Instagram Facebook Twitter Whatsapp
Dólar R$ 5,7967 | Euro R$ 6,2819
Search

PM que tentou salvar eletricista em acidente de carro deixa recado para a família: 'Ele era um herói'

Policial deixou um recado para a família do eletricista

relogio min de leitura | Escrito por Ana Carolina Moraes | 17 de março de 2022 - 13:27
Edson mora em Seropédica
Edson mora em Seropédica -

Há cerca de quase um mês, viralizou o caso do eletricista Cleison Alves dos Santos, morador do Jardim Catarina, que morreu após um acidente de carro no Arco Metropolitano. Cleison, que era pai de família e deixou a mulher, filhos e enteados, estava indo trabalhar quando tudo ocorreu. A história de Cleison ficou conhecida e ele é visto como um homem de garra que lutou para sobreviver até o último minuto. O SÃO GONÇALO foi atrás do policial que pulou em um rio e tentou salvar Cleison e descobriu que este PM também tem uma história de heroísmo no município onde mora. Edson Cartonilho, ou Cabo Cartonilho, como é conhecido na Polícia Militar, de 33 anos, já venceu a Covid-19 e a depressão. O desejo dele, no dia do acidente de Cleison, era fazer com que o eletricista voltasse para sua família. Ao OSG, o policial contou tudo o que ocorreu e como lida com salvamentos e mortes. Edson ainda deixou, ao final, um recado para a família do eletricista.

Edson começou na Polícia Militar aos 18 anos, como voluntário. Ele serviu na Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército por três anos, onde conseguiu honras para se tornar sargento. Depois disso, Edson atuou no Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), onde ficou por 7 anos e fez cursos operacionais. Hoje, ele teve a oportunidade de permanecer no BPChq, mas escolheu estar atuando no batalhão em Seropédica, cidade aonde cresceu e mora com a família. Lá, ele cuida da população em sua folga e em seu dia de trabalho, atendendo a comunidade pelo rádio. Ao todo, ele está há 11 anos na Polícia Militar.

Ele contou ainda que é muito ligado a Deus e que, por isso, decidiu ser policial. "Eu já era instrutor de Kung Fu na adolescência, então, tinha muita disciplina. Depois, me voluntariei, aos 18 anos, para a Brigada no Exército e me destaquei. Eu fiz alguns cursos, estudei e consegui destaques, sempre ficando nos primeiros lugares das provas. Quando eu vim para a Polícia Militar de fato, minha família era contra, eles tinham medo que eu morresse. Foi aí que eu pedi um sinal a Deus e, no dia seguinte, um moço no ônibus, que eu não conhecia, me perguntou se eu era PM, eu disse que não, e ele insistiu dizendo que eu seria e um dia trabalharia perto de casa, ficando como ele. Depois disso, eu decidi entrar para a PM. Hoje, faz 11 anos que estou na polícia e não fiquei um dia sequer na rua, sem trabalho. Esse senhor do ônibus, que até hoje eu não conheço, acertou. Eu trabalho hoje perto de casa e atendendo as pessoas da forma que eu gosto", afirmou ele. 

Edson já venceu a depressão e a Covid-19. "Quando eu atuava no BPChq, eu tive uma crise nervosa. Foi lá que eu comecei a ver colegas morrendo baleados, com tiros na cabeça e isso mexeu muito comigo. Eu também tive um acidente em uma tentativa de assalto e tudo isso foi somando, até que um dia eu caí todo torto no chão enquanto trabalhava. Tive uma crise nervosa. Fiquei um ano tomando remédio, cheguei perto de ter depressão, mas nos meus momentos lúcidos, eu pedi a Deus para ter minha vida no lugar, eu queria mais uma chance para continuar com a minha missão na terra, de ajudar as pessoas e fui me curando. Hoje, eu larguei o remédio e só tem acontecido coisas boas comigo. Em 2021, no entanto, eu tive Covid-19, cheguei perto de ser entubado, seria levado para a intubação no dia seguinte. Eu, no hospital, lembro que me despedi da minha família, estava quase desfalecido, mas pedi a Deus para que ele pudesse me abençoar para eu continuar ajudando as pessoas. Depois, me recuperei e hoje continuo ajudando a todos que posso, dentro e fora do meu serviço", disse.

