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Com o braço fraturado há um ano, gonçalense espera por cirurgia no INTO

Mesmo com fortes dores e risco de sequelas permanentes, Danielle Quintão, de 56 anos, segue na fila do SISREG sem previsão de atendimento

relogio min de leitura | Escrito por Cristine Oliveira | 03 de julho de 2025 - 09:21
“Estou há um ano com o braço quebrado”
“Estou há um ano com o braço quebrado” -

Há um ano à espera de cirurgia após fraturar o braço em um acidente de trabalho, a funcionária da área de logística Danielle Quintão da Silveira, de 56 anos, enfrenta dores constantes, dificuldades para realizar tarefas básicas e sinais de depressão. Mesmo com laudos médicos que indicam a necessidade de intervenção cirúrgica, ela permanece sem atendimento adequado na fila do Sistema Nacional de Regulação (SISREG), enfrentando o descaso da rede pública de saúde.

A luta de Danielle começou após o acidente de trabalho, ocorrido em julho de 2024. Apesar de ter recebido socorro imediato, a líder de logística vem sendo vítima de sucessivas negligências.


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"Eu caí no trabalho e lá eles deram entrada no CAT. Só que, no dia, eu bati com a cabeça e minha pressão foi para 25. A ambulância me levou para o Getúlio Vargas, porque eu trabalho na Penha. Quando cheguei lá, o radiologista deu a entender que eu teria que operar. Mas, ao ser encaminhada para o médico, ele disse que não era necessário, que bastava colocar uma pinça e que em 15 dias eu estaria recuperada", contou Danielle.

volução das radiografias da paciente: à esquerda, uma das primeiras; à direita, uma das mais recentes
volução das radiografias da paciente: à esquerda, uma das primeiras; à direita, uma das mais recentes |  Foto: Layla Mussi

Apesar do primeiro atendimento ter ocorrido no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, o restante do tratamento aconteceu próximo de sua residência, localizada em São Gonçalo. Foi nesse momento que profissionais identificaram a real necessidade de cirurgia.

"Eles informaram que eu precisava ser atendida perto de casa, mas isso leva cerca de 10 dias. Como me disseram que em 15 dias eu já estaria bem, imaginei que quando chegasse lá já estaria recuperada. Então, dei entrada no documento, peguei o laudo do médico do Getúlio Vargas e comecei o tratamento aqui. No novo atendimento, a doutora disse: ‘Olha, vou tratar você por três meses. Se o osso não colar, terá que operar’. Ela me atendeu em setembro, outubro e novembro. Quando chegou novembro, ela foi preencher o papel do SISREG", relatou Danielle.

Com isso, Danielle passou a integrar a fila do Sistema de Regulação do SUS (SISREG) em novembro de 2024, mas até agora segue sem previsão para realizar a cirurgia.

"Entrei na fila do SISREG e demorou de novembro até março para me chamarem para o INTO. Fui ao INTO três vezes. [...] A primeira vez foi no dia 11 de março. Cheguei lá, e o médico disse que meu caso não era de ortopedia, e sim de trauma. Achei que era só trocar de sala, mas ele afirmou que eu teria que remarcar tudo. Disse que colocaria como emergência para que eu fosse atendida na semana seguinte. Depois disso, voltei dia 18 no trauma, mas era só para tirar uma radiografia. Mesmo já tendo várias radiografias tiradas de 15 em 15 dias com a doutora, disseram que só servia a feita no INTO. Voltei no dia 25. O médico viu a radiografia na hora e disse que eu teria que esperar na fila do SISREG", explicou Danielle.

A situação de Danielle é desesperadora
A situação de Danielle é desesperadora |  Foto: Layla Mussi

Com o nome já incluído no SISREG, a paciente relata que não é chamada e que a espera pode durar até 30 meses.

“No dia 11 de março, meu número no SISREG era 33. Só andou três números. [...] Você nunca sabe quando vai ser atendido. Vai fazer quatro meses e não andou nem um por mês. Faltam dois anos para eu me aposentar. Se forem 30 meses para a cirurgia, daqui a pouco vou me aposentar com o braço quebrado. Tem gente que sugere tentar a cirurgia em Paraíba do Sul, mas o SISREG é o mesmo, é regulação do Rio”, lamentou.

Devido às fortes dores, Danielle precisa de medicamentos que só são vendidos com receita médica. No entanto, para marcar uma consulta no INTO, a espera é de aproximadamente quatro meses.

“Estou há um ano com o braço quebrado”
“Estou há um ano com o braço quebrado” |  Foto: Layla Mussi

“Para conseguir receita no INTO, só com consulta. E leva quatro meses para conseguir atendimento. Se você ligar para lá, eles dizem que não há vagas e que o próximo atendimento só será em quatro meses. Enquanto isso, compro os medicamentos por conta própria, senão morro de dor. Estou tomando Codex. Os médicos do INTO me deram duas caixas e eu suporto a dor o quanto posso, porque, se acabar, não tenho receita para comprar mais. Esse foi o único medicamento que me forneceram”, contou Danielle, que sente dores constantes.

Sentimento de humilhação e tristeza

A situação de Danielle é desesperadora. Além das dores constantes e do braço quebrado e inchado, a falta de pagamento e de assistência agravam o sentimento de humilhação. O cenário também impacta diretamente sua saúde mental, obrigando o uso de antidepressivos.

“A minha mãe sempre foi uma pessoa ativa, e isso tem prejudicado a saúde da família como um todo, a minha e a do meu irmão também. Todos estamos muito estressados, porque não estamos acostumados a vê-la tão dependente. Ela precisa de ajuda para se vestir, abotoar uma calça... coisas simples do dia a dia que ninguém valoriza até perder a autonomia. Às vezes ela tenta lavar uma louça. Quando consegue, depois passa o dia inteiro com dor. Quando não consegue, fica frustrada, sente que não consegue nem lavar uma panela. Isso a deixa angustiada e emocionalmente abalada. Hoje, por exemplo, ela não tomou o remédio porque acabou. Mas ela cai, porque toma tanto antidepressivo e analgésico que, às vezes, se levanta e desaba. Ou tenta sair da cama e cai dopada, podendo até sofrer outra fratura”, relatou Laís da Silveira, de 28 anos, filha de Danielle.

“A minha mãe sempre foi uma pessoa ativa, e isso tem prejudicado a saúde da família como um todo, a minha e a do meu irmão também"
“A minha mãe sempre foi uma pessoa ativa, e isso tem prejudicado a saúde da família como um todo, a minha e a do meu irmão também" |  Foto: Layla Mussi

O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) informou, em nota, que a paciente citada tem consulta marcada para a próxima terça-feira, dia 08/07.

O INTO esclareceu ainda que a paciente aguarda há pouco mais de três meses na lista de espera para cirurgia do membro superior, tendo sido inserida no dia 25 de março de 2025. Ele se encontra na 30ª posição.

A paciente será comunicada pela equipe médica do INTO na medida em que seus processos de preparação para cirurgia sejam finalizados e esteja apta para a realização do procedimento.

Sob supervisão de Marcela Freitas

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