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Idoso é vítima de 'fake news' que o acusa de estuprar criança em SG

Ele é proprietário da primeira creche comunitária do bairro

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 08 de novembro de 2019 - 14:29
Responsáveis dos alunos apoiam o idoso
Responsáveis dos alunos apoiam o idoso -

Daniela Scaffo

A vida do aposentado Aluísio Bonfim da Silva Taylor, o 'Baiano da Creche', de 79 anos, que mora no Jardim Catarina, em São Gonçalo, se transformou de forma negativa, após uma página do bairro e um perfil falso criados em uma rede social compartilharem a informação de que ele teria estuprado uma criança. Agora, o idoso sofre constantes ameaças e tem medo até mesmo de sair de casa. 

Na publicação, que foi ao ar na última quarta-feira (6), o aposentado é acusado de ter abusado de uma criança após a menina ter ido ao seu comércio - que hoje não está mais em funcionamento - comprar um lanche para comer durante o intervalo das aulas. Aluísio é responsável por inaugurar uma creche pública no Jardim Catarina, em funcionamento desde 1989.

"Atenção! Esse homem velho nojento da foto é pedófilo, gosta de mexer com meninas. Crianças, um filho da p*** que estuprou a minha filha. Uma menina que ia para a escola feliz, agora tem a vida só em psicólogo e em remédios. Segundo minha filha, ela ia na loja dele para comprar o lanche da escola e ele ficava agarrando ela, tentando ter relações sexuais", dizia a publicação, feita através de um perfil com nome de Graciane Barbosa.

Ela segue dizendo que 'descobriu' o ato após dar banho na menina e ela reclamar de dores na região íntima: "(...) Dizia que ardia quando fazia xixi. Eu perguntei a ela se tinha acontecido alguma coisa e ela não quis falar. Eu impressionei (sic) ela até que ela me contou tudo. Esse velho filho da p*** nojento roubou a pureza da minha filha. Esse monstro tem que estar atrás das grades", continuou, informando até mesmo o endereço do idoso, seguida de fotos dele.

A publicação foi compartilhada por diversas pessoas. Em uma delas, um rapaz diz que o idoso será cobrado sem pena. "Eu vo (sic) ser o primeiro a pega (sic) bolado. Mora perto da minha casa mesmo", dizia a postagem.

Amigos e familiares do idoso, no entanto, negam que isso tenha acontecido. Para eles, a publicação foi uma ação de alguém mal intencionado.

"Esse comércio citado na matéria, meu pai não abre desde que minha mãe faleceu, há 1 ano e três meses. Ela teve um câncer no esôfago e já estava em estágio avançado. Mesmo assim, era muito difícil alguma criança comprar lanches ali, porque só abria no meio da tarde", explicou a filha de Aluísio, a administradora da creche, Marcele Ribeiro Taylor de Souza, de 38 anos, que tem três filhas. 

A família, juntamente com um advogado, fez o registro de ocorrência online e aguarda o agendamento da delegacia. Na quinta-feira (7), eles foram até a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, que fica em Jacarezinho, porém, devido ao horário de funcionamento do local, não conseguiram fazer o boletim de ocorrência.

Com a falta de resolução da situação, eles temem que a 'fake news' se espalhe e acabe acontecendo o pior com o aposentado, como uma morte por represália.

"Eu estou há 52 anos no Catarina, todo mundo me conhece e todo mundo gosta de mim. Até hoje, sou conhecido como Baiano da Creche. Desde quarta-feira, eu não posso nem sair de casa, com medo de que alguém acredite nessas coisas que escreveram e queiram me matar", disse o aposentado.

O angolano Guylain Kodia, de 39 anos, tem uma filha de 1 ano e 8 meses, chamada Francisca João, que estuda na creche fundada por seu Aluísio. Ele conta que no local, há confiança e responsabilidade.

"Quando os pais levam seus filhos para um creche, tem que haver confiança, e eu sinto isso aqui. Gosto porque minha filha é bem tratada. Sempre venho para ver como estão as coisas e está tudo bem, até então. Estamos muito satisfeitos com o trabalho feito por aqui", declarou. 

A comerciante Daiene Brandão Silva, 28, tem três filhos, de 2, 5 e 8 anos. Todos estudaram na creche comunitária. "Hoje, apenas minhas filhas estão aqui, mas eu gosto e confio muito no trabalho dessa creche. As professoras são muito atenciosas com as crianças. Só tenho coisas boas para falar", disse. 

Creche foi fundada pelo aposentado - Aluíso, juntamente com sua família, é a segunda creche pública do município com berçário; a única do Jardim Catarina. 

Segundo o aposentado, a ideia veio após fazer uma despensa (local onde se guardar mantimentos) em uma creche no Rio. Após conversar com sua família, decidiram inaugurar a creche no Jardim Catarina, em um cômodo da própria casa, aberta em 1989.

O projeto conseguiu, inclusive, apoio financeiro da Alemanha. Foi com isso, que eles conseguiram, em 1993, um espaço próprio para a creche na Rua Florentino Giovani.

"Começamos com 24 crianças. Minha esposa abraçou a causa e tocamos o projeto. Tudo que tínhamos, investimos nisso aqui. Também tivemos muito apoio dos comerciantes local e moradores da própria comunidade. Meus filhos que hoje tocam o projeto e temos 110 alunos", explicou Aluísio.

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