Por onde anda o ator gonçalense Izak Dahora? Artista revelou tudo sobre sua carreira e relação com São Gonçalo
Ator estará em adaptação de Grande Sertão Veredas ao cinema, sobre direção de Guel Arraes e Flávia Lacerda

O artista gonçalense Izak Dahora alcançou o estrelato ainda muito jovem, ganhando notoriedade como o Saci de “O Sítio do Pica Pau Amarelo'' com apenas 13 anos. Agora bem mais maduro e no auge de sua capacidade criativa, com 33, ele continua buscando novas maneiras de explorar sua veia artística e revelou em entrevista exclusiva ao O SÃO GONÇALO tudo sobre suas últimas empreitadas.
Nascido em Alcântara e criado na Porto da Pedra, o gonçalense que reside no Rio há 14 anos, morou em São Gonçalo até os 19 e foi lá onde teve seus primeiros contatos com a arte. Afilhado e conterrâneo do famoso compositor Altay Veloso, Izak sempre esteve ligado à música, começando sua carreira artística no Coral de Música Antiga da Universidade Federal Fluminense com apenas oito anos. Ele conta que essa relação posteriormente lhe abriu muitas portas e revelou uma outra vocação que ele até então não sabia que tinha, a vocação para professor.
“Há três anos que dou aula na Universidade Estácio de Sá, nos cursos de teatro, cinema e produção audiovisual. Lecionar é um dos grandes prazeres que tenho na vida, um braço da minha vida profissional que se abriu a partir do meu contato com a arte. Tenho uma relação com música desde a infância e no final da minha adolescência comecei a dar aulas em uma escola de Jacarepaguá. Ali começou minha relação com a docência e eu fui percebendo que era uma relação tão séria quanto atuar pra mim. Essa questão de poder pesquisar, atuar como pesquisador, como professor, só alimenta meu lado artista. Sou professor de artes no Brasil, então é resistência em todos esses setores, como artista, como professor e como pesquisador.”, relatou ele.
Mestre e doutorando em Artes pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Izak se define como um “artista docente”. Ele afirma que sempre teve uma sede por conhecimento e, por isso, a carreira acadêmica desempenhou um papel muito importante em sua vida até aqui, complementando suas demais atividades e sendo sua principal atividade durante a pandemia. O ator falou ainda sobre alguns outros trabalhos realizados por ele durante o período.
“Fiz o ‘Falas Negras’, que foi ao ar ano passado, com direção do Lázaro Ramos, um especial muito interessante. Fiz uma peça de teatro online, que chamava ‘Diva’, que foi um desses experimentos do teatro que aconteceram junto com o audiovisual, uma peça feita para a internet. Fizemos uma versão online pro Sesc também de ‘O Encontro - Malcolm X e Martin Luther King Júnior’, e logo antes da pandemia começar, no começo de 2020, terminei o ‘Éramos Seis’, que foi a novela das seis. Mas, durante essa pandemia, minha principal atividade foi como professor. Eu não parei de lecionar, a Universidade não parou, né. Então, segui nas aulas remotas, com o home office, que foi um grande desafio para todo professor, continuar fazendo educação de casa, sem aquele contato, ainda mais em cursos de tamanha intimidade e contato físico como o audiovisual, o teatro. Mas continuamos fazendo, felizmente, porque era importante também não parar.”, comentou ele.
Izak revelou ainda que estará no próximo filme dos diretores Guel Arraes e Flávia Lacerda, contracenando com seu grande amigo Eduardo Sterblitch, em uma releitura do clássico literário de Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas, com lançamento previsto para o segundo semestre de 2022.
