Instagram Facebook Twitter Whatsapp
Dólar R$ 5,4082 | Euro R$ 6,3692
Search

Dá-lhe tadala: especialistas alertam sobre perigos de remédio para ereção que virou febre

Popular entre jovens, medicamento para tratar disfunção erétil pode causar problemas cardiovasculares e dependência emocional quando usado de forma incorreta

relogio min de leitura | Escrito por Felipe Galeno | 04 de julho de 2025 - 16:01
Geralmente receitada para tratar de disfunção erétil e próstata aumentada, a tadalafila virou tema de memes nas redes sociais e de canções na voz de artistas como Tierry e Barões da Pisadinha
Geralmente receitada para tratar de disfunção erétil e próstata aumentada, a tadalafila virou tema de memes nas redes sociais e de canções na voz de artistas como Tierry e Barões da Pisadinha -

Presente no mercado farmacêutico desde o início dos anos 2000, a tadalafila virou febre; só em 2024, mais de 64,7 mil caixas do medicamento vasodilatador foram vendidas no Brasil, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O número é mais de vinte vezes maior do que a quantidade de caixas vendidas, por exemplo, há dez anos atrás.

Os dados refletem um aumento na popularidade do remédio na cultura popular. Geralmente receitada para tratar de disfunção erétil e próstata aumentada, a tadalafila virou tema de memes nas redes sociais e de canções na voz de artistas como Tierry e Barões da Pisadinha. Apesar do sucesso, o medicamento só pode ser vendido sob prescrição médica e seu uso indiscriminado pode causar efeitos colaterais graves na mente e no corpo.

Imagem ilustrativa da imagem Dá-lhe tadala: especialistas alertam sobre perigos de remédio para ereção que virou febre

Segundo o presidente do Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro (CRF/RJ), Dr. Camilo Carvalho, a crescente popularidade do medicamento tem aumentado de forma significativa a venda irregular, sem a orientação profissional devida. Como os efeitos colaterais podem ser graves para alguns públicos, o acesso irregular à medicação é bastante perigoso.

“A tadalafila pertence a uma classe de fármacos que exige avaliação clínica criteriosa antes de ser prescrita. O uso por curiosidade, como pré-treino ou para melhorar o desempenho sexual, pode mascarar condições de saúde subjacentes. Por exemplo, pessoas com doenças cardíacas não diagnosticadas podem sofrer complicações graves ao usar esse tipo de medicamento”, destaca o Dr. Camilo.

A farmacêutica Áurea Merícia Brito, responsável por uma drogaria em São Gonçalo, explica que os problemas se intensificam quando o medicamento é administrado com outros fármacos. “[Tadalafila] é uma droga segura, mas é muito perigoso usar ele com medicamentos à base de nitratos. Junto da tadalafila, eles podem levar a crises de hipotensão e até a morte da pessoa”, explica Áurea.

Imagem ilustrativa da imagem Dá-lhe tadala: especialistas alertam sobre perigos de remédio para ereção que virou febre

Por isso, o uso para outros fins que não os recomendados pelos médicos pode ser especialmente perigoso. Os especialistas contam que, nos últimos anos, a procura pelo tadalafila tem aumentado entre pessoas que fazem musculação e outras atividades físicas. O remédio costuma ser usado como pré-treino - o que também pode ser bastante prejudicial.

“Ela aumenta o fluxo sanguíneo; é um vasodilatador. É um remédio que dilata o músculo liso e você, com isso, tem mais fluxo sanguíneo nos locais que vai usar. Para quem faz exercício físico, isso acaba aumentando o fluxo sanguíneo e, por isso, traz uma disposição física melhor. Mas não dá para usar assim indiscriminadamente sem procurar um médico que saiba se você pode usar”, afirma a farmacêutica.

Além da academia, o tadalafila também segue comum entre os jovens em outro cenário: no quarto. Os farmacêuticos contam que o remédio assumiu bastante da fama do famoso “viagra” e tem sido muito comercializado entre pessoas interessadas em melhorar o desempenho sexual, mesmo que não sofram das disfunções que o medicamento combate.

Nesses casos, além dos perigos à saúde física, o uso indevido do remédio pode ter efeitos psicológicos também adversos à longo prazo. “O tadala[fila] pode causar uma dependência emocional. A pessoa acha que não vai ‘funcionar’ e fica com aquilo na cabeça. Na hora H, não ‘funciona’ mesmo - e não é porque não funciona, é porque ficou com uma dependência emocional do remédio”, destaca Áurea.

A sexóloga e terapeuta Bárbara Ahlert acredita que esse uso pode estar relacionado a uma cultura que vai além do sexual. Para ela, uma pressão social por uma boa performance, que atravessa outras áreas da vida, acaba invadindo o campo sexual e o medicamento acaba ajudando a “perpetuar” esse problema.

“Tem a ver com não saber lidar com a ansiedade também; não saber lidar com a falha. É se cobrar como se fosse uma máquina, entende? Então, a pessoa não pode falhar nunca, ela tem sempre que ter uma performance excelente. Ele vai gerar uma dependência psicológica exageradíssima, porque a pessoa não confia mais nela mesma A pessoa começa a colocar a potência dela na medicação ao invés de botar potência nela mesma”, enfatiza a sexóloga.

A solução para quem acabou se viciando nesse uso irregular do medicamento começa pro procurar ajuda médica e psicológica. “O tratamento psicológico é muitas vezes o mais indicado, só que não é um tratamento psicológico qualquer. Tem que ser uma terapia sexual realizada por profissionais que têm essa habilitação”, destaca Barbara.

“O uso sem acompanhamento de um profissional qualificado ignora fatores clínicos importantes que precisam ser avaliados individualmente”, aponta o Dr. Camilo. Em casos em que o suso seja realmente recomendação médica, ele alerta para outro problema que a popularidade do medicamento trouxe: as falsificações.

“Há uma crescente comercialização indiscriminada em marketplaces e redes sociais, onde os consumidores estão expostos a sérios riscos. Esses produtos podem ter sido armazenados de forma inadequada - o que leva à degradação do princípio ativo - ou até mesmo serem falsificados, o que representa um risco real à saúde. O primeiro e mais importante conselho é não utilizar nenhum medicamento sem orientação de um profissional habilitado”, conclui o presidente do CRF/RJ.


Leia também:

Festival de hip hop em São Gonçalo terá seis horas de duração com atrações de peso

Maior programa municipal de aluguel universitário do país começa em Niterói

Matérias Relacionadas