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Dia nacional dos estudantes: conheça o passado e o presente do movimento estudantil em São Gonçalo

Estudantes de São Gonçalo sempre lutaram por melhorias na educação

Escrito por *Claudionei Abreu | 11 de agosto de 2021 - 16:04

O dia nacional do estudante, celebrado nesta quarta-feira (11), marca o dia em que o imperador Dom Pedro I autorizou a criação dos primeiros cursos superiores no Brasil. Na ocasião, foram criadas as Faculdades de Direito de Olinda, em Pernambuco, e do Largo do São Francisco, em São Paulo, pioneiras no ensino superior.

Outro fato marcante, que ocorreu na mesma data, desta vez no ano 1937, foi a criação da União Nacional dos Estudantes (UNE). A entidade nasceu inicialmente com o objetivo de representar os estudantes de diversos níveis, desde o ensino médio ao ensino superior. A UNE atuou em diversos momentos da história do país, como nos movimentos populares das “Diretas Já” e os “Caras-pintadas”.

Alguns anos mais tarde, a UNE deixou de representar estudantes secundaristas, voltando-se exclusivamente para estudantes de nível superior. Em 1948, nasceu, então, a União Nacional dos Estudantes Secundaristas (UNES), que no ano seguinte, 1949, passou a se chamar União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), liderada por estudantes de ensino médio. Já em 1984, nasceu a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), que foi registrada dois anos depois, com objetivo de atender a pauta dos estudantes de pós-graduação.

O dia do estudante, além de homenagear aqueles que se dedicam à educação, tem por objetivo principal provocar uma reflexão sobre a importância da participação de estudantes nas discussões que impactam diretamente a sociedade.  

A história do movimento estudantil em São Gonçalo

A criação da União Nacional de Estudantes Secundaristas (UNES) repercutiu em vários cantos do país, inclusive em São Gonçalo. No mesmo ano, um grupo de estudantes da cidade decidiu fundar a Associação Gonçalense de Estudantes (AGE), com foco principal em estudantes do ensino médio.

A AGE viveu até o ano de 1968, quando, com a intensificação da ditadura, precisou encerrar suas atividades. Em vinte anos de atuação, realizou diversas atividades esportivas e culturais para estudantes do ensino médio da cidade e conquistou uma série de benefícios para os jovens, como a meia entrada em cinemas municipais, meia passagem no transporte público, diminuição do valor das mensalidades escolares etc. Uma das principais bandeiras do grupo era a luta pela expansão do ensino secundário na cidade.

Além do caráter cívico, cultural, esportivo e filantrópico da AGE, a entidade teve uma forte influência na política de São Gonçalo. O grupo de jovens que presidiu e fez parte da associação, alguns anos mais tarde, viriam a ser eleitos para uma série de cargos dos poderes executivos e legislativos.

Percebendo a importância do grupo para a cidade, o então candidato a vereador Joaquim Lavoura, eleito pela primeira vez em 1947, que anos mais tarde viria a se tornar prefeito da cidade, aproximou-se dos estudantes que lideravam a AGE. Alguns anos depois, ao chegar à prefeitura, em 1955, Lavoura continuou a aliança com os antigos líderes da AGE, que fizeram parte do governo do ex-prefeito.

Da união entre estudantes da AGE e o então prefeito Lavoura nasceu o grupo político que ficou conhecido como “Lavouristas”. Alguns dos nomes que fizeram parte da AGE e posteriormente elegeram-se políticos foram o ex-prefeito de São Gonçalo, Osmar Leitão Rosa, e o ex-governador do estado do Rio, Geremias de Mattos Fontes.

Ao longo de sua história, em diversas ocasiões, O SÃO GONÇALO publicou reportagens sobre a AGE. "Estudantes, a AGE vos conclama ao estudo, a participação nas entidades estudantis e ao interesse pelos destinos da Pátria. Convosco está a chave do futuro e ele já começa a ser presente”, diz a carta aberta lida no IX Congresso da AGE e publicada por O SÃO GONÇALO, na edição impressa do dia 24 de maio de 1966. Esse foi um dos últimos congressos realizados pela associação antes de seu fechamento.

