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Morador de SG, sobrinho de líder quilombola executada na Bahia pede justiça

Há seis anos, Maria Bernadete lutava por respostas sobre o assassinato de seu filho, conhecido como Binho do Quilombo

relogio min de leitura | Escrito por Rafaela Marques | 18 de agosto de 2023 - 13:43
A líder comunitária recebia ameaças desde a morte de seu filho em 2017
A líder comunitária recebia ameaças desde a morte de seu filho em 2017 -

A líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, Yalorixá e ex-secretária de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho (BA), Maria Bernadete Pacífico, foi assassinada na noite da última quinta-feira (17). Criminosos teriam invadido o terreiro da comunidade, feito familiares reféns e executado Mãe Bernadete com 12 tiros. Ela é mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, mais conhecido como Binho do Quilombo, assassinado há quase seis anos, no dia 19 de setembro de 2017. O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, determinou que as polícias Militar e Civil sejam firmes na investigação.

Para Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Bernadete foi assassinada pelo mesmo grupo responsável pela execução de Binho. "Ela sabia e a Justiça sabia que quem mandou matar Binho estava lá, perto da comunidade. Só que não deu nada. Ela nunca ficou quieta. Agora foi silenciada. Muito triste para nós", lamentou Denildo.

De acordo com ele, as lideranças das comunidades quilombolas e terreiros de Simões Filho são ameaçadas permanentemente por grupos ligados à especulação imobiliária, interessados em ocupar os territórios. O município fica na região metropolitana de Salvador. A capital da Bahia foi identificada pelo Censo Quilombola do IBGE como a capital com a maior população quilombola do país. São quase 16 mil quilombolas e cinco quilombos oficialmente registrados.


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Mãe Bernadete, além de uma líder dedicada, que lutava pelos direitos e pelo reconhecimento do povo preto, era também uma mulher muito querida por quem a conhecia, principalmente por seus familiares. Segundo Fabio Nascimento Pacífico, sobrinho de Maria e morador de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, a família está devastada com a notícia.

 “A minha tia sempre foi muito guerreira. Sempre lutou muito pelo povo preto. E ela sabia que estava correndo risco desde a morte do meu primo, que também lutava pela causa e era conhecido como líder do quilombo, Binho. Após o assassinato dele, em 2017, ela continuou o legado do Binho, e sabia que também tava correndo risco, mas mesmo assim ela continuou lutando, e aconteceu. Pode ter certeza que ela é uma peça muito importante para o nosso movimento, nosso movimento afro, dos quilombos”, contou o tatuador.

Segundo Fabio, também conhecido como Mandrak, Maria Bernadete era uma mulher especial, e sempre se fez presente na vida de todos os familiares, mesmo com a distância entre o Rio de Janeiro e a Bahia. Ainda que fosse uma mulher ocupada, a líder quilombola sempre ligava para o sobrinho, chamava para visitar e visitava quando podia, sempre levando seu amor pela cultura afro consigo. 

“As pessoas têm que saber que ela morreu lutando pelo nosso povo preto”, disse o sobrinho de Bernadete, que informou que ela já vinha recebendo ameaças há alguns anos.

Em nota divulgada na noite da última quinta-feira (17), a Conaq exige que o Estado brasileiro tome medidas imediatas para a proteção das lideranças do Quilombo de Pitanga de Palmares. "A família Conaq sente profundamente a perda de uma mulher tão sábia e de uma verdadeira liderança. Sua partida prematura é uma perda irreparável não apenas para a comunidade quilombola, mas para todo o movimento de defesa dos direitos humanos", ressalta a entidade.

"É dever do Estado garantir que haja uma investigação célere e eficaz e que os responsáveis pelos crimes que têm vitimado as lideranças desse Quilombo sejam devidamente responsabilizados. É crucial que a Justiça seja feita, que a verdade seja conhecida e que os autores sejam punidos. Queremos Justiça para honrar a memória de nossa liderança perdida, mas também para que possamos afirmar que, no Brasil, atos de violência contra quilombolas não serão tolerados."

Uma comitiva liderada pelos ministérios da Igualdade Racial, Justiça e Direitos Humanos será enviada nesta sexta-feira (18) para realizar reuniões presenciais junto a órgãos do estado da Bahia e prestar atendimentos às vítimas e familiares para que seja garantida a proteção e defesa do território. O Ministério da Igualdade Racial irá convocar reunião extraordinária do grupo de trabalho de enfrentamento ao racismo religioso. 

O Quilombo Pitanga dos Palmares, liderado por Bernadete, é formado por cerca de 289 famílias e tem 854,2 hectares, reconhecidos em 2017 pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação – RTID do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A comunidade já foi certificada pela Fundação Palmares, mas o processo de titulação do quilombo ainda não foi concluído.

Levantamento da Rede de Observatórios de Segurança, realizado com apoio das secretarias de segurança pública estaduais e divulgado em junho deste ano, já apontava a Bahia como o segundo estado do Brasil com mais ocorrências de violência contra povos e comunidades tradicionais. Atrás apenas do Pará, a Bahia registrou 428 vítimas de violência no intervalo de 2017 a 2022.

*Com informações da Agência Brasil

*Sob supervisão de Marcela Freitas

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