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Família luta para provar inocência de ajudante de pedreiro preso em Niterói

Lucas de Lima Fagundes está preso desde dezembro de 2021. Ele é acusado de tentar roubar carro de dois motoristas de aplicativo

relogio min de leitura | Escrito por Daniel Magalhães | 22 de junho de 2022 - 17:43
Segundo a família, Lucas estava ferido em casa na noite das supostas tentativas de assalto
Segundo a família, Lucas estava ferido em casa na noite das supostas tentativas de assalto -

Familiares e amigos de Lucas de Lima Fagundes, de 20 anos, sofrem desde dezembro do ano passado com o que eles acreditam ser uma prisão injusta e um erro do sistema judicial motivados pela cor da pele do rapaz. O jovem foi preso no dia 10 dezembro de 2021 após um motorista de aplicativo ter informado à polícia que foi assaltado pelo jovem em uma madrugada de abril do último ano. Porém, de acordo com a mãe do rapaz, é impossível que o crime tenha sido cometido pelo seu filho, já que ele teria se ferido gravemente ao cair de moto no dia anterior e estava em casa de repouso. Hoje, mais de seis meses após a prisão, Lucas tem tido sua prisão preventiva prorrogada, sem sinal de quando será a audiência que pode definir seu futuro.

Lucas teria sido preso após uma sequência de eventos envolvendo dois motoristas de aplicativo que alegam que ele tenha assaltado um deles na madrugada de 26 de abril de 2021. De acordo com a mãe de Lucas, a diarista Ana Cláudia de Lima Salles, um passageiro solicitou uma corrida a um dos motoristas de aplicativo na altura do Baldeador, em Niterói. Ao chegar no local, a corrida era, na verdade, uma emboscada e o suposto passageiro tentou roubar o carro do motorista que, ao perceber que o assaltante não estava armado, entrou em luta corporal com ele. Após a briga, o assaltante fugiu e teria entrado em um beco sem saída.

"A primeira suposta vítima alega que recebeu uma chamada do aplicativo de uma tal de Sabrina pedindo que pegasse o primo dela no ponto de ônibus. Aí chegando no local, ele alega que a pessoa se apresentou a ele mostrando print da chamada e alegou que era o primo da tal Sabrina que chamou o aplicativo. Ele falou que no momento em que foi manobrar o carro, o suposto assaltante falou: 'Perdeu, corre sem olhar pra trás e deixa tudo.' O motorista percebeu que o assaltante não estava armado, aí entrou em luta corporal com o assaltante, por sua vez o assaltante fugiu e entrou num beco sem saída.", explicou a mãe do jovem.

Depois do suposto assaltante ter entrado em um beco sem saída, um outro motorista de aplicativo, que é conhecido do primeiro, teria se envolvido no caso após atropelar o assaltante uns 50 minutos depois após ele sair do mesmo beco com uma faca em punho, ter pulado na frente do carro e tentar assaltá-lo. Após o atropelamento, o motorista teria parado e ligado para o Corpo de Bombeiros para que prestasse socorro à vítima. Segundo o motorista, o Corpo de Bombeiros informou que não iria ao local por ser área de risco e, por isso, ele deixou o local achando que o assaltante estava morto. No caminho, ele teria encontrado uma ambulância do Samu, informado sobre o atropelamento e pedido para eles irem ao local do atropelamento. Ainda de acordo com ele, a equipe informou que ninguém foi encontrado lá.

Segundo a diarista, o crime não poderia ter sido cometido pelo seu filho, já que ele estava em casa, deitado, após ter se ferido ao cair de moto no início da noite do dia anterior, 25 de abril. 

"No dia 25 de abril de 2021, por volta de 19h-20h, meu filho sofreu um acidente aqui na pista, na altura da Nova Grécia, caindo de moto. Então automaticamente meu filho, por ter caído de moto e estar cheio de escoriações pelo corpo, foi apontado como quem tentou cometer os assaltos."

Mais adiante, no dia 29 de abril, a mãe de Lucas decidiu levar o filho ao hospital por conta das dores intensas que estaria sentido por conta da queda da moto. Para ir à unidade de saúde, o Hospital Estadual Azevedo Lima, no Fonseca, a mãe solicitou um carro de aplicativo. O pesadelo da família começou após um dos motoristas que teria sido, supostamente, assaltado ter sido solicitado para a corrida. Ele teria 'reconhecido' Lucas como o assaltante por conta do casaco que ele estava usando.

