'Ela o tratava como um Deus': Dor e revolta marcam a despedida de Shayene Araújo
Crime cometido por sargento da PM chocou familiares e amigos da vítima

"Ele acabou com a vida de quem dava a vida por ele. Ela cuidava dele, deu uma família para ele, tratava-o como um Deus. E ele fez isso com ela. Shayene foi uma ótima mãe, ótima irmã, ótima filha, ótima amiga e ótima esposa. Ninguém tem nada de ruim para falar dela aqui. Ela era minha companheira e eu não sei como vou seguir sem a minha irmã".
A fala emocionada é de Dayene Araújo, de 31 anos, após o sepultamento da irmã, Shayene Araújo, de 27 anos, morta com um tiro na nuca, na última terça-feira (16). O crime aconteceu dentro de casa, onde estavam os dois filhos da vítima, um bebê de dez meses e um menino de 9 anos. O marido de Shayene, Renato César Guimarães Pinna, um sargento da PM, foi preso em flagrante pelo crime de feminicídio.
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O último adeus à jovem aconteceu às 13h, no Cemitério Municipal de Itaboraí. Dezenas de amigos e familiares acompanharam a despedida. A mãe da jovem, muito abalada, precisou ser amparada durante toda a cerimônia fúnebre, mas fez questão de deixar questionamentos: "Eu queria saber cadê a polícia que nunca apareceu, mesmo depois de todas as ligações para o 190? Por que ele fez isso com a minha filha?".

O irmão de Shayene, Alexandre Araújo, de 33 anos, também fez questão de destacar o amor da família pelos sobrinhos. "Eles sempre foram nossos amores e vão seguir com a gente. O que passou não volta".
O sargento era lotado no 35º Batalhão, mas estava cedido a Maricá. Parente de um político, pessoas próximas do casal afirmaram que ele parecia não ter medo de nada e acreditava que nunca seria punido por qualquer coisa que cometesse.

Amiga da vítima, Caroline Nune, 30 anos, também sofreu violência doméstica de um policial, mas nem essa informação fez com que Shayene se abrisse para a amiga. "Ela sabia o que eu tinha passado, mas ela nunca me contou nada. A mulher fica presa numa teia. É medo, vergonha. Não é fácil se abrir. Não é fácil conviver com a violência dentro de casa. Enquanto a gente está aqui enterrando ela, pode ter certeza de que tem alguma mulher sendo morta. Nossa pergunta é: até quando isso vai durar?".
