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Complexo do Salgueiro, em SG, vira 'ratoeira mortal' para líderes do 'CV' em busca de esconderijo

Quatro acusados de chefiar o tráfico foram mortos nos últimos anos após aceitarem 'hospedagem' de Rabicó. Saiba quem são eles

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 27 de abril de 2023 - 19:52
'Léo 41', 'Fat Family', 'Vinte Anos' e 'Hello Kitty: todos foram mortos em ações da polícia no Complexo do  Salgueiro
'Léo 41', 'Fat Family', 'Vinte Anos' e 'Hello Kitty: todos foram mortos em ações da polícia no Complexo do Salgueiro -

Ao longo dos últimos anos, o Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, se consolidou como uma espécie de 'QG' do Comando Vermelho (CV), do lado de cá da Baía de Guanabara. Composto por oito comunidades, o 'G-8', como é popularmente conhecido, é formado por áreas de mata fechada, ruas sem pavimentação, o que dificulta o acesso de facções inimigas e da polícia, além de servir de rota de embarcações que escoam drogas pela Baía.

De acordo com relatórios dos setores de inteligência da Secretaria de Segurança pública do Estado, o local seria considerado como 'perfeito' pelos criminosos para abrigar os 'hóspedes' do 'Comando Vermelho' (CV) que precisam ficar fora de circulação por estarem na mira das autoridades, sempre com a autorização de um dos mais antigos líderes da facção: Antônio Ilário Ferreira, o Rabicó. Mas essa estratégia já começa a ser questionada, já que é cada vez maior, entre outros líderes ascendentes do CV, que o 'fogo amigo' esteja sendo usado para 'entregar' esconderijos e facilitar a localização de quem vem de fora para SG.

Churrasco - É o que teria acontecido na recente operação que resultou na morte do traficante Leonardo Costa de Araújo, o Léo 41, e outros 12 acusados de envolvimento com o tráfico, no último dia 23 de março, no Complexo do Salgueiro. De acordo com investigações, nas horas subsequentes à operação, as redes sociais de sites especializados em jornalismo policial receberam comentários contendo críticas aos traficantes do Salgueiro, dando a entender de que eles teriam aberto canais de denúncias e 'vazado' informações que culminaram com a descoberta do esconderijo de de Leonardo e outros acusados de seu grupo. 

Leonardo e mais 12 acusados de integrar o tráfico foram mortos na última grande ação policial no Salgueiro
Leonardo e mais 12 acusados de integrar o tráfico foram mortos na última grande ação policial no Salgueiro |  Foto: Sergio Soares
  

Circulam nessas redes sociais, informações de que no domingo, 22 de março, exatamente um dia antes da megaoperação em Itaoca, teria havido uma reunião entre lideranças do CV no local, com a presença de Rabicó. Após o encontro, pela manhã, teria sido servido, com fartura, churrasco e bebidas, entre a tarde e a noite, desse mesmo dia. Mas, já sem a presença do 'chefão', que teria deixado o local de forma discreta, após o encontro.    

Coincidências - As especulações de que alguém teria 'dado' o esconderijo de Léo 41, já haviam sido levantadas quando ocoreram as mortes de Rayane Nazareth Cardozo Silveira, a Hello Kitty, e Alessandro Luiz Vieira  Moura, o Vinte Anos, em dezembro de 2021, e de Nicolas Labre Pereira de Jesus, o Fat Family em setembro de 2016. Também nesses casos, os acusados morreram durante grandes operações da polícia, após terem seus esconderijos localizados, também em Itaoca, que definitivamente, começa a ficar como fama de 'lugar maldito'. 

'Hello Kitty' e 'Vinte Anos' também se escondiam no local
'Hello Kitty' e 'Vinte Anos' também se escondiam no local |  Foto: Divulgação
 

  Conexão 'Pará-Rio' - A polícia, na realidade, já sabia que Léo 41  já havia escolhido migrar para o Rio de Janeiro, em 2020, já em plena pandemia do coronavírus, não apenas por se sentir mais seguro, mas também pela possibilidade de aumentar o faturamento de sua quadrilha com o contrabando de armas e drogas vindos de países vizinhos à Região Norte do Brasil, fazendo do Pará' a base para a conexão com o Rio de Janeiro. Inicialmente, o Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio, considerado pela polícia, atualmente, o 'QG' do CV na capital, foi o escolhido para abrigar Leonardo e seus principais aliados. 

