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'Tiraram a vida de um trabalhador', lamenta filha de aposentado morto no Salgueiro

Versão da família é diferente da contada pela polícia

relogio min de leitura | Escrito por Daniel Magalhães | 31 de março de 2022 - 17:16
Filhas do aposentado estavam no hospital na tarde de hoje para ver o estado da mãe
Filhas do aposentado estavam no hospital na tarde de hoje para ver o estado da mãe -

"Tiraram a vida de um trabalhador, um senhor de idade, despedaçaram a minha família". Este é o triste relato de Tatiana Maia de Oliveira, filha do aposentado Valteres Pereira de Oliveira, que foi morto na noite da última quarta-feira (30) durante uma operação policial na comunidade do Recanto das Acácias, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. 

De acordo com a Polícia Militar, houve uma operação na localidade na última noite com o objetivo de retirar barricadas que foram colocadas às margens da BR-101, próximas ao posto da Polícia Rodoviária Federal. A equipe foi acionada para dar segurança durante a retirada dos bloqueios, mas acabou atacada por criminosos.

Os agentes reagiram, o que deu início a um intenso tiroteio na localidade. Ainda de acordo com a polícia, cinco pessoas foram baleadas. Duas delas seriam criminosos, que morreram no Hospital Estadual Alberto Torres (Heat). As outras três vítimas são o aposentado Valteres, que morreu ainda no local após ser atingido no abdômen; sua esposa, que foi internada no Pronto Socorro de São Gonçalo com um tiro no braço esquerdo, e a sobrinha, que levou um tiro na perna, mas já recebeu alta. Segundo a família, a esposa e a sobrinha foram levadas por vizinhos, já que a polícia teria negado a prestar socorro.

A versão das filhas do aposentado é diferente da contada pelos policiais. Segundo elas, não havia operação no local e o pai, que estava sentado na calçada com a família por conta do calor, foi atingido pelos agentes.

Emocionada, Tatiana conta a versão que difere da informada pela polícia
Emocionada, Tatiana conta a versão que difere da informada pela polícia |  Foto: Layla Mussi
 

"Não tinha confronto nenhum, ninguém correu. Quando tem tiro, todo mundo entra pra casa, ninguém fica na rua. Simplesmente chegaram e deram um tiro no meu pai, na minha mãe e na minha sobrinha.", contou Tatiene. "Meu pai estava na calçada, com a cadeirinha dele, tomando a cerveja dele, com a família. Eles simplesmente chegaram matando meu pai, que tava sentadinho no lugar dele, deram um tiro no abdômen dele e ele ficou ali mesmo, de bermuda e de chinelo de dedo.", completou.

Ainda na noite de quarta-feira (30), os familiares, parentes e vizinhos de Valteres fizeram um protesto na BR-101, ateando fogo em pneus e entulhos. De acordo com Tatiene, o motivo era que a polícia queria remover o corpo do aposentado ao IML apenas na manhã desta quinta-feira. Indignados, eles protestaram para que o corpo fosse levado na mesma noite.

"Fizemos a manifestação porque o corpo do meu pai estava no chão e eles queriam levar só hoje de manhã. Um trabalhador, um senhor de idade não vai ficar esperando até de manhã. Juntamos todos os moradores, fizemos uma manifestação na BR. Só assim a gente conseguiu que a perícia e o rabecão removessem o corpo do meu pai.", disse Tatiane, que completou dizendo que os policiais forjaram a cena do crime para que não restassem provas do ocorrido.

"Quando a perícia chegou, fizeram um grupinho, amontoaram, e começaram a catar as provas. Então perguntei ao perito se acharam alguma coisa e ele disse que não acharam nada. Como é que não acharam nada se mataram meu pai? Como é que aquela bala estava no meu pai? A gente tá lutando porque a gente quer justiça. Meu pai não é bandido, é um trabalhador que trabalhou todos esses anos pra se aposentar e agora que estava vivendo a aposentadoria dele vem um policial corrupto e tira a vida do meu pai.", finalizou Tatiele.

Tatiele diz que vai lutar para que o pai não seja enterrado como bandido
Tatiele diz que vai lutar para que o pai não seja enterrado como bandido |  Foto: Layla Mussi
 

O sepultamento do aposentado Valteres Pereira acontecerá às 13h desta sexta-feira (1º) no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo. A esposa do aposentado continua internada e, segundo a filha, ela pode perder o movimento do braço esquerdo devido ao tiro que levou. A sobrinha, que foi baleada na perna, recebeu alta e já está em casa.

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