“Alemão foi o filme que me deu a melhor oportunidade no cinema até hoje, mas o Grande Sertão tá vindo como uma grande oportunidade pra mim nesse sentido também. É um personagem muito interessante, um perfil que até então eu ainda não tinha feito. As pessoas me associam muito a um cara muito tranquilo, muito sorridente, que eu de fato sou. Mas eu tenho percebido que nos últimos anos eu tenho tido personagens de outras matizes e o Nefasto, que é o meu personagem no Grande Sertão, é o assistente do vilão da história e, em alguns momentos, se revela até pior que ele. Então, está sendo um prazer muito grande fazer esse personagem, tem realmente um tom diferente dos personagens que eu já fiz e no cinema, né, com a direção de Guel Arraes e Flávia Lacerda, com todo o tempo que o cinema tem do processo, da pesquisa, da leitura, nesse sentido também pela direção do Guel, que gosta muito de conduzir os atores, que é muito próximo também do teatro. Está sendo muito rico fazer Guimarães Rosa no cinema!”, esclareceu Izak.
O ator falou também sobre seu amadurecimento ao longo dos anos e como este processo tem afetado positivamente sua vida profissional ao expandir seu leque de possibilidades.
“O Nefasto, meu personagem, com esse nome vocês já devem imaginar, ele lida com as forças do mal, ele tem inveja, violência, sadismo, é um personagem que mexe assim com o lado estranho da força humana, mas ao mesmo tempo é um exercício muito interessante pra mim como ator e eu sempre batalhei muito por isso, porque um dos grandes valores pra mim desse ofício é a possibilidade da versatilidade. Hoje eu estou com 33 anos, comecei a trabalhar com 10. Então, eu sinto a passagem do tempo mesmo, sinto que meu amadurecimento como ser humano, de alguém que vai ficando mais velho, começa a aparecer nos personagens também. Recentemente tive a oportunidade de fazer pais, personagens mais velhos, eu no teatro estou há três anos com um espetáculo que chama 'O Encontro - Malcolm X e Martin Luther King Júnior', que é um momento muito importante da minha carreira, porque é um grande personagem da história, o Malcolm X, que tem 39 anos quando é assassinado, então é um personagem que tem um peso, e pra mim poder fazer um personagem assim, com essa envergadura, com essas questões, tão complexas todas, desse grande ativista que foi o Malcolm me coloca muito agradecido por esse momento. A carreira tem ciclos né, e esse é um ciclo de novos personagens para mim também. Fico muito feliz por isso.”, desenvolveu o ator.
Por fim, Izak fez questão de anunciar que está trabalhando no seu segundo livro, uma obra dedicada à sua relação com seu falecido avô, Manoel Montes, às memórias da sua infância e seu amor pela cidade em que nasceu e onde mora sua avó, Nadir, que visita periodicamente.
“Lancei meu [primeiro] livro depois do mestrado. É um livro que trata da teatralidade, dos desfiles das escolas de samba e dessas experiências artísticas de várias artes ao mesmo tempo, que é o que eu gosto, que acho que expressa muito o que eu sou, meus interesses por música, teatro, literatura. Agora estou preparando meu próximo livro nas minhas brechas de tempo, que tem a ver com meu avô. Antes de morrer ele pediu pra eu escrever um livro sobre ele. Esse ano faz 10 anos que ele morreu. Ele foi veterinário, foi também muito ligado à Primeira Igreja Batista de São Gonçalo, foi diácono. E eu fiquei muito tempo pensando sobre isso e depois de 5 anos passados da morte dele eu encontrei o mote do livro que eu queria fazer sobre ele. Eu já comecei a escrever, é um livro que mexe com essa questão das memórias também. Tem uma solução que eu encontrei pra fazer esse livro que aí é segredo, não posso dar spoiler. Mas é sobre isso, tem uma relação com a família, com as memórias e com a cidade onde eu nasci também. Minha relação com São Gonçalo é muito verdadeira. Sempre falo de onde venho, onde eu nasci e isso pra mim é muito importante, as minhas raízes estão todas fincadas aí.”, expressou o artista.
O ator estará neste sábado (20), Dia da Consciência Negra, com a peça "O Encontro - Malcom X e Martin Luther King Jr" no Teatro Prudential, no Rio de Janeiro, em evento que marca sua volta aos palcos após quase dois anos afastado por conta da pandemia.
Estagiário sob supervisão de Marcela Freitas*