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Terreiro de umbanda é atacado e incendiado em São Gonçalo

A mãe de santo e uma filha acabaram se ferindo

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 16 de outubro de 2019 - 14:41
A mãe de santo e uma filha acabaram se ferindo
A mãe de santo e uma filha acabaram se ferindo -

Daniela Scaffo 

Um terreiro de umbanda e magia cigana, localizado no Colubandê, em São Gonçalo, foi incendiado na tarde do último domingo (13), após uma sessão de Cosme e Damião. Esse é um dos primeiros casos de intolerância religiosa registrados na cidade.

A mãe de santo do terreiro, Alba de Oxóssy, teria iniciado uma reunião conhecida como gira, às 10h. Houve um café da manhã para a comunidade e distribuição de brinquedos para as crianças. Por volta das 15h, ela foi com os filhos de santo para uma varanda aos fundos do terreiro, momento em que o local foi incendiado. 

"Uma criança correu para contar para a mãe de santo o que fizeram com o terreiro. Quando ela chegou lá, em poucos segundos, já tinha queimado tudo.Toda a decoração da casa dela foi perdida, cortinas, além das imagens sacras do barracão, tudo foi perdido", explicou o presidente da Comissão de Matrizes Africanas de São Gonçalo (Comasg), pai Gilmar Hughes, conhecido como Gilmar de Oya. 

Artesã, Alba ainda perdeu peças da sua principal fonte de renda. Ela faz ciganas para vender, decoradas com lantejoulas e tecidos finos, que se perderam no incêndio. A perda, segundo a mãe de santo, é mais sentimental. 

"A perda é mais sentimental, pelo amor e pelo carinho que coloco ali no terreiro. Quem me acompanha, sabe que desde que minha yao faleceu, assumi o lugar dela, mas não quis ficar com o terreiro, então resolvi montar o meu. Estou há cinco anos montando o meu terreiro, mas não estava nem na metade do que queria. Agora, estou quase na estaca zero, porque a perda mesmo foi só no salão", declarou.

A mãe de santo ainda foi eletrocutada quando, acidentalmente, colocou a mão em um fio desencapado ao tentar apagar o incêndio. Uma filha santo também acabou se ferindo no incêndio. Ambas passam bem.

"Tudo foi muito rápido. Já tinha acabado a gira, a festa foi linda e tinha muitos convidados. A maioria das pessoas não presenciaram o fato, foram mais as pessoas do meu dia a dia, que me ajudam a arrumar o centro e estavam comigo na área ao lado. No momento que vi o fogo, que ouvi a gritaria, fui entrar para tentar apagar, e foi nesse momento que o fio desencapado embolou no meu pé. Minha filha de santo, muito assustada porque eu gritei que estava queimando, jogou um balde de água em mim. Ela também se queimou superficialmente, mas graças a Deus estamos todos bem", contou Alba. 

O acusado, um adolescente evangélico de 17 anos, contou que ele não teria colocado fogo no local, apesar de testemunhas terem flagrado. Ele explicou que entrou no terreiro apenas para retirar uma cafifa que caiu no local. 

O crime está sendo acompanhado pela Comasg, pelo Setor de igualdade racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Gonçalo, pelo Conselho Tutelar de São Gonçalo e pela Secretaria de Desenvolvimento de Direitos Humanos do Estado. O caso será registrado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), no Centro do Rio.

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