosa e amostragem representativa.

De acordo com o comunicado da agência, é mencionada a análise de dados de mais de 40 pacientes, dentre eles crianças, que receberam o diagnóstico de CFD.

Autistas Brasil 

Autistas Brasil é uma organização de advocacy, fundada em 2020 com o objetivo de defender o direito das pessoas autistas, com foco na autodefensoria, educação inclusiva e inserção no mercado de trabalho. 

A organização se posicionou contra a fala do presidente dos EUA, e das medidas adotadas pela FDA. 

“Trump e Kennedy não estão apenas equivocados quando falam que o autismo é causado pelo uso de Tylenol, não é meramente um erro, é um projeto político. Estão reintroduzindo no século XXI a lógica eugenista que trata pessoas com deficiência como tragédia. O autismo se torna um vilão a ser combatido, e pessoas autistas são reduzidas a sujeitos desumanizados numa cruzada moral em nome de uma sociedade ‘pura’ e homogênea, sem lugar para aqueles tidos como ‘diferentes’, ‘estranhos’, ‘deficientes’”, afirmou Arthur Ataide Ferreira Garcia, vice-presidente da organização 

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