 

'Bandejão' da FFP-UERJ é conquista de estudantes

Apesar do fim da AGE, em 1968, e com a repressão da ditadura militar nos anos seguintes, São Gonçalo nunca deixou de ter uma forte atuação do movimento estudantil. Estudantes, tanto secundaristas quanto universitários, sempre realizaram ações em várias partes da cidade para reivindicar melhorias para a educação pública. 

Atualmente, um dos principais movimentos de estudantes na cidade acontece na Faculdade de Formação de Professores (FPP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), no campus de São Gonçalo, localizado no bairro Paraíso. Uma das principais conquistas dos estudantes é recente: o anúncio de construção do restaurante universitário.

Coordenadora-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UERJ, a estudante de história Camilla Menezes, de 25 anos, aponta que a conquista do restaurante universitário é uma luta pautada pelos estudantes há muitos anos.

“A construção do restaurante universitário é uma reivindicação antiga dos estudantes da FFP. As obras ainda não começaram devido à pandemia e à reestruturação do projeto, mas em breve poderemos contar com este espaço na universidade, fruto da luta dos estudantes. Além disso, também temos outras pautas que já estão sendo atendidas, como as obras de acessibilidade no prédio, com a construção de elevadores e adaptação nos banheiros”, destaca.

Moradora do Porto Novo, em São Gonçalo, Camilla apontou também a importância do engajamento dos estudantes em pautas de interesse geral.

“Os estudantes precisam sempre lutar e cobrar por ações do poder público para conseguir melhorias para a educação. Cabe a nós fazer isso através da organização de centros acadêmicos e grêmios estudantis, porque dessa forma conseguimos entender melhor a realidade que vivemos e identificar os problemas que precisam ser enfrentados”, diz.

Camilla também apontou que durante a pandemia, estudantes da UERJ atuaram em parceria com os órgãos da universidade para viabilizar meios de permanência para os alunos, superando os desafios impostos pela pandemia de Covid-19. Algumas conquistas foram a distribuição de tablets e chips para que os alunos pudessem ter acesso à internet para assistirem as aulas durante o período remoto.

Grêmios estudantis garantem conquistas para São Gonçalo

Estudante do CIEP 309 Zuzu Angel, no bairro Arsenal, em São Gonçalo, Grazielle Rangel, de 16 anos, é uma das fundadoras do grêmio estudantil do colégio, criado em 2018. Ela aponta que os grêmios estudantis são uma forma de os estudantes contribuírem para melhoria da educação pública.

“Os alunos sempre têm ideias e projetos, mas muitas vezes não têm quem escute e apoie, e esse é o principal papel do grêmio estudantil. O grêmio dá voz aos alunos para que a escola venha a se tornar um espaço agradável e participativo para os alunos”, afirma.

Moradora do bairro Jockey, em São Gonçalo, ela também citou alguns projetos que já foram realizados através do grêmio estudantil.

“Nós realizamos um campeonato de futebol, que apesar de ser algo simples, movimentou bastante a escola de uma forma que nunca tínhamos visto antes. Também colocamos músicas durante o intervalo. Com essas pequenas coisas mostramos que a escola pode ser um ambiente mais agradável. E em questão à educação, o grêmio também atua fazendo parcerias com organizações para ofertar cursos, aulas diferenciadas e desenvolvendo outros projetos que atendam aos interesses dos estudantes”, destaca.

No site da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), os jovens interessados em criar um grêmio estudantil em seu colégio pode encontrar os cinco passos necessários para fundação da organização, assim como os modelos de documentos. Clique aqui e confira.

*Estagiário sob supervisão de Thiago Soares

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