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"O Abrigo não pode fechar": O pedido de socorro de idosos que podem ser 'despejados' em SG

Sem saber para onde vão, residentes temem ir para lugares com menor estrutura e assistência

relogio min de leitura | Escrito por Daniel Magalhães | 17 de dezembro de 2021 - 17:19
"Isso aqui é um paraíso pra gente", dizem os idosos sobre o abrigo
"Isso aqui é um paraíso pra gente", dizem os idosos sobre o abrigo -

“O abrigo não pode fechar. Isso aqui pra gente é um paraíso. Se fechar, a gente não sabe nem para onde vai”, lamenta Franciso Malto de Jesus, um dos 56 idosos que estão desde a última quarta-feira (15) com medo do futuro incerto que os aguarda devido à decisão da Prefeitura de São Gonçalo de encerrar o convênio com o Abrigo Cristo Redentor, que passa por graves dificuldades financeiras e pode fechar as portas.

Francisco, Joaquim, Nilson e Jailton são apenas alguns dos idosos que estão abrigados no Cristo Redentor, e que vêm perdendo noites de sono desde que a administração da instituição reuniu todos os idosos e anunciou a possibilidade do fechamento. Desde então, eles têm procurado formas de chamar a atenção da imprensa, ONGs e projetos sociais para que os ajudem a permanecer no abrigo que consideram como um “paraíso em São Gonçalo”.

A administração já fez tudo pela gente durante esses anos, já fizeram o máximo que puderam. Agora é a nossa vez de tentar ajudar a eles Joaquim Pina, de 72 anos, morador do Abrigo há 3 anos
 

Joaquim, que também já foi ex-candidato a vereador em São Gonçalo, é um dos 56 moradores do abrigo que estão sob responsabilidade da Prefeitura de São Gonçalo que encerrou o convênio sem dizer onde todos os idosos serão alocados. 

Além de voltar a andar melhor, Joaquim teve aulas de pintura. Tudo no Cristo Redentor
Além de voltar a andar melhor, Joaquim teve aulas de pintura. Tudo no Cristo Redentor |  Foto: Filipe Aguiar
 

Ele, que chegou ao abrigo sem documentos e com problemas de locomoção, teme que vá para uma casa de repouso sem a estrutura do Cristo Redentor. "Eu renasci aqui nesse lugar. Aqui tem médicos, assistente social, nutricionista, fisioterapeuta. A fisioterapeuta me ajudou muito. Quando eu cheguei aqui, estava sem meus documentos e nem conseguia andar direito. A assistente social me ajudou com tudo. A fisioterapia também. Eu precisava andar com um andador e agora eu tô ótimo, preciso só me apoiar com a muleta. Aqui eu também virei um artista, desenvolvi meu lado artístico com aulas de pintura", comemorou.


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“Onde que a gente vai encontrar um outro abrigo com a mesma estrutura aqui em São Gonçalo? A maioria aqui é casa de repouso pequena, a gente está aqui acostumado com um lugar e depois jogam a gente em um quarto que não pode sair o dia inteiro. Isso não pode acontecer", completou. 

Assim como Joaquim e os outros, Jailton também se preocupa com o que está por vir, referindo-se ao abrigo como uma “mãezona”. O idoso, além de se preocupar com ele, teme pelos outros moradores que estão acamados e ainda não estão cientes do que pode acontecer. “Aqui tem muita gente acamada, sem condições de trabalhar… Sair daqui para ir para um abrigo que é casa fechada? Aqui a gente tem espaço, esse lugar é uma mãe pra gente, o lugar é bom, já estamos acostumados com o lugar, as pessoas, fora a assistência que nós temos. Se a gente sair, como é que vai ser? Aqui a gente tem médico, tem nutricionista, psicólogo, enfermeira, nossa roupa é lavada, tem toda uma estrutura pra gente aqui. Nós ainda temos algumas condições, mas e os outros que estão lá dentro, na cama, desorientados? Vai ser o caos. A gente não quer sair, a gente quer que se resolva esse problema pra ficar todo mundo bem”, disse.

Jailton, que considera o abrigo uma mãe, tem medo do que está por vir
Jailton, que considera o abrigo uma mãe, tem medo do que está por vir |  Foto: Filipe Aguiar
 

Francisco, que morava na rua antes de ser acolhido no Abrigo Cristo Redentor, conta que não tem para onde ir caso o abrigo feche e teme que perca a liberdade que o Cristo Redentor lhe proporciona.

Esse é um dos melhores lugares que encontrei, é um lugar muito bom. Estão falando por aí sobre o que vai ser, que vai cada um pra um canto. Mas a gente não quer sair daqui, a gente gosta muito daqui e sabe que vai ser o melhor pra gente Francisco, que está há dois anos no abrigo
 

Devido a preocupação e ansiedade, Francisco chegou até mesmo a desistir de passar as festas de fim de ano na casa de amigos, com medo de voltar e já não poder mais ficar no abrigo, já que o convênio com a prefeitura será encerrado no dia 31.

Francisco morava na rua e foi acolhido pelo abrigo há pouco mais de dois anos
Francisco morava na rua e foi acolhido pelo abrigo há pouco mais de dois anos |  Foto: Filipe Aguiar
 

Assim como Jailton, Francisco é outro que preza pela liberdade e o espaço amplo que tem no Abrigo Cristo Redentor e também teme ir para um local fechado, com poucas atividades e área de lazer. 

“Aqui a gente não tem do que reclamar, é um paraíso. Por enquanto a gente não tá podendo sair muito por causa da pandemia, mas eu podia sair, conhecer Niterói, Alcântara, ir em outros lugares, comprar umas coisinhas. Dependendo do lugar que a gente for, não vai ter isso. Não vamos poder ir nos lugares, vai querer comprar alguma coisa e não vai conseguir. Não é isso que eu quero”, lamentou o idoso de 67 anos.

Nilson Medeiros, de 72 anos, é um dos moradores mais antigos do abrigo. Residente do Cristo Redentor há 12 anos, ele entende que, embora o abrigo passe por dificuldades financeiras, a remoção dos idosos não é a melhor solução. "O abrigo está numa situação burocrática, sim, acontece que eu moro aqui esse tempo todo, mas nunca faltou nada, nunca faltou o café da manhã, o almoço, café da tarde, janta e outras refeições, inclusive acabei agora de tomar o café da tarde, depois já tem outro lanche pra gente. Então, quando eu fiquei sabendo dessa situação, eu só pensei pra onde eu ia, eu não tenho pra onde ir. Fiquei sabendo que a gente ia ser transferido, então tenho ligado pra qualquer pessoa que possa ajudar e socorrer a gente”, falou.

Nilson Medeiros, de 72 anos, é um dos moradores mais antigos do abrigo
Nilson Medeiros, de 72 anos, é um dos moradores mais antigos do abrigo |  Foto: Filipe Aguiar
 

“A gente tem tudo aqui, mas vai ter uma hora que vamos ter que ir embora porque a situação é burocrática e não vai dar mais, e vamos ter que sair, mas a pergunta é: pra onde?”, questionou.

Questionada sobre o destino dos 56 idosos que tem sob seus cuidados no abrigo, a Prefeitura de São Gonçalo disse que o município começou a “buscar novas instituições, através de chamamento público, para atender aos idosos. O contrato a vencer prevê o atendimento a 56 idosos, que deverão ser transferidos".

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