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Mais mulheres no tráfico

Cerca de 70% de detentas em presídio feminino no Rio são pela prática deste crime

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 15 de agosto de 2015 - 20:50

A história de S.N.P., de 63 anos e ex-moradora de Itaboraí, evidencia um triste retrato de mulheres mais velhas presas por tráfico

Foto: Alex Ramos

Por Renata Sena

Assim como criminosos da Favela do Sabão, em São Lourenço, Niterói, estão recrutando mulheres para ‘trabalhar’ em bocas de fumo, outras comunidades do Estado do Rio e de São Paulo também utilizam o artifício para desviar a atenção da polícia. A tática, no entanto, não tem se mostrado tão eficaz, pois a cada ano aumenta o número de mulheres cumprindo penas em presídios por tráfico de drogas. Para conhecer o caminho que tem levado essas mulheres ao mundo do crime, a repórter Renata Sena foi até o presídio feminino Talavera Bruce, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, para conversar com detentas, com diferentes perfis e históricos familiares.

De acordo com a inspetora penitenciária e diretora da unidade prisional Andréia Oliveira, de 41 anos, o Talavera Bruce tem capacidade para 436 internas e abriga atualmente 381 mulheres já condenadas. Das presas, conforme Andréia, 70% são condenadas por tráfico de drogas.

A primeira das entrevistadas é S.N.P., de 63 anos, que trabalhava como empregada doméstica de segunda a sexta-feira e consumia cocaína nos finais de semana. Essas duas realidades que parecem tão distantes, era rotina na vida dela. Moradora de Itambi, em Itaboraí, a vida de S. ganhou novos contornos quando, no início de 2013, foi presa em flagrante por tráfico.

Apesar de negar ser traficante, ela foi detida numa sexta-feira, quando saía de um forró, com sacolés de cocaína, que, segundo ela, era para consumo próprio.

Na sua terceira passagem pelo sistema penitenciário, sua prisão teve um ‘sabor’ diferente. “Nas duas outras vezes, fui presa por 155 (artigo relativo ao crime de furto), era nova e tirei bem isso aqui. Agora, além de ter sido acusada de uma coisa que não sou, já estou velha, e a idade tem pesado bastante”, lamentou.

Assim como outras 59 detentas, S., vive em uma cela sozinha, que as presas chamam de cubículo. A solidão, no entanto, não é novidade para a mulher, que foi doada pela mãe biológica assim que nasceu, perdeu a mãe adotiva na pré-adolescência e, desde então, passou a viver sem ninguém para compartilhar as experiências da vida.

“Nunca tive ninguém e aprendi a viver sozinha. Sou usuária de cocaína desde, nova mas nunca deixei a droga interferir na minha vida profissional. Trabalhei a vida toda, e meus patrões nunca souberam do meu envolvimento com a droga”, contou.

’Não tenho saúde para recomeçar’

Quando perguntada sobre o futuro, S., perde o sorriso e, fala com tom sério. “Não sei. Não tenho nada. Minha casa era alugada e quando fui presa deve ter sido fechada. Perdi o pouco que tinha e agora não tenho mais saúde para recomeçar”, responde de cabeça baixa.

Ela foi condenada a cinco anos de prisão e já cumpriu dois anos e três meses, em regime fechado. Para ela, os dias nunca foram fáceis.

“Como não tenho visitas, não recebo nada de fora. Fico quieta no meu canto o dia todo”, disse. De uma coisa, porém, tem certeza no meio a tantas dúvidas.

“Não sei como, nem quando, mas assim que eu sair daqui vou voltar para o meu canto, minha terra. Vou voltar para Itambi”.

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