'Fat Family': acusado de ser um dos líderes do 'CV'
'Fat Family': acusado de ser um dos líderes do 'CV' |  Foto: Divulgação
  

"Mas quando os traficantes passaram a migrar do tráfico para ações mais violentas, de sequestros, roubos de carga e assaltos a comércios, na capital, como a invasão e o milionário roubo de jóias em um shopping de São Conrado, em 2022, em área nobre do Rio, acabaram por gerar uma mobilização maior da polícia no combate aos criminosos", afirmou uma autoridade da área de Segurança Pública que participou das investigações e descoberta da conexão Norte/Nordeste/Rio do tráfico.  

Polícia - A partir do assalto ao shopping, a Polícia Civil do Rio, através da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), e outros setores de inteligência do órgão, já haviam detectado a presença maciça de traficantes do Norte e Nordeste em comunidades cariocas, o  que gerou seguidas operações para o cumprimento de mandados de prisão em aberto de foragidos e repressão ao tráfico, principalmente no ano passado, quando vários foram mortos em confrontos. em 2022. Preocupado com seu destino no Complexo da Penha, no Rio, Léo 41 aceitou integrar a nova conexão do tráfico no interior do estado, a partir da intervenção de Rabicó, que segundo a polícia, seria o membro da cúpula do CV mais bem articulado com os traficantes da região Nordeste do Brasil. 

O passado de Antônio Ilário Ferreira revela a exata dimensão dessa relação, que já existia há anos, segundo investigações sobre o criminoso pelas polícias do Estado do Rio e da PF. Ao ser preso em 2008, dois anos após conseguir liberdade condicional, Rabicó foi localizado na cidade de  Mamanguape, na Paraíba, onde morava em área nobre, numa casa com piscina e sauna. Lá, se passava por dono de uma empresa de reciclagem de lixo e de uma oficina mecânica. Na época, já apontado como principal chefe do tráfico no Salgueiro, ele estava atuando, também, como 'matuto', enviando drogas, não apenas para seus redutos em São Gonçalo, mas também para outras comunidades dominadas por seus 'colegas' de facção. 

Léo 41 teria fortalecido as relações com Rabicó' e recebeu, então, apoio para tocar um plano de expansão do CV, a partir da base no Salgueiro, para cidades vizinhas. Segundo a polícia, foi dado a Léo 41 o direito de chefiar a venda de drogas em três regiões conquistadas no ano passado: Visconde de Itaboraí e Venda das Pedras, em Itaboraí, após a prisão de milicianos, e no Bairro da Amizade, em Maricá, depois da expulsão de  traficantes do TCP do local.

Fim da linha - As seguidas ações de assalto de Léo 41 na Rodovia BR-101, entre São Gonçalo e Itaboraí, acabaram também por atrair as forças policiais não apenas em operações de policiamento ostensivo, mas também em investigações. Circulando com identidade falsa, desde o início de 2023, e após as seguidas ações da polícia na Penha, ele só voltava ao seu reduto na Zona da Leopoldina carioca, quando era extremamente necessário. Seu abrigo e esconderijo seria, a partir de então, uma casa na bucólica Ilha de Itaoca, onde passava a maior parte do tempo na orla local. Mas, mal sabia ele que àquela altura, a polícia já havia avançado muito na tarefa de descobrir seu paradeiro. 

A megaoperação que culminou com sua morte e a de outros 12 acusados só foi montada quando a Polícia Civil do Pará, em parceria com a cúpula das polícias Civil e Militar do Rio, havia conseguido confirmar o local onde ele se escondia.

* Leia também : https://www.osaogoncalo.com.br/seguranca-publica/134056/apos-morte-de-leo-41-policia-fecha-o-cerco-na-conexao-do-cv-entre-o-para-rio-e-sg-video

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