'Exército' de lutadoras
Mulheres são maioria entre alunos de academia de artes marciais em São Gonçalo

Por Renê Santos
Alguns calções não são pretos, nem azuis e ficam acima do joelho. Ganham tonalidades coloridas, como rosa, laranja e até um “animal print”. As mãos estão longe de serem grossas ou calejadas. As unhas usam esmalte vermelho, pink ou verde claro. A feminilidade chegou ao tatame e, no mínimo, equilibrou os espaços entre homens e mulheres. Enfim, parece mesmo que o Muay Thai ou boxe tailandês virou uma paixão feminina.
Essa “nova” realidade pode ser encontrada no Centro de Treinamento Geração Forte, em Santa Isabel, São Gonçalo, onde 80% dos praticantes são mulheres “atraídas” pela própria administradora da academia e pela personagem Jeiza (interpretada pela atriz Paola Oliveira) na novela “A Força do Querer”, da TV Globo. A lutadora e atual campeã do cinturão categoria 66 quilos na “Team New Corpore”, Ana Costa, de 31 anos, se diz surpresa com a mudança de perfil dos alunos, ocorrido há pouco tempo.
“Atualmente as mulheres conseguem enxergar que podem praticar qualquer arte marcial e continuar feminina. De quebra, a prática trabalha o corpo e a mente”, afirmou a lutadora revelando ainda a sua própria trajetória de desafios pessoais para conquistar um “lugar ao sol”.
“Comecei na modalidade há nove anos. O principal motivo foi defesa pessoal, mas não esperava que o Muay Thai se tornaria uma paixão enorme. Sempre gostei de lutas, mas minha mãe falava que era coisa para homens. Então, aguardei a maioridade e entrei. Com um tempo de treino, percebi que tinha potencial, disputei um campeonato amador no Rio de Janeiro e me consagrei campeã estadual. Sou apaixonada pela adrenalina que a luta proporciona”, completou a ex-comerciária, que no centro de treinamento mantém ainda um projeto socioesportivo com o marido e treinador Welker Basílio.
Contra o preconceito
Ainda de acordo com a lutadora Ana Costa, por incrível que pareça, os homens até já valorizam a capacidade feminina.
“Muitos meninos hoje me procuram para treinar, provando que um pouco do preconceito contra as mulheres está sendo vencido. Aproveito esse ‘gancho’ para provar a capacidade feminina. Mas quando comecei não era assim. Ainda havia muita gente que achava que artes marciais eram só para os homens”, explicou Ana.
As mulheres só foram legalmente autorizadas a lutar Muay Thai há apenas 22 anos. As regras para as mulheres são as mesmas para os homens, a única diferença é que cada round na disputa feminina tem dois minutos em vez de três na masculina.
“Preconceito contra mulher é um assunto importante a ser pensado e discutido não só dentro mas também fora do Muay Thai”, definiu Ana Costa.
Objetivos diferentes, paixão igual
Embora a paixão pelo Muay Thai seja semelhante, nem sempre os praticantes trilham o mesmo caminho. São os casos de Yasmim Braz, de 27 anos e Luana João, 18. A dupla treina forte três vezes por semana, mas o objetivo de cada uma é bem diferente. Enquanto a primeira pratica para manter a forma, a outra tem o objetivo de ser uma lutadora.
No tatame há nove meses, Yasmim Braz, que é professora, conta que começou a prática com intuito de perder peso. A luta, no entanto, acabou trazendo outros benefícios segundo ela, como levar uma vida mais “zen” em meio à agitação da profissão.
“Quando cheguei no CT, meu principal objetivo era ajudar a emagrecer. Afinal, nós, mulheres, nunca estamos totalmente satisfeitas com nosso corpo. Mas além de perder peso, ganhei mais condicionamento físico e, futuramente, vou buscar graduações para ministrar aulas. Quanto aos torneios, no momento, não penso”, afirmou Yasmim.
Já Luana decidiu praticar a luta como esporte. Embora nunca tivesse ouvido falar de Muay Thai, optou pela modalidade e, desde então, começou ambição por competições. Participou duas vezes do “Favela Kombat”, no qual venceu em uma das edições e também derrotou adversárias em outras competições regionais.
“No início foi muito difícil, porque não tive apoio da família por ser mulher...Mas já se passaram quatro anos e aqui estou. Meu treino sempre foi voltado para competições, e no próximo mês pretendo lutar novamente. Além da Liga Carioca, na qual fui campeã, já participei de diversos eventos. Muay Thai é minha vida”, afirmou Luana.
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