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Áudios interceptados revelam ameaças e chantagem da milícia em Itaboraí

Grupo atuava em todo tipo de comércio e escolas

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 05 de julho de 2019 - 16:49
'Serviço' de segurança 'negociado' pela milícia tinha cadastro e tabela de valores
'Serviço' de segurança 'negociado' pela milícia tinha cadastro e tabela de valores -

Novos áudios divulgados pela polícia, interceptados pela megaoperação Salvator deflagrada nesta quinta-feira (4), revelam um pouco mais sobre o modo de atuação dos criminosos. 

Em um dos áudios, um dos criminosos explica para a direção de uma escola, sobre um suposto serviço de segurança.

Vítima: "Boa noite, é o Thiago? Eu sou a diretora da escola. Você esteve na escola?"

Milícia: "Aqui é o Thiago. A gente esteve aí hoje para fazer o cadastro da senhora. A gente faz parte da equipe de segurança aqui do bairro. A gente está combatendo o tráfico, combatendo os assaltos. Aí o patrão pediu para passar aí e ver se vocês podem colaborar com a gente".

Vítima: "É quanto, Thiago?"

Organizado, o grupo criminoso teria, inclusive, uma tabela de preços de acordo com o tempo do "serviço" oferecido. 

Milícia: "O que acontece, a gente tem uma tabela. Nessa tabela, está R$ 300 por semana".

Vítima: "Por semana, Thiago?"

Milícia: "É ué. O que a senhora pode fazer pra gente?"

Vítima: "Você sabe que aqui é uma escola né? A gente trabalha, corre atrás, tem pai que não paga. Eu sei que é o trabalho de vocês, mas R$ 300 por semana é muito caro".

Milícia: "A gente pode tirar 100, já ajuda a senhora?"

Vítima: "Já ajuda e muito".

Milícia: "Então fica R$ 200 por semana. A gente passa toda terça-feira".

Vítima: "Eu sei que vocês estão fazendo segurança, mas nada de negócio de arma".

Milícia: "Isso a senhora pode ficar despreocupada. Estamos aqui para trazer o bem e a paz".

Vítima: "Quando você chegou aqui, a menina chegou a tremer. Expliquei a ela que era o rapaz da segurança aqui na rua. Como é feito esse pagamento? Quem vem pegar?"

Milícia: "Vai eu ou o Pedro que trabalha comigo. Ele vai chegar, se identificar, dizendo que trabalha na segurança".

Vítima: "Não dá para fazer pelo menos por R$ 150?"

Milícia: "A gente tem uma tabela que é passada pelo nosso patrão. Eu já estou tirando 100 sem ele permitir. Todos os comerciantes pagam. A gente vai em todas as escolas. Já estamos prestando essa segurança há uns cinco meses. E só fomos fazer o cadastro agora. Pode chegar em um mercado ou uma padaria e perguntar".

Vítima: "Como vocês fazem essa segurança?"

Milícia: "A escola da senhora fica no bairro Nancilândia né? Atrás do colégio tinha favela. Quantos pais não foram assaltados ou quantos alunos a senhora não perdeu por falta de segurança? A boca de fumo era atrás da escola. Já pegamos vagabundo vendendo drogas para os alunos. Temos Vários funcionários rodando, viatura que passa 24 horas". 

A conversa segue com o miliano argumento sobre o "serviço" e em seguida, a negociação é concluída ao valor de R$ 180 semanais.

Cemitério clandestino

Apesar da fachada de "serviço de segurança", o grupo atuava de forma extremamente violenta. Na manhã desta sexta (5), policiais da DH estiveram à procura de um cemitério clandestino em Itaboraí
que, segundo as investigações, podem abrigar corpos de pessoas desaparecidas mortas pela milícia do local. Alguns corpos e ossadas já foram descobertos no terreno.

Segundo a polícia, vítimas da organização criminosa eram chamadas de "discos voadores", por sumirem repentinamente sem deixar pistas.

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