"No dia 29 de abril, eu resolvo chamar o carro de aplicativo para retornar com meu filho ao hospital porque ele estava com muitas dores, não estava conseguindo andar, levantar, a gente tinha que ficar dando banho, limpando ele em cima da cama, eu até achei que ele estivesse com as costelas quebradas. Quem veio? A primeira suposta vítima que alega ter entrado em luta corporal com meu filho, ele alega ter reconhecido o casaco e pela estatura e pela cor do meu filho, que é negro. Ele reconheceu pelo casaco que meu filho estava usando. Ele diz que, quando sentei com meu filho no banco, ele percebeu que meu filho estava com as pernas machucadas, só que meu filho não estava só com as pernas, ele estava com o braço, punho, pé, barriga, estava todo escoriado, todo machucado. Fora que meu filho tem por volta de 1,70m de altura, e o motorista diz que o assaltante devia ter 1,80m. O assaltante queria o carro, sendo que o meu filho não sabe dirigir e estava acidentado dentro de casa", completou Ana Cláudia.

Ainda segundo Ana Cláudia, o motorista teria tirado uma foto do filho dela e chamado o colega que teria atropelado Lucas para fazer o reconhecimento. No hospital, eles teriam conseguido os dados de Lucas e da mãe e levado para a delegacia.

"Chegando ao hospital, ele tira uma foto minha e do meu filho e chama o amigo para fazer o reconhecimento. Ao voltar ao hospital, eles não acharam meu filho e eu porque o atendimento foi rápido. No dia seguinte, eles foram no hospital e, através da ficha que fizemos lá, eles pegaram meus dados, os dados do meu filho - o que é ilegal - e levaram para a delegacia, alegando ter reconhecido meu filho."

Com isso, Lucas foi preso no dia 10 dezembro por policiais da delegacia de Brás de Pina (38ª DP). A mãe questiona o porquê do fato, sendo que a acusação foi feita na delegacia do Fonseca (78ª DP). Outro fato questionado pela família é que Lucas foi preso em flagrante em dezembro, sendo que o suposto crime aconteceu em abril.

"A acusação foi feita na delegacia 78º (Fonseca) e os policiais que vieram prender meu filho são da delegacia de Brás de Pina. Outra é que no processo eles alegam que meu filho foi preso em flagrante, não foi em flagrante porque tudo isso aconteceu em abril de 2021 e só resolveram vir prender meu filho em 10 dezembro de 2021, oito meses depois, então não houve flagrante", reclamou.

A família agora luta para tentar provar a inocência do ajudante de pedreiro, que tem tido a prisão prorrogada. Além disso, todas as audiências de instrução marcadas para resolver o caso são adiadas por algum empecilho e as próprias supostas vítimas não compareceram nos julgamentos e nem foram encontradas pela Justiça. Enquanto isso, Lucas permanece preso há mais de 6 meses.

Mãe diz que o filho é trabalhador e não se envolve em criminalidade
Mãe diz que o filho é trabalhador e não se envolve em criminalidade |  Foto: Filipe Aguiar
 

"Não acharam as pessoas que acusam meu filho, as supostas vítimas, não acharam eles em endereço nenhum, aí remarcaram para 14 de junho. Chegamos lá e a juíza alega que o advogado ligou avisando que não ia comparecer ao fórum porque estava com sintoma gripal. Não encontraram as vítimas, mas encontraram o advogado delas? A juíza também enrola o caso. Ela tem que dar a resposta sobre o parecer dela e ela enrola mais de 20 dias pra responder, ela responde praticamente no dia da audiência para que não tenha tempo dos advogados entrarem com pedido de habeas corpus. O advogado de Lucas entrou mais de uma vez com pedido de relaxamento da prisão, por excesso de tempo e por não encontrarem as vítimas duas vezes, então ele não apresenta perigo às vítimas, podendo responder o processo em liberdade. Por que estão segurando ele? É por que a gente é pobre, negro e morador de comunidade?", questionou a mãe.

Questionado, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro informou que "Há audiência de instrução e julgamento do caso marcada para o próximo dia 7 de julho. O Ministério Público se manifestou no processo, no dia 20 deste mês,  no sentido de que aguarda o comparecimento espontâneo de uma testemunha, cujos endereços foram diligenciados sem êxito, para informar se desistirá ou não dela."

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