Motivação e combate à ansiedade: gonçalense "viraliza" com vídeos motivacionais de corridas pelas ruas da cidade
Mesmo diante das adversidades e da falta de estrutura para a prática do esporte, Jean dos Santos, mais conhecido como "Jean Coroado" leva o bairro onde nasceu não só no nome, mas como inspiração para seguir correndo

A prática de atividade física pode ser uma forte aliada no controle de doenças relacionadas à mente, como a ansiedade, ajudando a reduzir os sintomas e a melhorar o bem-estar de maneira geral.
Isso porque o exercício físico estimula a liberação de neurotransmissores como serotonina e endorfina, que estão diretamente associados ao aumento da sensação de prazer e relaxamento. Assim, os níveis de cortisol, o “hormônio do estresse” tendem a diminuir, resultando em uma resposta positiva ao controle da ansiedade.
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Foi a partir de um momento delicado, quando a ansiedade e a insônia faziam parte da rotina, que o empresário gonçalense Jean dos Santos Silva Mota, de 25 anos, ingressou na corrida, se tornando hoje motivação e inspiração para pessoas de locais até mesmo fora do município.
"A corrida me ajudou muito na questão da ansiedade. Eu tinha muito problema para dormir, vício em celular, rede social, e na rua, através da corrida, com um ambiente diferente, comecei a me libertar dessas questões. A corrida auxilia em muitos pontos, libera endorfina, te da autoconfiança. Depois que comecei a correr tive até mesmo atitude de mudar algumas coisas no meu estabelecimento, tive atitude de investir em coisas novas que antes eu tinha medo. Não é só o físico que sente essa melhora, a mente também, que é o principal", afirmou Jean.
Nascido, criado e até hoje morador do Coroado, o gonçalense leva o amor pelo bairro no nome pelo qual é popularmente conhecido nas redes sociais @jean.crd_ e no nome do grupo de corrida na qual é o fundador e organizador @crd_runners.


"Viralizou"
Há um ano, quando, na procura por um novo esporte [visto que já andava de skate há 10 anos] para agregar à sua rotina, Jean nem imaginava a proporção que essa prática poderia tomar.
Na luta contra a ansiedade, ele resolveu fazer mais do que um bem para si mesmo, e começou a compartilhar com seus seguidores vídeos mostrando seus treinos correndo pelos bairros da cidade e até mesmo na pista de corrida da antiga rua da caminhada. O alcance foi tão grande que Jean "viralizou" e chegou a diversas localidades fora da "bolha" gonçalense, recebendo feedbacks diários do quanto àqueles vídeos serviram de incentivo e inspiração para que muitas pessoas também começassem a correr.
O gonçalense também montou o grupo de corrida CRD Runners, no qual incentiva amantes da corrida a terem constância na prática esportiva, além de unir pessoas que tenham o mesmo interesse para formar um núcleo de apoio, onde um "corre pelo outro".
"Muitas pessoas me agradecem e vêm falar sobre a importância do grupo para obter constância na atividade, no esporte. O grupo está bem unido e um motiva o outro, faz companhia, o que faz toda diferença. Além do whatsapp, onde temos um grupo com mais de 300 pessoas, algumas que são até mesmo de fora do estado, que vieram através dos vídeos. E eu comecei a gravar para mostrar mais sobre a corrida para os meus seguidores e acabou que viralizou. Tem sido muito legal porque muitas pessoas estão se inspirando, comentando nas publicações, muitos comentários positivos, então está sendo bom demais, porque mesmo que ainda com poucos seguidores, a corrida já tem me proporcionado coisas bacanas. Fiz uma parceria com uma loja de esporte, e isso vai me incentivando cada vez mais, além de ser uma cobrança para mim mesmo, de continuar na corrida, organizando, incentivando e tendo essa responsabilidade, agora principalmente com o grupo", contou Jean, que completou: "São Gonçalo é enorme, tem todo tipo de atleta, não é só futebol. Tem muita coisa boa que muitas vezes não é tão valorizado. E a corrida é um esporte que está crescendo cada dia mais".




Adversidades da corrida de rua e o legado de Lucas Celestino
Em momentos de escuridão, como os causados por doenças mentais, encontrar uma nova perspectiva pode ser o que transforma vidas.
Porém, correr na rua, por mais benéfico que seja para os mais diversos aspectos físicos e mentais, também apresenta desafios, principalmente quando a falta de estrutura condiciona o atleta ao risco diário.
Variações de terreno, condições climáticas, risco de lesões, atenção à postura e ao ritmo são alguns pontos nos quais os corredores devem se atentar, mas nenhum deles se compara aos riscos relacionados à segurança no trânsito.
"Em São Gonçalo estamos começando a ter uma estrutura para corrida agora, com essa obra, mas ainda tem muitos pontos que não tem, então quando a gente quer fazer uma corrida para longe, ou até mesmo se for uma pessoa que não tem a pista da ciclovia por perto, vai passar por muito perigo e dificuldade. A gente não tem na cidade muitos locais com estrutura para esse esporte, falta muito ainda. Na calçada tem carro parado, desnível, buraco, e no canto da rua temos risco de ser atropelados, ou, se mora próximo a BR e só tem esse local para correr, o que a pessoa faz? Deixa de fazer esporte? A gente fica em casa pela falta de estrutura? Não adianta colocar só uma ciclovia no centro, porque muitas pessoas não vão conseguir ter acesso a esse local para correr", declarou Jean.
O atropelamento do corredor Lucas Celestino, na BR-101, fez com que corredores de toda a região sentissem na pele o ocorrido. Saber que um colega de corrida foi vítima de um crime no qual muitos atletas estão suscetíveis, foi doloroso para Jean, ao mesmo tempo em que acendeu nele o desejo de fazer valer o legado deixado por Lucas, de que o esporte precisa ser visto pela sociedade e autoridades competentes, e que os corredores precisam respeitados como parte do trânsito.

"Isso que aconteceu com o Lucas Celestino, infelizmente não acontece só na rodovia, até mesmo na ciclovia corremos risco, porque não é uma ciclovia direta, como no Rio e em Niterói que tem uma orla de ponta a ponta para você correr. A gente atravessa, só ali na rua da caminhada, umas cinco vezes, onde motos e carros entram na rua em alta velocidade, o que gera insegurança e risco para nós que corremos também. Além de outros fatores de risco que encontramos pela cidade, como locais mal iluminados. A morte dele, acredito que todos nós, que corremos nas ruas, sentimos na pele, não tem como falar de mim enquanto corredor sem falar dele, que deixou um legado para todos nós", disse Jean Coroado.
Objetivos futuros
Para os que estão estreando no esporte, é necessário checar como está a saúde de um modo geral. Mas, de qualquer forma, a vontade de ingressar em uma nova atividade é o primeiro passo para obter um estilo de vida mais saudável.
Para o corredor gonçalense, que transformou a corrida de um hobby à um objetivo de vida, seguir neste foco e alcançar novas metas se tornou parte de sua rotina.
"Desde a minha primeira corrida coloquei na cabeça que iria participar de uma maratona. Comecei a me desafiar, 5km, 10km, 15km, 18km, 21km e hoje em dia já estou fazendo 33km e estou esperando a maratona de 42km para fazer. No nosso grupo, começamos em seis pessoas daqui mesmo do bairro, mas com a internet, viralização dos vídeos, o grupo está crescendo bastante e tenho certeza que iremos ainda mais longe, um apoiando o outro, todos em prol de um bem comum", finalizou Jean.