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A cultura negra no Brasil: uma herança rica e diversa

Música, culinária, religiões; as raízes africanas estão por toda a parte; saiba mais

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 20 de novembro de 2023 - 13:48
Dia da Consciência Negra é comemorado no Rio com homenagem a Zumbi
Dia da Consciência Negra é comemorado no Rio com homenagem a Zumbi -

No dia em que se comemora a Consciência Negra, 20/11, é importante relembrar as infinitas contribuições da cultura de origem africana para a construção da personalidade brasileira, que estão por toda parte. A cultura africana chegou ao país a partir da metade do século 16, com os povos escravizados trazidos da África durante o longo período em que durou o tráfico negreiro transatlântico.

A diversidade cultural da África refletiu-se na diversidade dos escravos, de etnias e idiomas distintos, que trouxeram ao Brasil uma série de tradições, contribuindo para a cultura brasileira em uma infinidade de aspectos.


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Os africanos trazidos ao Brasil incluíram bantos, nagôs e jejes, cujas crenças religiosas deram origem às religiões afro-brasileiras, e os hauçás e malês, de religião islâmica e alfabetizados em árabe. Mesmo sendo reprimida pelos colonizadores, assim como a cultura indígena, a africana foi extremamente relevante para a construção da identidade nacional e traz ricas heranças até os dias de hoje.

Música: Além do samba, que é o estilo brasileiro mais famoso no mundo, outros ritmos também vieram a partir da herança cultural negra: Maracatu, Congada, Cavalhada, Moçambique. Além disso, muitos instrumentos musicais também fazem parte dessa cultura, como o afoxé: tipo de chocalho feito com uma cabaça e uma rede de miçangas; agogô: cones de metal tocados com uma baqueta; barimbau; caxixi: cesto de vime em forma de chocalho encerrado no fundo uma cabaça com sementes; atabaque: tambor alto; cuíca: parecido com tambor, mas com uma varinha encostada à pele, que fricciona produzindo som; djembe; ganzá e muitos outros.

Culinária: Ingredientes como o leite de coco, a pimenta malagueta, o gengibre, o milho, o feijão preto, as carnes salgadas e curadas, o quiabo, o amendoim, o mel, a castanha, as ervas aromáticas e o azeite de dendê não eram conhecidos nem usados no Brasil antes da chegada dos negros naturais da África. Muitos pratos conhecidos e apreciados no Brasil chegaram graças à cultura trazida pelos negros: vatapá, caruru, abará, abrazô, acaçá, acarajé, bobó, caldos, cozido, galinha de gabidela, angu, cuscuz salgado, moqueca e a famosa feijoada.

Em relação à culinária, muitos doces também foram incorporados à cultura brasileira graças a herança do povo negro, como a canjica, mungunzá, quindim, pamonha, angu doce, doce de coco, doce de abóbora, paçoca, quindim de mandioca, tapioca, bolo de milho, bolinho de tapioca, entre outros.

Religiões: Na África existe uma infinidade de religiões, mas ao chegarem ao Brasil, os escravos foram separados de seus parentes, passando a se reunir com pessoas de outras etnias para realizarem os cultos secretamente. Para que todos pudessem participar, as reuniões eram realizadas através de uma mistura de cada religião, com rituais e cultura unidos e partilhados.

Foi a partir desse momento que surgiu o Candomblé e a Umbanda. A primeira crença nasceu na Bahia e é sinônimo de tradições religiosas afro-brasileiras em geral. Já a Umbanda, que também tem origens africanas, une práticas de várias religiões, inclusive a Católica. A crença se originou em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, no início do século 20.

De acordo com o Pai Fernando D´Oxum, bacharel em Direito, Sacerdote da Tenda Espírita São Lázaro do bairro Pita, Presidente do MuseUmbanda em São Gonçalo e Líder da Comissão da Semana da Umbanda em São Gonçalo, a religião de matriz africana está inteiramente ligada ao Dia da Consciência Negra e toda a representatividade que essa data traz.

"A Umbanda está intrinsecamente ligada a comemoração da Consciência Negra, e isso não falo somente no tocante à cor da pele, falo também do nosso estado de espírito, da responsabilidade de vivermos em uma comunidade que se ajuda o tempo todo, da nossa herança ancestral como povo tradicional de matriz africana. Defender tudo que essa data representa, é defender os diretos humanos, a liberdade de culto, a propagação dos saberes e a dignidade do nosso povo de matriz africana", disse Pai Fernando.

"Durante muito tempo, a Umbanda foi usada, como instrumento de separação entre pessoas de cores diferentes e cultos diferentes da matriz africana, então hoje nossa missão como liderança umbandista em São Gonçalo, é afirmar a grande colaboração que o saber ancestral deu para o desenvolvimento da Umbanda que vivemos hoje em 2023, a Umbanda Preta, a Umbanda de Terreiro, a Umbanda que não separa, nem se sente melhor do que qualquer coirmã de matriz africana. Somos todos povos tradicionais e celebrar essa data é mostrar a toda sociedade a nossa coesão como povo", concluiu o líder religioso.

Artes marciais: A capoeira, uma mistura de dança e luta, foi criada pelos escravos como uma estratégia de defesa. Como os treinamentos de combate eram proibidos, os escravos que conseguiam fugir, mas que acabavam sendo recapturados, ensinavam aos demais os movimentos da arte marcial.

Embalados pelo som do berimbau, eles enganavam os capatazes, que achavam que estavam apenas dançando. A capoeira só deixou de ser proibida no Brasil na década de 1930. Em 1953, o mestre Bimba apresentou a arte ao então presidente Getúlio Vargas, que a chamou de “único esporte verdadeiramente nacional”.

Língua: As línguas africanas exerceram tanta influência no modo de falar do povo brasileiro que a língua nacional é considerada diferente do português falado em Portugal. Na Bahia, são usadas cerca de 5 mil palavras de origem africana.

A maior parte das palavras que enriqueceram o vocabulário brasileiro vêm do quimbundo, língua do povo banto, da África. Na época da escravidão, o quibundo era a língua mais falada nas regiões Norte e Sul do país.

A existência da escravidão no Brasil durante quase quatrocentos anos, influenciou diretamente a formação cultural do Brasil. A miscigenação entre africanos, indígenas e europeus é a base da formação populacional do país, fazendo com que, dessa forma, a matriz africana da sociedade tenha uma influência cultural incalculável.

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