Foi com esse pensamento, de que todos são humanos, têm família e precisam de ajuda, que Edson tentou salvar Cleison. "Eu lembro do dia do ocorrido, no dia 18 de fevereiro, eu e um colega estávamos na viatura, de serviço, na BR-465. Quando vimos muitos carros se aglomerando no Arco Metropolitano, a gente até achou que fosse arrastão ou alguma outra atividade criminosa. Fomos até lá e vimos que tinha um acidente, que as pessoas pararam para ver esse acidente. Procurei saber o que estava ocorrendo e, na mesma hora, lembro que pensei em descer para tentar salvar a vítima, já que o carro acidentado estava em um rio, caído, com o motorista dentro. Mas, eram uns 15 metros de altura, não tinha como pular, foi aí que eu vi um caminhão de reboque com o guincho e pedi para me ajudar a descer. Lá embaixo já tinha um bombeiro procurando a situação para ajudar. Conseguimos ver o motorista do carro, ele estava preso nas ferragens e fizemos força até ele sair".

"Quando ele saiu do carro, tentamos os primeiros socorros e fizemos de tudo para salvá-lo, mas ele já estava gelado. Não sei se ainda tinha batimentos fracos ou já estava morto. Eu lembro que tentei de tudo e fiquei fazendo os primeiros socorros nele até a exaustão, que foi quando eu vi que ele estava morto. Durante todo o salvamento, eu só pensava que queria ajudar ele pois esse homem deveria ter uma família e filhos que o queriam em casa. Eu tentei de tudo, ele estava com roupa de trabalho, indo trabalhar e eu sei que ele só queria voltar para sua casa e abraçar sua família. Eu não o conhecia, mas sentia isso", acrescentou.

O policial disse, ainda, que o episódio também o impactou por ter revivido uma experiência semelhante na adolescência. "O que mais mexeu comigo nessa hora do Cleison foi porque eu perdi um amigo assim, que se afogou em uma piscina e isso me trouxe de volta esse momento. Toda hora que eu tentava salvar o Cleison, me voltou esse momento do meu amigo. Fui eu quem, na adolescência, o socorri, achei o corpo dele já sem vida e tentei ajudar, então, me lembro. Lidar com a morte nunca é fácil!", afirmou.

O policial desceu até o rio para tentar salvar Cleison
O policial desceu até o rio para tentar salvar Cleison |  Foto: Arquivo pessoal
 

Infelizmente, Edson não conseguiu salvar Cleison, que acabou vindo a óbito. Mas, a situação gerou um reconhecimento positivo para a PM. "Deputados, vereadores, muita gente viu o vídeo do salvamento e ficou agradecido. Teve gente até do exterior que me ligou e me deu os parabéns, acredito que isso mostra que eu estou no caminho certo na minha missão com Deus", disse ele. Edson fez isso por amor, mas irá receber algumas medalhas de reconhecimento, como a 'Medalha Tiradantes' pelo ato heróico e honroso. 

Mesmo assim, ele afirma que queria ter conseguido salvar Cleison. Edson procurou deixar, através do OSG, um recado para a família do eletricista. "Queria falar para eles terem orgulho do herói que foi o Cleison. Ele faleceu indo prover para sua família, um homem que morreu querendo levar o pão de cada dia para a família. Ele é tão honroso quanto um policial que toma um tiro em uma operação, é tão herói quanto. Eu fiz o meu melhor e queria levá-lo para casa com vida, mas quem escolhe nossa hora é Deus e não nós. Queria muito ter levado ele de volta, mas ele foi um herói", disse ele.

 

Autor: Reprodução/Internet
 

Hoje, depois de toda a sua história de vida, Edson superou os momentos negativos e formou uma família. Casado, ele tem dois filhos, um menino de 3 anos e uma filha de 12 anos (do casamento anterior). Todos os dias, ele busca ajudar pessoas. "Eu converso com muita gente que tem depressão, tento passar a minha história. Eu não sou médico, mas mostro como o poder de Deus foi forte comigo. Também ajudo se vejo alguém que precisa de comida, estando ou não com a farda. Tento sempre ajudar o outro. As vezes uma ação para a gente pode não ser nada, mas para o outro é muito", disse ele. 

 

Autor: Reprodução/Internet
 

Matérias Relacionadas