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Índice de violência aumenta em São Gonçalo durante Intervenção Federal

O estupro, por exemplo, cresceu 48% no período

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 06 de agosto de 2018 - 09:45
São Gonçalo registrou aumento em vários índices de violência durante os cinco primeiros meses de intervenção federal na área de Segurança Pública
São Gonçalo registrou aumento em vários índices de violência durante os cinco primeiros meses de intervenção federal na área de Segurança Pública -
Por Dayse Alvarenga,  Rennan Rebello e Bruna SoteroAssim como no Rio de Janeiro, São Gonçalo também registrou aumento em vários índices de violência durante os cinco primeiros meses de intervenção federal na área de Segurança Pública. Os crimes que apresentaram aumentos expressivos, de fevereiro a junho desse ano, em São Gonçalo, foram: roubos a residências (81%); autos de resistência (80%); roubo de cargas (52%) e estupro (48%). E segundo o Observatório da Intervenção, coordenado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (CESeC/Ucam), ainda há um outro dado negativo: Neves foi o 4º colocado no ranking estadual por bairro/região com os maiores números de mortes decorrentes de conflitos armados, os chamados autos de resistência, durante esse mesmo período.
Enquanto na cidade inteira foram registrados 74 autos de resistência, quase 30% foram em Neves, ou seja, 21 casos, em cinco meses de intervenção. O estado do Rio registrou, no mesmo período, um total de 609 autos de resistência. No ranking das cinco áreas com mais mortes decorrentes de conflitos com a polícia, Comendador Soares, Cabuçu e Km 32 estão em 1º lugar, com 25 casos. Os demais são os seguintes: 2º colocado -Areia Branca, Jardim Redentor, Parque São José, Nova Aurora e Lote XV, 24 ocorrências registradas; 3º - São João de Meriti, Coelho da Rocha e São Mateus, 23 registros e 5º - Acari, Barros Filho, Costa Barros, Parque Colúmbia e Pavuna, 19.Para o coordenador de pesquisa do Observatório e doutorando em Ciência Política, Pablo Nunes, o agravamento da violência se deve a uma falta de um serviço de inteligência por parte dos agentes da intervenção.“Esse crescimento da violência, mesmo sob intervenção federal, acontece pelo fato do novo comando da segurança pública não ter atacado os problemas que trazem insegurança, já que todos os índices que estão diminuindo um pouco são contra o patrimônio, como roubos de carga. Mas os crimes de auto de resistência e crimes praticados por policiais aumentaram de forma dramática. Com isso, podemos observar que não há uma política de inteligência para estruturar as polícias (militar e civil). A gente interpreta que essa intervenção não poderá resolver nosso problema por ser feita de maneira bruta e não democrática”, argumentou o pesquisador.Um roubo de cargas a cada quatro horasSão Gonçalo registrou, em média, um roubo de cargas a cada quatro/cinco horas, nos cinco meses da intervenção federal no comando da segurança pública do Rio. Ou em outras palavras, aumento de 52%: 447 casos em 2017 e 830 em 2018. O Estado do Rio, como um todo e no mesmo período, apresentou uma redução no número de casos em 10%, passando de 4.487 em 2017 para 4.059 em 2018. Outro aumento expressivo de crimes foi registrado em casos de estupro em São Gonçalo, ou seja, a cidade registrou no período em questão a média de um caso de violência sexual a cada 29 horas. O número de ocorrências registradas passaram de 83 de fevereiro a junho de 2017 para 123 no mesmo período desse ano. O índice estadual aumentou 15% no período referido, passando de 1.921 em 2017 para 2.217 em 2018. Nos cinco meses de intervenção, também foram registrados 49 casos de roubos a residência em São Gonçalo, enquanto no mesmo período 2017 foram 27 registros. Um aumento nesse crime de 52% de um ano para o outro. No estado, no entanto, houve um sutil aumento em relação a esse crime, isto é, no mesmo período registrado, passou de 527 em 2017 para 547 em 2018.Já os casos de autos de resistência em São Gonçalo registraram o maior aumento: 80% no período citado . Foram 41 casos registrados na cidade no período de janeiro a junho do ano passado, enquanto nesse ano foram 74. O que resulta numa média de uma vítima a cada dois dias no município. Em todo o Estado, o crescimento foi de 26% de 2017 para 2018: 482 casos no primeiro e 609 no segundo.Falta de diálogo com autoridades públicasO Observatório, que surgiu como uma estrutura independente com o intuito de questionar e fiscalizar as ações da intervenção federal - não mantém nenhum diálogo com a cúpula da Segurança Pública do Estado atualmente. Segundo Pablo Nunes, o grupo de pesquisa encontra até dificuldades para conseguir informações oficiais, ou seja, trabalha na maioria das vezes com fontes secundárias. “A gente alimenta o nosso banco de dados através de um monitoramento diário das ações da intervenção federal através da mídia impressa, portais de notícias e em páginas de redes sociais. Além de termos o nosso conselho de ativistas, também contamos com informações oficiais, mas estas, infelizmente, a gente segue tendo problemas em conseguir. Nós recorremos à Lei de Acesso a Informação mas a intervenção ignora nossa petição, assim como a Polícia Civil que ignorou todos os pedidos e a Militar, que só respondeu duas solicitações. A partir disso, começamos a a solicitar informações ao governo federal mas somos respondidos de maneira fracionada e incompleta. Eu vejo essa situação como bastante grave porque se é uma questão de segurança pública, as informações deveriam ser públicas. A gente entende que tem informações sigilosas mas queremos saber informações como o resultado de uma operação, por exemplo”, revelou.Após a coleta de dados, o Observatório da intervenção disponibiliza as informações através de relatórios e infográficos no site www.observatoriodaintervencao.com.br e em seus perfis oficiais no Facebook: @observatoriodaintervencaoRJ e Twitter: @ObsIntervencao, além de manter parceria com entidades que podem dar apoio a pessoas que se sintam vitimizadas por alguma operação. “Como o nosso trabalho é de monitoramento por meio de informações, a gente não acompanha e nem recebe ninguém que tenha sido vítima. Mas a gente conta com instituições parceiras, como a Anistia internacional que presta esse tipo de serviço, além de sempre entrarmos em contato com a imprensa como forma de fazer pressão”, explicou o coordenador do Observatório. Procurada para comentar sobre aumento dos crimes em São Gonçalo e o trabalho do Observatório, a Secretaria Estadual de Segurança Pública foi “genérica” em sua nota. “As estatísticas oficiais de criminalidade do Rio de Janeiro são provenientes dos registros de ocorrência lavrados nas delegacias de Polícia Civil do Estado do Rio e divulgadas mensalmente pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), de forma sistemática e transparente. Estes dados abastecem o planejamento estratégico para o monitoramento e combate à mancha criminal”.

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