IML do Rio intensifica necropsias após operação recorde: mais da metade dos corpos já foi analisada
Mutirão no Instituto Médico-Legal mobiliza familiares e autoridades; parlamentares e defensores públicos acompanham as perícias nesta quinta-feira (30)

Mais de 50% dos 117 corpos de suspeitos mortos durante a megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, realizada na última terça-feira (28), já passaram por necropsia e começaram a ser identificados no Instituto Médico-Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro do Rio. A liberação das vítimas para as famílias teve início ainda nesta quinta-feira (30).
Por envolver pessoas oriundas de outros estados, o IML solicitou acesso a bancos de dados nacionais para cruzar informações e confirmar as identidades de forma precisa.
Batizada de Operação Contenção, a ação é considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro, com 121 mortos confirmados, incluindo quatro policiais civis e militares.
Peritos do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) também atuam de forma independente, diante de denúncias de possíveis execuções e outras irregularidades nos confrontos.
O acompanhamento externo ocorre após o secretário da Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes, admitir que parte das gravações realizadas por câmeras corporais pode ter sido comprometida por falhas de bateria.
A operação mais letal do estado
A ofensiva, que mobilizou cerca de 2.500 agentes das polícias Civil e Militar, tinha como objetivo desarticular o Comando Vermelho e cumprir aproximadamente 100 mandados de prisão e 150 de busca e apreensão.
Os confrontos mais intensos ocorreram na Serra da Misericórdia, onde dezenas de corpos foram encontrados por moradores. Muitos foram levados até a Praça São Lucas, no Complexo da Penha, para facilitar o reconhecimento pelas famílias.
Moradores relatam cenas de desespero. “Moro aqui há quase 60 anos e nunca vi algo assim. Foi uma tragédia difícil de presenciar”, contou uma moradora. Outro residente comparou o cenário a uma catástrofe natural: “Parece um desastre, como um terremoto, com corpos espalhados por todo lado.”
Mesmo quem não perdeu parentes sente o impacto emocional. “Não é um dos meus, mas sou mãe. Imagino a dor de cada família”, desabafou uma mulher que aguardava informações no IML.
De acordo com a Polícia Civil, o acesso ao Instituto está restrito às equipes da corporação e do Ministério Público. Casos sem relação com a operação estão sendo direcionados ao IML de Niterói. Ainda não há previsão para a conclusão total das liberações.