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Reconhecimento de gênero

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 12 de setembro de 2015 - 19:55

Estefanie, que não sabia ler e escrever antes de ser presa e condenada, comemora o direito de usar uniforme e roupas íntimas de acordo com gênero que se identifica

Foto: Leonardo Ferraz

Por Renata Soares

Chamado popularmente de Galpão da Quinta, por ficar próximo à Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, Zona Norte carioca, o presídio Evaristo de Moraes possui atualmente 1.773 detentos, sendo 78 travestis. O Evaristo é uma das unidades que abriga o maior número de travestis do Rio e foi um dos mais afetados com o regulamento assinado esse ano, garantindo novos direitos à classe do sistema penitenciário do estado.

Para conhecer de perto a mudança que os benefícios estão trazendo à vida desses presos, O SÃO GONÇALO foi ao Evaristo de Moraes e entrevistou cinco homossexuais, sendo quatro travestis. Durante as entrevistas, que serão publicadas de hoje a terça-feira, os jovens contaram como é passar os dias num presídio masculino, as dificuldades e preconceitos, e, sobretudo, relembraram o que os levaram ao mundo do crime e como pretendem seguir a vida quando saírem do sistema penitenciário.

Assinada no dia 30 de maio, a resolução, de acordo com o “Rio sem Homofobia”, veda qualquer tipo de discriminação e preconceito por conta de orientação sexual ou identidade de gênero. Além disso, garantiu aos presos a inclusão do nome social como se identificam, na Guia de Recolhimento do Preso.

No entanto o que mais alegrou as travestis foi conquistar o direito de usarem uniformes e roupas íntimas, de acordo com o gênero que se identificam, - inclusive durante os banhos de sol, quando anteriormente eram obrigados a ficarem com os seios à mostra -, e a garantia de acesso aos serviços públicos de saúde, incluindo a hormonoterapia e a manutenção dos cabelos compridos.

Outro benefício recém-conquistado pelas travestis foi o direito a visitas íntimas. Porém, de acordo com a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap), atualmente existem 130 travestis presas, das quais cerca de 8% recebem visitas das famílias e nenhuma delas recebe a tão sonhada visita íntima.

Mas, segundo Estefanie Ferraz, de 29 anos, condenada por tentativa de homicídio, a visita íntima é facilmente substituída por relacionamentos que acontecem dentro do presídio.

“Muitos dos homens que lá fora poderiam ter preconceito, aqui dentro mantêm relacionamento com a gente. Eles ficam apaixonados. Quase todas as travestis aqui são casadas com homens, que antes se viam como heterossexuais”, contou a jovem.

Aprendendo a ler e escrever

Apesar de conhecer grande parte do mundo e ter vivência na noite carioca, Estefanie não conseguiu fazer tudo o que desejava. A morena, com cabelos compridos, rosto maquiado e corpo escultural, não sabia ler nem escrever.

Agora presa, ela usa os dias para estudar e comemora cada avanço.

“Deixa eu escrever meu nome para você ver como é. Mas não repara a letra, ainda estou aprendendo”, disse orgulhosa à repórter de OSG.

Batizada de Didier Pereira Ferraz ao nascer, Estefanie ganhou vida aos 13 anos, quando começou tomar hormônios femininos. Aos 24, iniciou as transformações físicas, com plásticas no rosto e aplicação de próteses de silicones no corpo.

Sempre trabalhando como garota de programa, ela contou como está sendo viver sem as noites de glamour. Ela morou e trabalhou na Itália, Alemanha e Suíça.

Sentindo-se mulher, Estefanie tem orgulho de ser considerada muito feminina, mas afirma não se incomodar quando é tratada pela nome de batismo.

“Me apresento como Estefanie, mas quando um agente penitenciário ou uma pessoa com preconceito me chama pelo nome masculino não brigo. Melhor deixar para lá”, afirmou a detenta, com um sorriso.

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